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DISSIDÊNCIA
Pimenta da Veiga diz que ex-governador será julgado no futuro por sua atitude e "julgamento não será favorável"
Cúpula do PSDB aponta "traição" de Tasso
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A carta do ex-governador Tasso
Jereissati em que anuncia sua saída da campanha de José Serra
surpreendeu a cúpula do PSDB
apesar de todos os sinais emitidos
antes pelo tucano do Ceará e foi
considerada uma "traição", porque ele se havia comprometido a
apoiar a candidatura oficial formalmente até o final da eleição.
Tasso foi o orador que lançou o
nome de Serra na convenção nacional do PSDB. O ex-ministro
das Comunicações, Pimenta da
Veiga, foi para a chefia da campanha de Serra para atender Tasso.
O presidente do PSDB, José
Aníbal, declarou-se "desapontado" com a decisão de Tasso. Na
terça, ele falara com o ex-governador, e o tucano não dera a menor
indicação do que pretendia fazer.
"Eu sempre tive a expectativa de
que Tasso reafirmasse, como fez
em momentos anteriores, que a
candidatura dele à Presidência da
República era a candidatura do
PSDB. Infelizmente isso não
aconteceu", afirmou Aníbal.
Collor
Em carta endereçada a Tasso,
Aníbal foi duro, fazendo alusão ao
ex-presidente Fernando Collor.
No final, escreveu: "(...) Espero
que possamos, novamente, dialogar no sentido de manter o Brasil
no rumo seguro com a ação corajosa do PSDB, desde que garantimos a governabilidade do Brasil
num momento de crise, após a
aprovação do impedimento do
ex-presidente Collor, fato que
-espero- não volte a se reproduzir na história do Brasil.".
Serra e Pimenta também foram
surpreendidos. O coordenador da
campanha de Serra divulgou uma
nota em que dizia que Tasso seria
"julgado no futuro pela atitude, e
o julgamento não será favorável".
Pimenta leu a carta do ex-governador ontem de manhã.
A decisão de Tasso chegou na
fase em que a candidatura de José
Serra enfrenta seu momento mais
crítico e perde pontos nas pesquisas. Na carta, Tasso alega a amizade pessoal com Ciro Gomes (PPS)
para apoiá-lo.
Os tucanos se perguntavam ontem: a amizade não era a mesma
quatro anos atrás, na reeleição de
Fernando Henrique Cardoso?
FHC perdeu para Ciro no Ceará,
muito embora Tasso tenha passado a campanha toda dizendo que
apoiava o presidente.
Por não acreditar que Tasso tivesse essa iniciativa, Serra não foi
ao Ceará apoiar a candidatura do
senador Sérgio Machado (PMDB)
ao governo. Machado é desafeto
de Tasso no Estado. O peemedebista e Serra conversaram ontem.
Ainda não têm uma estratégia definida a seguir, mas Serra sente-se
liberado para apoiá-lo.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Júnior (BA), tentou minimizar os efeitos na campanha de Serra.
"A decisão de Tasso não tira nada da campanha, porque ele não
acrescentava nada. Todo mundo
sabe que ele não entrou na campanha", disse.
Em campanha pelo centro de
São Paulo, a mulher do presidenciável, Monica Serra, afirmou que
não estava surpresa.
"Isso mostra a coerência das
pessoas que mantêm suas posições, que é o que nós valorizamos", afirmou a psicóloga.
Para o coordenador-executivo
da campanha, Milton Seligman, a
carta de Tasso mostra que o sistema político no Brasil ainda é frágil, pois decisões referendadas pela maioria não são cumpridas.
"Fiquei chocado. Isso mostra
que ainda temos de dar passos
importantes para fortalecer a nossa democracia", afirmou.
Serra passou a manhã e parte da
tarde em seu apartamento em
Brasília, onde se reuniu com Jutahy e assessores. No final da tarde, embarcou para São Paulo para
gravar os programas de TV. Ele
não comentou a carta de Tasso.
Ao deixar o apartamento do
candidato, o líder do PSDB na Câmara disse que a carta de Tasso
não comprometeu o otimismo da
campanha com repercussões positivas da estréia do programa
eleitoral gratuito no dia anterior.
Eles consideraram positivos inclusive os ataques a Ciro, pois teriam mostrado o candidato "como ele é". Para o deputado federal, Serra vai "reverter" sua situação a partir do programa eleitoral.
Covas
Em resposta às críticas que recebeu de José Aníbal e Pimenta da
Veiga, após desligar-se oficialmente da campanha de José Serra
à Presidência e de encontrar-se
publicamente com Ciro Gomes
(PPS), Tasso Jereissati (PSDB)
comparou sua atitude a gestos de
Mário Covas.
"Para mim, a cara do PSDB é o
Covas. A coerência passa pela
transparência e pela clareza das
posições e acho que foi o que fiz",
afirmou o ex-governador. "Covas
teve atitudes como essa." Segundo o ex-governador, o grande julgamento é o voto.
Para Tasso, sua atitude foi para
"não atrapalhar", e não para
"atrapalhar" Serra.
(RAYMUNDO COSTA, RAQUEL ULHÔA, JULIA DUAILIBI E
LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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