São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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CANDIDATOS NA FOLHA/ ALCKMIN

Alckmin divide falha na segurança com FHC

Flávio Florido/Folha Imagem
Platéia assiste à entrevista com Alckmin; cerca de 200 pessoas compareceram ao evento, o segundo da série com os candidatos ao governo paulista



Governador critica atuação federal no combate ao crime, faz restrições a atitude de Tasso Jereissati e, numa alusão a Maluf, diz que seu lema é "Rota na rua e corrupto na cadeia"


DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), 49, candidato à reeleição, admitiu que não cumpriu em quatro anos a meta de redução da criminalidade com a qual havia se comprometido na campanha de 1998, quando era vice na chapa do governador Mário Covas, morto em março do ano passado. O tucano atribuiu parcela da falha ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem responsabilizou pela falta de combate ao tráfico de armas e drogas, que são atribuições federais. "[A meta] não foi cumprida. Quero reafirmar que há sim responsabilidades que são da esfera federal. Sabe quantos policiais federais operacionais existem no Estado? Não são 300", disse.
Alckmin participou ontem da série "Candidatos na Folha", no Teatro Folha, em Higienópolis (zona central de São Paulo), com cerca de 200 pessoas. Foi entrevistado por Fernando Canzian, secretário de Redação da Folha, Fernando de Barros e Silva, editor de Brasil, Nilson de Oliveira, editor de Cotidiano e Rogério Gentile, editor do Painel, além de leitores convidados.
O tucano disse "lamentar" a atitude do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que anteontem formalizou sua saída da campanha presidencial, alegando ser "natural aliado" de Ciro Gomes, candidato do PPS.
Após fazer várias alusões veladas ao adversário Paulo Maluf, do PPB, Alckmin foi explícito ao final do debate: "Temos uma grande diferença. O meu programa é Rota na rua e corrupto na cadeia".
Leia a seguir os principais trechos do debate. Hoje, o entrevistado é Paulo Maluf.

O governador Geraldo Alckmin abriu o debate expondo por que tenciona a obtenção de um novo mandato. "Sou governador há 18 meses, substituindo um grande homem público que foi o governador Mário Covas. Fui co-piloto durante 6 anos de um bom comandante, com aulas práticas de respeito ao dinheiro público, de compromisso popular, de falar a verdade, de austeridade e de eficiência na recuperação da administração pública paulista. Assumi o governo, sou responsável não só pelos acertos, mas inclusive também pelos erros, pelos problemas. Tenho absoluta responsabilidade nisso", iniciou.
"Há muito ainda por fazer, mas a casa está em ordem, arrumada para a gente pisar no acelerador no próximo mandato", declarou.
Alckmin afirmou que, se eleito, fará um "governo empreendedor", que priorizará o desenvolvimento, o emprego e a renda. Nas áreas de segurança, educação e saúde, afirmou que vai tomar como padrão o Poupatempo, projeto no qual o oferecimento de serviços públicos é centralizado e agilizado em um só local.

QUEDA NA AVALIAÇÃO
O secretário de Redação Fernando Canzian, como mediador, fez a primeira pergunta, lembrando a redução de sete pontos percentuais daqueles que avaliam o governador como ótimo/bom, taxa que caiu de 39% para 32%.
"A avaliação não é ruim. Você não leu a pesquisa Datafolha adequadamente. É muito raro um governador de São Paulo ter uma taxa de ruim/péssimo de 15%. Tenho a metade da rejeição de um dos candidatos e a menor dos candidatos, sendo governador do Estado. Sou sozinho para defender o governo, e todos os outros candidatos, até porque querem ser governador, batendo no governo. Ainda tem a mídia, na qual "bad news are good news" [más notícias são boas notícias]", declarou o tucano.

EXAUSTÃO TUCANA
O editor do Painel, Rogério Gentile, perguntou se não há uma exaustão contra os tucanos depois de oito anos de gestão. "Começar o horário eleitoral com 24%, 25% [nas pesquisas" é um nível bom. O governador Mário Covas ficava em terceiro ou quarto lugar [quando começou o horário gratuito". E ganhou a eleição. Às vezes, propostas populistas, demagógicas, sem compromisso com a verdade, têm, num primeiro momento, alguma resposta. Mas para isso existe a campanha eleitoral."
Gentile citou que Covas teve o apoio do PT no segundo turno e perguntou se Alckmin esperava o mesmo. "Não vou avaliar segundo turno, porque acho deselegante com os demais candidatos."

SERRA
O editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, lembrou o apoio que Alckmin recebeu de prefeitos do PTB, PDT e PPS, que têm Ciro Gomes como candidato a presidente, e perguntou se estaria colaborando com a "cristianização" de José Serra, numa referência ao candidato governista Cristiano Machado que, em 1950, acabou abandonado pelos aliados.
"Só tenho um candidato, o senador José Serra. Confio na sua eleição. Acho que tem todas as condições de ir ao segundo turno. É natural que tenhamos alguém de outro partido que nos apóie e não apóie Serra e vice-versa."

TASSO
Barros e Silva citou que, além de Alckmin, o ex-governador Tasso Jereissati, candidato ao Senado no Ceará, e Aécio Neves, que disputa o governo de Minas, criaram uma situação de dubiedade ao abrir palanque a apoiadores de outros candidatos, além de Serra.
"Os apoios são importantes, mas eleição majoritária é olho no olho. Ou você, no horário eleitoral, cria uma empatia com o eleitor -e isso vale para mim, não estou falando para os outros não, estou falando da minha candidatura- ou a responsabilidade é sua. É uma eleição na qual o eleitor não é comandado."
Gentile pediu a opinião de Alckmin sobre o fato de Tasso Jereissati ter abandonado a campanha de Serra. "Lamento. Agora acho que em política a gente não briga, a gente conquista."

META DE VIOLÊNCIA
O editor de Cotidiano, Nilson de Oliveira, afirmou que, em 1998, uma da promessas de Alckmin era reduzir os índices de criminalidade à metade da taxa daquele ano. Disse que as taxas atuais superam às do período citado e perguntou em que havia errado.
"Durante toda a década de 90, houve um aumento dos índices de criminalidade. É um problema mundial. São Paulo é a segunda metrópole do mundo, segunda região metropolitana do mundo, com enormes desigualdades de natureza social. Com péssima urbanização. Você tem todos os fatores aí de criminalidade presentes. O governo está trabalhando. Essa curva que vinha crescendo, parou de crescer e começa a cair. Se você analisar esse primeiro semestre, estamos tendo uma queda de homicídios, aqui na capital, de 10%. No Estado de São Paulo, mais de 8% de queda, comparando-se janeiro a julho deste ano com janeiro a julho do ano passado. Então, houve uma queda significativa no número de homicídios. Queda de roubo e furto de carro", afirmou.

NOVOS DADOS
Nilson de Oliveira afirmou que os dados de criminalidade divulgados no site da Secretaria da Segurança Pública, do primeiro semestre, não corroboravam as afirmações do governador.
Alckmin disse que tinha dados mais recentes e que não havia por que discutir o primeiro semestre. Canzian protestou pela demora com que os dados da criminalidade são tornados públicos.
"Na comparação do primeiro semestre de 2002 com o primeiro semestre de 2001, tivemos uma queda de homicídio doloso de 7,7%, no Estado. Na capital, caiu 10,4%. Roubo de veículo caiu 12,2%. Furto de veículo caiu 5,8%", afirmou.

META NÃO CUMPRIDA
Gentile insistiu se Alckmin considerava que a meta de reduzir a criminalidade à metade havia sido cumprida. "Não foi cumprida, por isso tenho cautela com questão de números. Tenho cautela com números. Acho que não foi cumprida. Agora começou a reduzir. Estamos trabalhando para que se chegue nesse número. Para reduzir mais", afirmou.
"A polícia está mais integrada, mais equipada, nós estamos chegando a 126 mil policiais no Estado de São Paulo. Quando o Mário Covas entrou, havia 72,9 mil."

USO ELEITORAL
Canzian afirmou que, em 2000, quando Alckmin era candidato a prefeito da capital, o governo do Estado entregou 4.428 viaturas, contra 371 em 1999. Disse que neste ano já foram entregues 2.104 contra 386 no ano passado e lembrou que Alckmin estava presente em 70% das cerimônias de entrega de viaturas. Perguntou se o tucano não fazia uso eleitoral de um problema que aflige a população.
"Viatura é um item. Talvez não seja nem o mais importante", escapou, sem abordar diretamente a questão.
Gentile referiu-se à expressão usada pelo governador -enxugar gelo- quando queixou-se da falta de ação na segurança do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O que eu disse e quero reafirmar é que há sim responsabilidades que são da esfera federal. Tráfico de arma e tráfico de droga são de responsabilidade federal. Sabe quantos policiais federais operacionais existem aqui no Estado? Não tem 300. No nosso sistema há 126 mil policiais. Sabe quantas armas nós apreendemos no ano passado? 40 mil armas. Sabe quanto apreendemos no primeiro semestre? Quase 20 mil armas. De onde é que estão vindo essas armas? Por onde é que estão entrando?", declarou.

RODOANEL
Barros e Silva afirmou que o contrato das obras de construção do Rodoanel (anel viário da região metropolitana) sofreu aditamentos de quase 70%, quando o permitido por lei são 25%, e custou R$ 237 milhões a mais do previsto. Disse que a alegação oficial foi que o aumento se deve a razões técnicas. O editor perguntou se houve incompetência do Estado na elaboração do contrato original da empreitada.
"Não foi licitado um projeto executivo detalhado. Tanto é que hoje nenhuma obra do governo deixamos licitar se não tiver projeto executivo detalhado. Não houve nenhum aumento de preço. O preço era excepcional. Tanto é que o Rodoanel é a obra mais barata do país comparando o chamado quilômetro equivalente. Os preços são os mesmos, não houve nenhum aumento, houve serviço a mais", afirmou.

JARDIM IRENE
Uma leitora perguntou se Alckmin andaria sozinho à noite no Jardim Irene, bairro mais violento de São Paulo. "Estive lá pessoalmente porque o Cafu, nosso campeão, criou uma fundação da qual o Estado é parceiro. Se houver necessidade, eu vou, nenhum problema."

PEDÁGIO
O leitor José Eduardo de Andrade afirmou que o custo do pedágio de São Paulo a Ribeirão Preto é R$ 37 reais. Perguntou se o governador não considerava abusivo o valor dos pedágios.
"É uma opção política. Eu quero fazer a segunda pista da Imigrantes em vez de fazer hospital , fazer escola e saneamento básico? Qual é mais justo? Quem usa paga. Quem usa mais paga mais, quem usa menos paga menos. É justo que a segunda pista da Imigrantes, que fica pronta agora em dezembro, seja paga pela dona Maria que mora no Pontal do Paranapanema, que não tem carro, não vai para a praia? Ela paga por meio do ICMS quando compra uma roupa, um alimento."
Gentile afirmou que outra promessa de campanha de 98 foi atingir em 2002 87 quilômetros de metrô e lembrou que a extensão de hoje se limita a 49,2 km. "Nosso compromisso é esse. Expandir o metrô. Ter 49 km até agora é muito pouco."

REPETÊNCIA ESCOLAR
Um leitor perguntou se Alckmin manterá a chamada progressão continuada, na qual um aluno não é reprovado caso compareça às aulas. "Fico admirado de ver o candidato do PT e o Maluf juntos nisso, porque quem implantou a progressão continuada, em outros moldes, foi o PT. Foi o educador Paulo Freire com a prefeita Luiza Erundina. E foi mantido pelo Maluf, pelo Pitta, pela dona Marta, por todo mundo. Acho que vai ser um retrocesso acabar com a progressão continuada."
Um leitor perguntou se algum filho de Alckmin estuda em escola pública. "Nenhum filho meu estuda ou estudou em escola pública. Até digo com sinceridade: é que em casa a minha mulher manda muito. Porque, se eu mandasse um pouco mais, eu teria colocado na escola pública. Eu estudei em escola pública. Não sou tão velho assim, embora esteja ficando careca. A escola pública teve uma evolução. Hoje só não estuda quem não quer. Há oferta de vagas para estudar. O esforço agora é melhorar a qualidade."
Gentile perguntou qual o argumento da primeira-dama para não colocar os filhos em escola pública. "Há escola particular melhor que a pública, mas também há pior. Não vamos achar que escola particular é essa coisa maravilhosa também."

RELAÇÃO COM O PT
Um leitor perguntou como Alckmin avaliava a gestão de Marta Suplicy (PT) em São Paulo e se havia se arrependido de ter apoiado sua eleição. "Tenho por obrigação evitado ficar fazendo avaliação da Prefeitura de São Paulo. Acho que quem tem que avaliar é o povo. Não me arrependo um minuto, mas um minuto [de ter apoiado Marta". Temos divergências com o PT, mas o grande divisor de águas é uma política velha, atrasada, que quebrou a cidade de São Paulo, e o povo não vai deixar quebrar o Estado não . Eu apoiaria a Marta Suplicy dez vezes se fosse necessário."
Canzian encerrou o debate perguntando o que Alckmin acha de o colunista da Folha José Simão chamá-lo de "picolé de chuchu diet". "Sou leitor do Zé Simão. Bom humor é uma coisa boa. Bernard Shaw [escritor irlandês] dizia que o estado de permanente bom humor é prova de inteligência. Gosto muito de sorvete, não gosto tanto de chuchu", afirmou o governador.



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