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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO
Delcídio rejeita acordo com publicitário no qual ele explicaria operação com o PT e, em troca, livraria Renilda de convocação
CPI decide convocar mulher de Valério
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Rejeitando acordo proposto pelo publicitário Marcos Valério
Fernandes de Souza, a CPI dos
Correios marcou para a próxima
terça-feira o depoimento da mulher dele, Renilda Santiago, e para
a semana seguinte o de Simone
Vasconcelos, diretora financeira
de uma de suas empresas.
O advogado de Valério, Marcelo
Leonardo, chegou a propor ao
presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que seu
cliente daria informações sobre as
operações financeiras realizadas
com o PT e, em troca, seria abandonada a idéia de convocação de
Renilda e Simone.
A preocupação do publicitário é
que as duas mulheres não agüentem a pressão dos parlamentares
e revelem detalhes do esquema.
De acordo com integrantes da
CPI, o estado emocional das duas
não é bom desde que o envolvimento de Valério surgiu.
As duas principais agências de
publicidade de Valério -a SMPB
e a DNA- estão no nome de Renilda. Já Simone é a responsável
pelo maior volume de saques, cerca de R$ 6 milhões, das contas de
Valério. Caberia a ela a distribuição de dinheiro a parlamentares e
a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Marcos Valério é acusado de lavar dinheiro para um suposto caixa dois do PT. Esse dinheiro também seria usado para pagar o
"mensalão" (mesada a parlamentares da base aliada, para votarem
de acordo com o interesse do governo). O publicitário já prestou
depoimento à comissão mas não
colaborou com as investigações e
até mentiu para os deputados.
Ontem, Delcídio expôs aos integrantes da CPI, em sessão a portas
fechadas, o acordo proposto pelo
publicitário. "O acordo com Marcos Valério foi rechaçado porque
seria interpretado como algo espúrio. Também não teríamos certeza de que seria cumprido. Ele
contaria apenas 10% a mais do
que já disse", afirmou o senador
Jefferson Péres (PDT-AM).
Parlamentares da oposição
também apostam na pressão causada pelo agendamento dos depoimentos das duas.
Para eles, Marcos Valério poderá fornecer mais informações nos
próximos dias, na iminência do
depoimento de Renilda.
A comissão também vai ouvir,
na primeira semana de agosto, o
policial civil David Rodrigues Alves, que sacou R$ 5 milhões das
contas da DNA Propaganda e da
SMPB Comunicação em agência
do Banco Rural, em Minas Gerais.
Entre os requerimentos aprovados ontem está o que solicita cópia ao STF (Supremo Tribunal Federal) da documentação encaminhada pelo juiz Jorge Macedo
Costa, da 4ª Vara da Justiça Federal de Minas. Há nesse material
uma lista de 120 beneficiados com
o dinheiro sacado das contas de
Valério, entre eles parlamentares.
Habeas corpus
Delcídio e o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), devem se encontrar hoje
com o presidente do STF, Nelson
Jobim, para pegar esse inquérito e
para falarem sobre a concessão de
habeas corpus para os convocados, o que permite que eles não
respondam às perguntas.
Serraglio, no entanto, afirma
que isso seria inócuo, já que haveria coerência na fundamentação
dos habeas corpus.
"A partir do momento que quebramos os sigilos bancário, fiscal e
telefônicos dos convocados eles
vêm depor automaticamente na
condição de investigados, então
mesmo sem habeas corpus eles
não podem ser obrigados a assinar termo de compromisso para
falar a verdade", disse o relator.
A CPI aprovou ainda a formação de uma comissão de sindicância para apurar o sumiço de documentos sigilosos.
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