São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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NO AUGE DA CRISE

Ministério da Estabilidade da Moeda foi descartado; colegas temiam pela saúde do executivo

Governo cogitou criar pasta para Meirelles

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, quase foi nomeado para uma nova pasta -o Ministério Extraordinário da Estabilidade da Moeda. A medida foi discutida no auge da crise em que a lisura de seu patrimônio foi questionada.
Como ministro da Estabilidade da Moeda, Meirelles acumularia o cargo com a presidência do BC e teria foro privilegiado. A alternativa foi vista como casuística e folclórica. Outra opção era dar foro privilegiado ao presidente do BC, sem elevá-lo ao status de ministro. Aconselhado pelo ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), o governo optou pela solução mais simples e na segunda-feira foi publicada numa edição extra do "Diário Oficial" da União uma medida provisória conferindo ao presidente do BC o status de ministro.
Apesar de ter ganhado força a partir de meados de julho, a "crise Meirelles" é antiga. Ele pedia desde o início do governo o foro privilegiado. Há uns seis meses, numa reunião entre Lula e o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), ficou decidido que ele seria atendido, mas Palocci se esqueceu de tocar o assunto.
No mês passado, quando começou um bombardeio de reportagens questionando operações patrimoniais do presidente do BC, Meirelles voltou a pressionar Palocci. O ministro procurou Lula, que ficou chateado por ele não ter resolvido o assunto antes. Lula disse que, no auge da crise, não adotaria a medida.
Decepcionado, Meirelles ficou emocionalmente abalado. Colegas de governo relataram que temiam que ele tivesse até um problema sério de saúde. Preocupado, Palocci articulou um café da manhã de Meirelles com ele, Lula, Bastos, José Dirceu (Casa Civil) e o senador Aloizio Mercadante (SP). Meirelles obteve a promessa de que seria blindado quando a crise acalmasse.
Mas, em 12 de agosto, uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público para apreender documentos na Caixa Econômica Federal assustou Meirelles. No dia seguinte, ele disse a Palocci, segundo a Folha apurou: "Vão fazer isso no Banco Central. Imagine a repercussão".
Ciente de que Lula viajaria ao exterior, Palocci pediu para Lula deixar uma MP assinada. No domingo passado, Meirelles convenceu Palocci, Dirceu e Bastos a bancarem a MP. No dia seguinte, Lula foi consultado por telefone. Deu sim, mas pediu que Dirceu falasse com o vice José Alencar, então presidente interino. Alencar disse a Dirceu que assinaria sem problemas a MP, mas acatou a solução da edição extraordinária do "Diário Oficial". Passada a repercussão negativa, que já era esperada, um membro da cúpula do governo disse à Folha que achava que o preço político seria maior do que foi. (KENNEDY ALENCAR)


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