São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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Dirceu diz que é "cabeça premiada"

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) completou ontem um mês de retorno ao mandato na Câmara dos Deputados. Figura freqüente no plenário, corredores e gabinetes da Casa nas três primeiras semanas, Dirceu saiu de cena nos últimos dias e tem dito a deputados ter consciência de que é o "principal alvo de uma grande disputa política", a "cabeça premiada" com a qual a oposição quer culminar a atual crise.
Dirceu retornou em grande estilo à Câmara -com direito a recepção de colegas e galeria lotada-, em 22 de junho. No início, dizia em conversas informais que não estava preocupado com o curso da crise, já que teria tranqüilidade sobre seus atos, e deu a entender que mergulharia na articulação política para deslanchar as votações na Casa.
O deputado compareceu a todas as 27 sessões deliberativas ocorridas desde a sua volta, mas nos últimos dias tem se dedicado não a questões legislativas, mas a uma cuidadosa articulação com o objetivo de minimizar o estrago da crise no PT e no governo.
O ex-ministro tem mantido reuniões com um pequeno círculo de aliados, e tem conversas freqüentes por telefone com vários parlamentares. Aos deputados, tem dito que "não é chefe de nenhum esquema", como acusa Roberto Jefferson (PTB-RJ), seu atual principal algoz político. Nas conversas, repete o que disse à Corregedoria da Câmara: "O "mensalão" não é fato".
Jefferson também vem recebendo petebistas em seu apartamento em Brasília e dá a entender a eles que seu principal objetivo de vida no momento é se preparar para um tête-à-tête com Dirceu. "Ele está guardando munição para a acareação que ele quer ter com o Dirceu", afirmou um petebista: "Mas ele não diz que munição é essa." Jefferson anunciou que pedirá na próxima semana a cassação do mandato de Dirceu no Conselho de Ética da Câmara, local onde o ex-ministro prestará depoimento no próximo dia 2.
O petebista diz que Dirceu era o chefe do suposto esquema do "mensalão" no Congresso, que consistiria no pagamento pelo PT de mesada a deputados do PP e do PL em troca de apoio político no Congresso.
Dirceu mantém o discurso de que não tinha ascendência sobre o PT como dizem que ele tinha. Ele afirma que sua função era comandar a Casa Civil do governo e que os dirigentes petistas não necessitavam, nem pediam, sua bênção para agir.
O "sumiço" de Dirceu coincide com a escalada das revelações de que saques em dinheiro das empresas controladas por Marcos Valério, o suposto "operador" do "mensalão", teriam sido direcionados a figuras graúdas do PT.
Duas dessas revelações envolvem o "núcleo duro" de Dirceu: o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) -cuja mulher, Márcia Milanésio, sacou R$ 50 mil- e Paulo Rocha (PT-PA), que pediu ontem o seu afastamento do cargo de líder do PT na Câmara.
Uma assessora de Rocha sacou das contas das empresas de Valério entre R$ 300 mil (segundo Rocha) e R$ 470 mil (segundo a CPI dos Correios).
A Folha visitou o gabinete de José Dirceu, no nono andar do Anexo 4 da Câmara, no início da tarde de ontem. Uma funcionária informou que ele esteve no gabinete "rapidamente" pela manhã e que estaria, naquele momento, embarcando para São Paulo. Na liderança do PT, local de freqüentes visitas suas desde o seu retorno, a informação é que Dirceu não aparecia por lá desde quinta-feira da semana passada.


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