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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A DEFESA DO MINISTRO
Ministro afirma que política econômica resistiria a turbulências mesmo com sua saída
Palocci diz que fica no cargo, mas que não é insubstituível
GUSTAVO PATU
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em entrevista coletiva convocada para responder às acusações de
ter cobrado propina na Prefeitura
de Ribeirão Preto, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que colocou o cargo à disposição, mas, por orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
permanecerá no governo. Ressalvou insistentemente, porém, que
não é "insubstituível".
As declarações de Palocci se
apoiaram em dois eixos principais, ambos com o nítido propósito de acalmar o mercado: primeiro, o ministro se dispõe a esclarecer todas as acusações já feitas e eventuais fatos novos; segundo, mesmo que deixe o cargo, a
política da Fazenda não será mudada, e a economia poderá resistir
a turbulências.
No pronunciamento de cerca de
meia hora que fez antes das perguntas dos jornalistas, Palocci relatou ter tomado a iniciativa de telefonar ao presidente Lula pela
manhã para colocar seu cargo à
disposição.
"O presidente Lula pediu que eu
transmitisse a vocês a sua decisão:
ele não deseja que eu saia do Ministério da Fazenda, ele disse que
não autorizará o meu afastamento, mesmo temporário", disse o
ministro. Conforme a Folha noticiou no sábado, Lula disse a assessores que "o governo acaba" se
Palocci sair.
Palocci se recusou a responder
se, pessoalmente, havia considerado melhor seu afastamento. De
início, disse tratar-se de uma
questão "subjetiva"; depois, que
uma decisão dessa natureza cabia
apenas ao presidente.
Sua preocupação principal foi
afirmar que, em qualquer hipótese, a política econômica ortodoxa
não será alterada.
Na sexta-feira, quando veio à tona a acusação de Rogério Buratti
-ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto- de que o hoje ministro e então prefeito recebia
propina de empresa de coleta de
lixo, o mercado desabou: o dólar
teve alta de 2,94%, a maior em 15
meses; o risco-país subiu 3,2% e a
Bovespa caiu 0,95%.
"Não tenho apego a cargo"
Os números deixam implícito o
temor de que, com o enfraquecimento de Palocci, o governo possa ceder às pressões pelo afrouxamento das políticas de controle da
inflação e dos gastos públicos
-ou de que um novo ministro
não tenha influência suficiente
sobre Lula para manter essa
orientação. Foi a essa incerteza
que Palocci procurou responder.
"Jamais vou utilizar a sensibilidade da área econômica para sustentar cargos. Não tenho apego a
cargos. (...) Jamais vou dizer que a
economia corre riscos sem mim",
disse. "Essa política é garantida
pelo presidente Lula desde antes
de sua posse, depois de sua vitória
eleitoral e a cada dia que fala da
política econômica."
Ou, em resumo: "Ninguém é insubstituível, eu estou entre esses, e
disse isso com clareza ao presidente Lula".
O ministro também aproveitou
todas as oportunidades que teve
para discorrer sobre os indicadores favoráveis da economia. Suas
respostas mais longas foram as
que envolveram os resultados das
contas externas, da geração de
empregos formais, da estabilidade monetária.
Embora tenha evitado críticas
diretas ao governo FHC (1995-2002), disse que o governo petista
assumiu "nas piores condições
possíveis" e repetiu a tese segundo a qual a vulnerabilidade a crises externas e domésticas é muito
menor do que antes.
Palocci disse que tampouco o
governo pretende tornar mais dura a política econômica para tranqüilizar os mercados. Nos bastidores, o ministro vem -ou vinha- articulando a proposta de
elevar a meta de superávit primário (a parcela da arrecadação destinada a abater a dívida pública),
hoje de 4,25% do PIB (Produto
Interno Bruto). O maior adversário da proposta é o próprio PT.
Em suas declarações mais explícitas sobre a crise política até aqui,
o ministro rejeitou o discurso de
que haveria uma orquestração
contra o governo e o PT, já repetido por Lula e outros líderes petistas. Afirmou, porém, que "aproveitadores e apressadinhos" tentam se beneficiar da situação.
"O PT passa por uma situação
gravíssima", disse, ao desculpar o
tom "duro, mas não ofensivo" da
cobrança pública, de explicações
sobre as denúncias, feita pelo secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP).
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