São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISSIDÊNCIA

Pimenta da Veiga diz que ex-governador será julgado no futuro por sua atitude e "julgamento não será favorável"

Cúpula do PSDB aponta "traição" de Tasso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A carta do ex-governador Tasso Jereissati em que anuncia sua saída da campanha de José Serra surpreendeu a cúpula do PSDB apesar de todos os sinais emitidos antes pelo tucano do Ceará e foi considerada uma "traição", porque ele se havia comprometido a apoiar a candidatura oficial formalmente até o final da eleição.
Tasso foi o orador que lançou o nome de Serra na convenção nacional do PSDB. O ex-ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, foi para a chefia da campanha de Serra para atender Tasso.
O presidente do PSDB, José Aníbal, declarou-se "desapontado" com a decisão de Tasso. Na terça, ele falara com o ex-governador, e o tucano não dera a menor indicação do que pretendia fazer.
"Eu sempre tive a expectativa de que Tasso reafirmasse, como fez em momentos anteriores, que a candidatura dele à Presidência da República era a candidatura do PSDB. Infelizmente isso não aconteceu", afirmou Aníbal.

Collor
Em carta endereçada a Tasso, Aníbal foi duro, fazendo alusão ao ex-presidente Fernando Collor. No final, escreveu: "(...) Espero que possamos, novamente, dialogar no sentido de manter o Brasil no rumo seguro com a ação corajosa do PSDB, desde que garantimos a governabilidade do Brasil num momento de crise, após a aprovação do impedimento do ex-presidente Collor, fato que -espero- não volte a se reproduzir na história do Brasil.".
Serra e Pimenta também foram surpreendidos. O coordenador da campanha de Serra divulgou uma nota em que dizia que Tasso seria "julgado no futuro pela atitude, e o julgamento não será favorável". Pimenta leu a carta do ex-governador ontem de manhã.
A decisão de Tasso chegou na fase em que a candidatura de José Serra enfrenta seu momento mais crítico e perde pontos nas pesquisas. Na carta, Tasso alega a amizade pessoal com Ciro Gomes (PPS) para apoiá-lo.
Os tucanos se perguntavam ontem: a amizade não era a mesma quatro anos atrás, na reeleição de Fernando Henrique Cardoso? FHC perdeu para Ciro no Ceará, muito embora Tasso tenha passado a campanha toda dizendo que apoiava o presidente.
Por não acreditar que Tasso tivesse essa iniciativa, Serra não foi ao Ceará apoiar a candidatura do senador Sérgio Machado (PMDB) ao governo. Machado é desafeto de Tasso no Estado. O peemedebista e Serra conversaram ontem. Ainda não têm uma estratégia definida a seguir, mas Serra sente-se liberado para apoiá-lo.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Júnior (BA), tentou minimizar os efeitos na campanha de Serra.
"A decisão de Tasso não tira nada da campanha, porque ele não acrescentava nada. Todo mundo sabe que ele não entrou na campanha", disse.
Em campanha pelo centro de São Paulo, a mulher do presidenciável, Monica Serra, afirmou que não estava surpresa.
"Isso mostra a coerência das pessoas que mantêm suas posições, que é o que nós valorizamos", afirmou a psicóloga.
Para o coordenador-executivo da campanha, Milton Seligman, a carta de Tasso mostra que o sistema político no Brasil ainda é frágil, pois decisões referendadas pela maioria não são cumpridas.
"Fiquei chocado. Isso mostra que ainda temos de dar passos importantes para fortalecer a nossa democracia", afirmou.
Serra passou a manhã e parte da tarde em seu apartamento em Brasília, onde se reuniu com Jutahy e assessores. No final da tarde, embarcou para São Paulo para gravar os programas de TV. Ele não comentou a carta de Tasso.
Ao deixar o apartamento do candidato, o líder do PSDB na Câmara disse que a carta de Tasso não comprometeu o otimismo da campanha com repercussões positivas da estréia do programa eleitoral gratuito no dia anterior. Eles consideraram positivos inclusive os ataques a Ciro, pois teriam mostrado o candidato "como ele é". Para o deputado federal, Serra vai "reverter" sua situação a partir do programa eleitoral.

Covas
Em resposta às críticas que recebeu de José Aníbal e Pimenta da Veiga, após desligar-se oficialmente da campanha de José Serra à Presidência e de encontrar-se publicamente com Ciro Gomes (PPS), Tasso Jereissati (PSDB) comparou sua atitude a gestos de Mário Covas.
"Para mim, a cara do PSDB é o Covas. A coerência passa pela transparência e pela clareza das posições e acho que foi o que fiz", afirmou o ex-governador. "Covas teve atitudes como essa." Segundo o ex-governador, o grande julgamento é o voto.
Para Tasso, sua atitude foi para "não atrapalhar", e não para "atrapalhar" Serra. (RAYMUNDO COSTA, RAQUEL ULHÔA, JULIA DUAILIBI E LILIAN CHRISTOFOLETTI)



Texto Anterior: Folclore Político - Ronaldo Costa Couto: O eleito
Próximo Texto: "Se apunhalou, Tasso fez pela frente", diz FHC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.