São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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VOCAÇÃO ELEITORAL

Arthur Victor Brenneisen, 75, recebeu até placa em homenagem ao serviço eleitoral prestado

Mesário há 45 anos se orgulha da função

UIRÁ MACHADO
DA REDAÇÃO

"Prometo solenemente, perante Deus e a Justiça Eleitoral de meu país, fazer tudo o que estiver ao meu alcance para bem cumprir as obrigações inerentes ao exercício do meu cargo (...)." Esse é um trecho do Compromisso do Mesário, escrito por Arthur Victor Brenneisen, 75, mesário há 45 anos, 35 votações.
"Ele é o nosso símbolo", dizem os funcionários do cartório da 248ª zona eleitoral, no bairro de Itaquera (SP), no qual Brenneisen é mesário desde 1986. Antes, trabalhou em Guaianazes, onde começou, em 1959, a prestar os serviços eleitorais.
"Comecei por acaso", diz Brenneisen. Ele conta que, quando foi transferir o título de Limeira para São Paulo, encontrou uma fila muito grande. "Um amigo do TRE (Tribunal Eleitoral Regional) me levou para uma fila menor. Quando vi, tinha transferido o título, mas também tinha virado mesário."
Brenneisen diz ter continuado como mesário nas eleições seguintes porque fez "amizade com o pessoal". Depois, "pegou gosto". Hoje, ele conta com orgulho que já "recebe" os netos dos primeiros votantes. O que lhe deixa mais vaidoso é a placa que recebeu como homenagem quando completou 40 anos de serviço eleitoral.
Em todo esse tempo, ele diz que a eleição mais marcante foi a de 2000: "Esqueci de votar".
Enquanto Brenneisen se sente "muito gratificado" a cada votação, o estudante Tomás Fagundes Lellis Vieira, 22, sente raiva. "Não concordo com ter que votar, muito menos com ter que trabalhar. Se quem vota não quer votar, e se quem trabalha não quer trabalhar, o resultado só pode ser ruim", diz ele, que será mesário pela terceira vez.
Assim como Tomás, sua irmã Mariana, 20, não gosta da função. Ambos são mesários no bairro Jardins e reclamam de perder o dia inteiro. Para eles é "desagradável" ver que pessoas chegam para votar saídas "do clube, com o cabelo molhado e biquíni por baixo".
Entre os extremos, há os que não gostariam de ser mesários, mas não reclamam. "É ruim trabalhar no domingo, mas quando estou lá, até me entretenho", afirma o advogado Luis Henrique da Conceição Costa, 23.
Costa diz que gosta de observar os eleitores: "Acho interessante pessoas idosas ou com deficiências físicas que, mesmo com dificuldades, fazem questão de votar. É exemplo de civismo".
O civismo também chamou a atenção do curitibano Dante Oguido, 19, criador da comunidade "Mesário: uma questão de honra", no site Orkut, que já tem sete comunidades sobre o assunto. A maior delas -79 membros, até sexta-feira- é destinada aos que "não estão nada contentes" com a convocação.


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