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JANIO DE FREITAS
O trio
Há sempre um trio. Se estamos na defesa, há o
trio atacante para incomodar.
Se estamos no ataque, há o trio
de arbitragem. Para quem gosta
do gênero, há o trio amoroso,
que, por sinal, acabou com o
Trio de Ouro, no tempo do rádio
patrocinado pelo Trio Maravilhoso Regina, sabonete, talco e
dentifrício. O trio dos Irmãos
Metralha é o de maior sucesso
no Brasil, com representantes
em todo lugar. Na sucessão presidencial já há dois trios: Itamar, Ciro e Brizola, que se declaram em frente eleitoral oposicionista, e há o trio dos que se
dizem fernandistas.
Dizem, só. Assim como os Três
Mosqueteiros eram quatro, o
trio de Fernando Henrique Cardoso não tem três, mas dois.
Sendo seu, haveria de ser contra
o crescimento.
Toda a história da candidatura Pedro Malan, pouco citada
na Folha, mas muito presente
em jornais que falam até de malanismo, é fabricada na Presidência. Fernando Henrique em
pessoa faz um trabalho direto,
explícito e insistente em meio a
grandes empresários paulistas
para induzi-los a crer que devem adotar a candidatura Malan.
Quem atente para as entrevistas de Fernando Henrique que a
Presidência está pedindo à mídia encontra, sempre, insinuações que se chocam com a possível candidatura José Serra. Na
entrevista mais recente, de domingo passado, Fernando Henrique é claramente maldoso,
com o argumento de que Serra é
bom candidato porque é estatizante. Isso também significa que
ele mesmo, Fernando Henrique,
desserve ao país porque é privatizante extremado, mas a pretensa condição atribuída a Serra é, aos olhos do grande empresariado, pior do que farpa, é
uma lâmina.
À parte velhas ciumeiras mútuas, idiossincrasias ou seja lá o
que for, Serra não poderia ser o
candidato de Fernando Henrique senão em último caso. Serra
é muito mais competente, informado das realidades e dos mecanismos de governo e Estado
do que Fernando Henrique. E,
caso único no grupo central do
governo, até trabalha. Ninguém
precisa dizer a Fernando Henrique a inconveniência de ter um
sucessor que, embora o proteja
de investigações e outros problemas, se ponha como um contraste administrativo com o seu
governo. Ainda com teses de associação entre baixa inflação e
crescimento econômico.
Pedro Malan se parece muito
com Fernando Henrique em
muitos aspectos. A mesmo dificuldade de decisão bem disfarçada. A vaidade que, bem distribuída, daria para um bairro inteiro. E o mesmo comprometimento com tudo o que (não) está sendo feito no país e caracteriza o atual governo. Mais do
que promessa, Malan é a garantia de continuidade e de continuísmo, que é tudo o que Fernando Henrique precisa para se
ver preservado, como político e
como pessoa, em alguma medida.
A alternativa para Malan é
Paulo Renato Souza. O que pensava, como economista, foi posto na seção de política econômica, de sua autoria, no programa
do candidato Fernando Henrique. O que pensa, desde que posto no governo em tudo contrário
ao programa, não se sabe. Nem
lhe foi perguntado, por inútil.
Sua docilidade a Fernando
Henrique lembra a de certos
quase-objetos domésticos. Inflamado grevista por salários
quando professor universitário,
subscreve o arrocho dos salários
de professores e o estrangulamento financeiro do ensino superior decididos por Malan, em
conformidade com o disposto
pelo FMI. Sua obra em quase sete anos no Ministério da Educação corresponde ao trabalho de
uns poucos meses. Ou de um só,
por quem trabalhasse mesmo.
Eis por que o trio de possíveis
candidatos governistas em que
Fernando Henrique investe tem
apenas dois.
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