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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO/ O PARTIDO
Assessora de deputado sacou R$ 470 mil da conta da SMPB, segundo a CPI; petista diz que dinheiro era para dívidas de campanha
Saque faz líder do PT na Câmara se afastar
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado Paulo Rocha (PA)
tornou-se ontem o sexto integrante da cúpula do PT a cair pelo
escândalo do suposto "mensalão". Ele pediu afastamento do
cargo de líder do partido na Câmara após a revelação de que sua
assessora Anita Leocádia fez saques da conta da SMPB no Banco
Rural, no Brasília Shopping.
Paulo Rocha saiu sem explicar a
quantia exata que foi retirada por
Leocádia da conta do publicitário
Marcos Valério de Souza, sócio da
SMPB e acusado pelo deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser
um dos operadores do esquema.
Há uma contradição entre o valor apurado pela CPI dos Correios, de R$ 470 mil, e o que Rocha
diz ter sido sacado, de R$ 300 mil.
O deputado chegou a dizer que
daria uma entrevista no meio da
tarde para explicar a disparidade,
mas recuou e a desmarcou sem
dar explicações. Também não foi
localizado por telefone nem em
seu gabinete na Câmara.
Seguindo o roteiro de explicações do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e de Valério, Rocha declarou, em nota, que o dinheiro
era para o pagamento de dívidas
de campanha do diretório estadual paraense, que ele preside.
"Na qualidade de presidente do
PT no Pará, solicitamos ao companheiro Delúbio Soares auxílio
para a quitação de dívidas do partido no Estado. Para tanto foi disponibilizada a quantia de R$ 300
mil no ano de 2003", diz a nota.
Ainda segundo o comunicado:
"Por orientação do companheiro
Delúbio, os recursos foram retirados junto ao Banco Rural por minha assessora Anita Leocádia". O
valor, segundo ele, foi todo direcionado para as dívidas.
"Constrangimento"
Em tese, Rocha está apenas licenciando-se da liderança, que
assumiu há menos de seis meses.
Seguindo a tradição do partido,
ele exerceria a liderança por um
ano, até fevereiro de 2006, quando
a passaria a um colega.
"Diante do exposto e com a
preocupação de não causar constrangimento ao PT e à bancada,
estou me licenciando do cargo de
líder até a próxima reunião da
bancada, na primeira semana de
agosto", disse o ex-líder.
Até lá, a bancada de 91 deputados federais permanecerá acéfala,
com as questões administrativas
resolvidas pelos 20 vice-líderes.
Ninguém no partido espera que
o deputado retorne ao posto. Despontam como candidatos a líder
os deputados Luiz Sérgio (RJ),
Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e
Fernando Ferro (PE).
A situação de Rocha foi agravada por ele ter omitido, em um primeiro momento, os saques feitos
pela assessora. Na semana passada, quando o nome de Leocádia
veio à tona, ele disse apenas que a
assessora havia visitado o Brasília
Shopping para consultar-se em
uma clínica médica.
"Como se tratava de responsabilidade que envolvia o coletivo
partidário, aguardei o momento
adequado para me pronunciar e
esclarecer os fatos à sociedade."
Rocha anexou à nota parte do
relatório de entradas do shopping, em que consta visita de sua
assessora à clínica Queops no último dia 7 de janeiro, às 19h07.
O projeto político de Rocha de
se candidatar ao governo do Pará
no ano que vem também deve ser
arquivado. Nos corredores da Câmara dos Deputados, a cassação
do agora ex-líder é tratada como
uma possibilidade concreta.
Efeito dominó
A queda de Rocha ocorre após a
exoneração de toda a cúpula partidária. Primeiro caiu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu,
apontado por Roberto Jefferson
como mentor do suposto esquema do "mensalão".
Depois se afastaram o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, o
tesoureiro Delúbio Soares, o presidente nacional do partido, José
Genoino, e o secretário de Comunicação, Marcelo Sereno.
Para o deputado Luiz Sérgio, a
contradição nos valores sacados
por Anita Leocádia precisa ser investigada. "Se há uma diferença
temos de ver o que aconteceu com
o dinheiro. É preciso comprovar a
origem e o destino."
O presidente do PT, Tarso Genro, reuniu-se ontem com os integrantes do partido que compõem
a CPI dos Correios , com Rocha e
com o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O
encontro ocorreu na casa do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT-SP).
Os petistas avaliaram que o depoimento do ex-tesoureiro do PT
Delúbio Soares não convenceu e
que só aumentou o desgaste do
governo e do partido. Eles dividiram ainda tarefas nos trabalhos
da CPI e avaliaram o nome que
substituirá Rocha. Henrique Fontana (RS) é um dos mais cotados.
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