|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dirceu diz que é "cabeça premiada"
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) completou ontem um mês de
retorno ao mandato na Câmara
dos Deputados. Figura freqüente
no plenário, corredores e gabinetes da Casa nas três primeiras semanas, Dirceu saiu de cena nos
últimos dias e tem dito a deputados ter consciência de que é o
"principal alvo de uma grande
disputa política", a "cabeça premiada" com a qual a oposição
quer culminar a atual crise.
Dirceu retornou em grande estilo à Câmara -com direito a recepção de colegas e galeria lotada-, em 22 de junho. No início,
dizia em conversas informais que
não estava preocupado com o
curso da crise, já que teria tranqüilidade sobre seus atos, e deu a
entender que mergulharia na articulação política para deslanchar
as votações na Casa.
O deputado compareceu a todas as 27 sessões deliberativas
ocorridas desde a sua volta, mas
nos últimos dias tem se dedicado
não a questões legislativas, mas a
uma cuidadosa articulação com o
objetivo de minimizar o estrago
da crise no PT e no governo.
O ex-ministro tem mantido
reuniões com um pequeno círculo de aliados, e tem conversas freqüentes por telefone com vários
parlamentares. Aos deputados,
tem dito que "não é chefe de nenhum esquema", como acusa Roberto Jefferson (PTB-RJ), seu
atual principal algoz político. Nas
conversas, repete o que disse à
Corregedoria da Câmara: "O
"mensalão" não é fato".
Jefferson também vem recebendo petebistas em seu apartamento
em Brasília e dá a entender a eles
que seu principal objetivo de vida
no momento é se preparar para
um tête-à-tête com Dirceu. "Ele
está guardando munição para a
acareação que ele quer ter com o
Dirceu", afirmou um petebista:
"Mas ele não diz que munição é
essa." Jefferson anunciou que pedirá na próxima semana a cassação do mandato de Dirceu no
Conselho de Ética da Câmara, local onde o ex-ministro prestará
depoimento no próximo dia 2.
O petebista diz que Dirceu era o
chefe do suposto esquema do
"mensalão" no Congresso, que
consistiria no pagamento pelo PT
de mesada a deputados do PP e do
PL em troca de apoio político no
Congresso.
Dirceu mantém o discurso de
que não tinha ascendência sobre
o PT como dizem que ele tinha.
Ele afirma que sua função era comandar a Casa Civil do governo e
que os dirigentes petistas não necessitavam, nem pediam, sua
bênção para agir.
O "sumiço" de Dirceu coincide
com a escalada das revelações de
que saques em dinheiro das empresas controladas por Marcos
Valério, o suposto "operador" do
"mensalão", teriam sido direcionados a figuras graúdas do PT.
Duas dessas revelações envolvem o "núcleo duro" de Dirceu: o
ex-presidente da Câmara João
Paulo Cunha (PT-SP) -cuja mulher, Márcia Milanésio, sacou R$
50 mil- e Paulo Rocha (PT-PA),
que pediu ontem o seu afastamento do cargo de líder do PT na
Câmara.
Uma assessora de Rocha sacou
das contas das empresas de Valério entre R$ 300 mil (segundo Rocha) e R$ 470 mil (segundo a CPI
dos Correios).
A Folha visitou o gabinete de
José Dirceu, no nono andar do
Anexo 4 da Câmara, no início da
tarde de ontem. Uma funcionária
informou que ele esteve no gabinete "rapidamente" pela manhã e
que estaria, naquele momento,
embarcando para São Paulo. Na
liderança do PT, local de freqüentes visitas suas desde o seu retorno, a informação é que Dirceu
não aparecia por lá desde quinta-feira da semana passada.
Texto Anterior: Berzoini pede fim de habeas corpus na CPI Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Hora das provas: Vice-presidente da GDK confirma ter dado carro a Silvio Índice
|