DA REPORTAGEM LOCAL

Na tentativa de desvincular o PT da estratégia de defesa do ex-tesoureiro Delúbio Soares, o secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu ontem o fim das proteções judiciais que permitem que convocados por CPIs não respondam a perguntas que possam auto-incriminá-los. Além de Delúbio, o ex-secretário-geral petista Silvio Pereira e o publicitário Marcos Valério de Souza valeram-se do recurso em seus depoimentos à CPI dos Correios.
Para Berzoini, o fim dos habeas corpus preventivos pode "ampliar a capacidade de investigação" da comissão. "O ex-tesoureiro adota uma estratégia jurídica desvinculada da estratégia política do partido [PT]. É de responsabilidade deles [Delúbio e Silvio] a eventual falta de esclarecimento na CPI", afirmou. "Entendemos que não há razão nenhuma para adiar as investigações ou adotar procedimentos que obstruam a apuração dos fatos."
Integrantes da CPI pretendem conversar hoje com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, sobre as liminares que beneficiam os convocados.
Em seu depoimento à CPI, anteontem, Delúbio isentou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros dirigentes petistas de qualquer responsabilidade sobre as transações financeiras não declaradas. A oposição vê nesse discurso uma estratégia para preservar a cúpula petista.
"O PT não tem estratégia para ocultar a verdade, porque ela interessa ao partido, mesmo que atinja alguns de seus membros", rebateu Berzoini.
Segundo ele, "já existem indícios suficientes para comprovar movimentações suspeitas de recursos vinculadas a atividades políticas". "Em breve a CPI vai ter uma posição clara disso, se houve algum tipo de pagamento para mudança de posição [política de parlamentares em votações], o que seria muito grave para a democracia", disse o secretário.
Os dirigentes petistas vão se reunir hoje para analisar despesas do partido com advogados. Ontem, eles não souberam responder se há participação do PT no pagamento de honorários para as defesas de Delúbio e Silvio. Berzoini afirmou ser contra o pagamento de advogados para eles.

Saques
O PT não quis se pronunciar oficialmente ontem sobre o fato de uma de uma das funcionárias da sede do partido em São Paulo aparecer na lista de sacadores das contas de empresas de Marcos Valério. Solange Pereira Oliveira trabalha na secretaria de finanças do partido, comandada até pouco tempo atrás por Delúbio.
Segundo dados obtidos pela CPI, ela sacou, no dia 26 de março de 2004, R$ 100 mil de uma das contas sob investigação.
A assessoria do PT afirmou que o partido não iria se pronunciar sobre o assunto. De acordo com funcionários da sede petista, Solange foi trabalhar ontem. Na recepção, porém, a informação dada é a de que ela está em férias.
(CONRADO CORSALETTE)


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