São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO/ O PARTIDO

Assessora de deputado sacou R$ 470 mil da conta da SMPB, segundo a CPI; petista diz que dinheiro era para dívidas de campanha

Saque faz líder do PT na Câmara se afastar

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Paulo Rocha (PA) tornou-se ontem o sexto integrante da cúpula do PT a cair pelo escândalo do suposto "mensalão". Ele pediu afastamento do cargo de líder do partido na Câmara após a revelação de que sua assessora Anita Leocádia fez saques da conta da SMPB no Banco Rural, no Brasília Shopping.
Paulo Rocha saiu sem explicar a quantia exata que foi retirada por Leocádia da conta do publicitário Marcos Valério de Souza, sócio da SMPB e acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos operadores do esquema.
Há uma contradição entre o valor apurado pela CPI dos Correios, de R$ 470 mil, e o que Rocha diz ter sido sacado, de R$ 300 mil.
O deputado chegou a dizer que daria uma entrevista no meio da tarde para explicar a disparidade, mas recuou e a desmarcou sem dar explicações. Também não foi localizado por telefone nem em seu gabinete na Câmara.
Seguindo o roteiro de explicações do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e de Valério, Rocha declarou, em nota, que o dinheiro era para o pagamento de dívidas de campanha do diretório estadual paraense, que ele preside.
"Na qualidade de presidente do PT no Pará, solicitamos ao companheiro Delúbio Soares auxílio para a quitação de dívidas do partido no Estado. Para tanto foi disponibilizada a quantia de R$ 300 mil no ano de 2003", diz a nota.
Ainda segundo o comunicado: "Por orientação do companheiro Delúbio, os recursos foram retirados junto ao Banco Rural por minha assessora Anita Leocádia". O valor, segundo ele, foi todo direcionado para as dívidas.

"Constrangimento"
Em tese, Rocha está apenas licenciando-se da liderança, que assumiu há menos de seis meses. Seguindo a tradição do partido, ele exerceria a liderança por um ano, até fevereiro de 2006, quando a passaria a um colega.
"Diante do exposto e com a preocupação de não causar constrangimento ao PT e à bancada, estou me licenciando do cargo de líder até a próxima reunião da bancada, na primeira semana de agosto", disse o ex-líder.
Até lá, a bancada de 91 deputados federais permanecerá acéfala, com as questões administrativas resolvidas pelos 20 vice-líderes.
Ninguém no partido espera que o deputado retorne ao posto. Despontam como candidatos a líder os deputados Luiz Sérgio (RJ), Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Fernando Ferro (PE).
A situação de Rocha foi agravada por ele ter omitido, em um primeiro momento, os saques feitos pela assessora. Na semana passada, quando o nome de Leocádia veio à tona, ele disse apenas que a assessora havia visitado o Brasília Shopping para consultar-se em uma clínica médica.
"Como se tratava de responsabilidade que envolvia o coletivo partidário, aguardei o momento adequado para me pronunciar e esclarecer os fatos à sociedade."
Rocha anexou à nota parte do relatório de entradas do shopping, em que consta visita de sua assessora à clínica Queops no último dia 7 de janeiro, às 19h07.
O projeto político de Rocha de se candidatar ao governo do Pará no ano que vem também deve ser arquivado. Nos corredores da Câmara dos Deputados, a cassação do agora ex-líder é tratada como uma possibilidade concreta.

Efeito dominó
A queda de Rocha ocorre após a exoneração de toda a cúpula partidária. Primeiro caiu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado por Roberto Jefferson como mentor do suposto esquema do "mensalão".
Depois se afastaram o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, o tesoureiro Delúbio Soares, o presidente nacional do partido, José Genoino, e o secretário de Comunicação, Marcelo Sereno.
Para o deputado Luiz Sérgio, a contradição nos valores sacados por Anita Leocádia precisa ser investigada. "Se há uma diferença temos de ver o que aconteceu com o dinheiro. É preciso comprovar a origem e o destino."
O presidente do PT, Tarso Genro, reuniu-se ontem com os integrantes do partido que compõem a CPI dos Correios , com Rocha e com o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O encontro ocorreu na casa do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
Os petistas avaliaram que o depoimento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares não convenceu e que só aumentou o desgaste do governo e do partido. Eles dividiram ainda tarefas nos trabalhos da CPI e avaliaram o nome que substituirá Rocha. Henrique Fontana (RS) é um dos mais cotados.


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