São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Deputado do PFL afirma que presidente da siderúrgica combinou pagamento de R$ 150 mil; agência nega que tenha recebido dinheiro

SMPB repassou doação da Usiminas, diz Brant

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A SMPB, de Marcos Valério, foi usada para repassar uma doação de R$ 150 mil da Usiminas à campanha do deputado Roberto Brant (PFL-MG) a prefeito de Belo Horizonte em 2004. O dinheiro do candidato, derrotado na eleição, não está contabilizado na Justiça Eleitoral.
O próprio parlamentar pefelista admitiu à Folha a operação triangular para viabilizar a entrega do dinheiro, que teve uma parte retida pela agência para pagamento de despesas e de comissão.
"Esse dinheiro [identificado na quebra de sigilo bancário do Banco Rural] é verdadeiro. É da Usiminas. Quem me prometeu foi o presidente Rinaldo Campos Soares", disse Roberto Brant, acrescendo que o executivo da empresa informou que teria de fazer a doação "via SMPB".
A SMPB Comunicação, por meio da sua assessoria de imprensa, negou ontem que tenha recebido dinheiro da Usiminas, empresa siderúrgica que ela tem como um dos seus clientes. Segundo a agência, foi ela própria quem repassou os R$ 102.812,76 para a campanha de Brant, mas admitindo ser sem registro.
Já a assessoria da Usiminas informou que o presidente da empresa, Rinaldo Campos Soares, não ia fazer declarações. No início da noite, a siderúrgica passou, por telefone, o seguinte comunicado: "A empresa ainda não tem posição sobre o assunto".

Suspeita
A revelação do pefelista confirma a suspeita da CPI dos Correios de que as agências de Valério foram usadas por empresas do setor privado para repassar dinheiro a políticos sem se identificarem.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) já detectou diversas transferências eletrônicas de dinheiro para as contas das agências de Valério realizadas por grandes empresas, que não constariam da lista de clientes de publicidade do empresário.
Na avaliação de técnicos da CPI, essa é a origem real dos recursos passados a políticos do PT, PP, PL e PTB, e não os empréstimos bancários que teriam sido feitos por Valério em nome do PT.
A Usiminas, uma empresa siderúrgica de Minas, teria usado o mesmo esquema para fazer uma doação de cerca de R$ 350 mil a um candidato tucano a prefeito na cidade mineira de Nova Lima.
O tucano João Carlos Belo Lisboa, que também saiu derrotado da eleição, chegou a dizer à Folha que recebeu a doação por meio da SMPB. No início da noite, disse ter se confundido e garantiu que os recursos eram da agência.

Saque no Rural
A doação para Roberto Brant foi identificada pela CPI pelo saque de R$ 102.812,76, em 27 de agosto de 2004, feito no Banco Rural por Nestor Francisco de Oliveira -arrecadador de doações eleitorais na campanha de Brant.
O deputado explica a diferença entre os R$ 150 mil prometidos e o repasse efetivado de R$ 102.812,76. "O Cristiano Paz [sócio de Marcos Valério] explicou ao Nestor que teria de reter uma parte para pagar impostos e outras despesas de faturamento."
Ele acredita também que uma porcentagem se referia a uma comissão que a agência cobraria para fazer a operação de repasse.
Brant, que foi ministro da Previdência no governo FHC, explicou como se deu a negociação. Ele contou que o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, disse que queria apoiá-lo e prometeu os R$ 150 mil.
"Quando eu perguntei como faríamos para pegar o dinheiro, ele falou: "Vou fazer via SMPB, é só procurar o Cristiano Paz". Como na época a informação que tínhamos era de que se tratava de empresa idônea, mandei o Nestor pegar o dinheiro."
Segundo o deputado, Nestor procurou o sócio de Marcos Valério na SMPB. Na ocasião, Cristiano Paz teria dito: "Ele [Rinaldo Soares] já me ligou e disse para repassar o dinheiro".
O pefelista acredita que os cerca de R$ 48 mil retidos pela agência eram para bancar o pagamento de impostos referentes a nota fiscal que teria de ser emitida em nome da Usiminas para oficializar a entrada dos recursos na SMPB.
O dinheiro não está registrado na prestação de contas do candidato na Justiça Eleitoral. "Omiti realmente e o motivo foi que eles não me deram recibo."
Ele afirma assumir todas as responsabilidades pelo caso e que vai fazer a retificação de sua prestação de contas, declarando a doação em nome da Usiminas.

Tucano
Já no caso do candidato do PSDB à Prefeitura de Nova Lima, o dinheiro destinado à campanha eleitoral foi sacado pelo economista Newton Vieira Filho no Banco Rural da agência de Valério. Foram dois saques: R$ 171.354,60 e R$ 171.350,00, em 13 de agosto de 2004 e 21 de setembro do mesmo ano.
João Lisboa disse, por telefone, que o dinheiro era uma doação da Usiminas, que teria sido o maior financiador de sua campanha. "Isso vai ser esclarecido no momento certo. Mas não agora, pois querem misturar a dinheirama do PT com doações do PSDB".
No início da noite de ontem, Lisboa apresentou uma nova versão para os saques.
"Eu liguei para o Newton e ele me explicou direito. Sabe, durante uma campanha a gente vai a campo e acaba sem saber de detalhes técnicos", disse. Segundo Lisboa, Vieira Filho foi coordenador financeiro de sua campanha.
"O dinheiro foi doação da agência [SMPB] e não era da Usiminas", disse Lisboa. Segundo ele, a confusão ocorreu quando confirmou, no início da tarde, que a Usiminas era a principal doadora de sua campanha. Afirmou que estava se referindo a uma ajuda anterior da Usiminas à cidade. "A confusão foi em razão de os valores serem parecidos", disse.


Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte


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