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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Deputado do PFL afirma que presidente da siderúrgica combinou pagamento de R$ 150 mil; agência nega que tenha recebido dinheiro
SMPB repassou doação da Usiminas, diz Brant
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A SMPB, de Marcos Valério, foi
usada para repassar uma doação
de R$ 150 mil da Usiminas à campanha do deputado Roberto
Brant (PFL-MG) a prefeito de Belo Horizonte em 2004. O dinheiro
do candidato, derrotado na eleição, não está contabilizado na
Justiça Eleitoral.
O próprio parlamentar pefelista
admitiu à Folha a operação triangular para viabilizar a entrega do
dinheiro, que teve uma parte retida pela agência para pagamento
de despesas e de comissão.
"Esse dinheiro [identificado na
quebra de sigilo bancário do Banco Rural] é verdadeiro. É da Usiminas. Quem me prometeu foi o
presidente Rinaldo Campos Soares", disse Roberto Brant, acrescendo que o executivo da empresa informou que teria de fazer a
doação "via SMPB".
A SMPB Comunicação, por
meio da sua assessoria de imprensa, negou ontem que tenha recebido dinheiro da Usiminas, empresa siderúrgica que ela tem como um dos seus clientes. Segundo
a agência, foi ela própria quem repassou os R$ 102.812,76 para a
campanha de Brant, mas admitindo ser sem registro.
Já a assessoria da Usiminas informou que o presidente da empresa, Rinaldo Campos Soares,
não ia fazer declarações. No início
da noite, a siderúrgica passou, por
telefone, o seguinte comunicado:
"A empresa ainda não tem posição sobre o assunto".
Suspeita
A revelação do pefelista confirma a suspeita da CPI dos Correios
de que as agências de Valério foram usadas por empresas do setor
privado para repassar dinheiro a
políticos sem se identificarem.
O Coaf (Conselho de Controle
de Atividades Financeiras) já detectou diversas transferências eletrônicas de dinheiro para as contas das agências de Valério realizadas por grandes empresas, que
não constariam da lista de clientes
de publicidade do empresário.
Na avaliação de técnicos da CPI,
essa é a origem real dos recursos
passados a políticos do PT, PP, PL
e PTB, e não os empréstimos bancários que teriam sido feitos por
Valério em nome do PT.
A Usiminas, uma empresa siderúrgica de Minas, teria usado o
mesmo esquema para fazer uma
doação de cerca de R$ 350 mil a
um candidato tucano a prefeito
na cidade mineira de Nova Lima.
O tucano João Carlos Belo Lisboa, que também saiu derrotado
da eleição, chegou a dizer à Folha
que recebeu a doação por meio da
SMPB. No início da noite, disse
ter se confundido e garantiu que
os recursos eram da agência.
Saque no Rural
A doação para Roberto Brant foi
identificada pela CPI pelo saque
de R$ 102.812,76, em 27 de agosto
de 2004, feito no Banco Rural por
Nestor Francisco de Oliveira
-arrecadador de doações eleitorais na campanha de Brant.
O deputado explica a diferença
entre os R$ 150 mil prometidos e o
repasse efetivado de R$
102.812,76. "O Cristiano Paz [sócio de Marcos Valério] explicou
ao Nestor que teria de reter uma
parte para pagar impostos e outras despesas de faturamento."
Ele acredita também que uma
porcentagem se referia a uma comissão que a agência cobraria para fazer a operação de repasse.
Brant, que foi ministro da Previdência no governo FHC, explicou
como se deu a negociação. Ele
contou que o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares,
disse que queria apoiá-lo e prometeu os R$ 150 mil.
"Quando eu perguntei como faríamos para pegar o dinheiro, ele
falou: "Vou fazer via SMPB, é só
procurar o Cristiano Paz". Como
na época a informação que tínhamos era de que se tratava de empresa idônea, mandei o Nestor
pegar o dinheiro."
Segundo o deputado, Nestor
procurou o sócio de Marcos Valério na SMPB. Na ocasião, Cristiano Paz teria dito: "Ele [Rinaldo
Soares] já me ligou e disse para repassar o dinheiro".
O pefelista acredita que os cerca
de R$ 48 mil retidos pela agência
eram para bancar o pagamento de
impostos referentes a nota fiscal
que teria de ser emitida em nome
da Usiminas para oficializar a entrada dos recursos na SMPB.
O dinheiro não está registrado
na prestação de contas do candidato na Justiça Eleitoral. "Omiti
realmente e o motivo foi que eles
não me deram recibo."
Ele afirma assumir todas as responsabilidades pelo caso e que vai
fazer a retificação de sua prestação de contas, declarando a doação em nome da Usiminas.
Tucano
Já no caso do candidato do
PSDB à Prefeitura de Nova Lima,
o dinheiro destinado à campanha
eleitoral foi sacado pelo economista Newton Vieira Filho no
Banco Rural da agência de Valério. Foram dois saques: R$
171.354,60 e R$ 171.350,00, em 13
de agosto de 2004 e 21 de setembro do mesmo ano.
João Lisboa disse, por telefone,
que o dinheiro era uma doação da
Usiminas, que teria sido o maior
financiador de sua campanha.
"Isso vai ser esclarecido no momento certo. Mas não agora, pois
querem misturar a dinheirama do
PT com doações do PSDB".
No início da noite de ontem,
Lisboa apresentou uma nova versão para os saques.
"Eu liguei para o Newton e ele
me explicou direito. Sabe, durante uma campanha a gente vai a
campo e acaba sem saber de detalhes técnicos", disse. Segundo Lisboa, Vieira Filho foi coordenador
financeiro de sua campanha.
"O dinheiro foi doação da agência [SMPB] e não era da Usiminas", disse Lisboa. Segundo ele, a
confusão ocorreu quando confirmou, no início da tarde, que a Usiminas era a principal doadora de
sua campanha. Afirmou que estava se referindo a uma ajuda anterior da Usiminas à cidade. "A
confusão foi em razão de os valores serem parecidos", disse.
Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência
Folha, em Belo Horizonte
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