São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A DEFESA DO MINISTRO

Ministro afirma que política econômica resistiria a turbulências mesmo com sua saída

Palocci diz que fica no cargo, mas que não é insubstituível

GUSTAVO PATU
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em entrevista coletiva convocada para responder às acusações de ter cobrado propina na Prefeitura de Ribeirão Preto, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que colocou o cargo à disposição, mas, por orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, permanecerá no governo. Ressalvou insistentemente, porém, que não é "insubstituível".
As declarações de Palocci se apoiaram em dois eixos principais, ambos com o nítido propósito de acalmar o mercado: primeiro, o ministro se dispõe a esclarecer todas as acusações já feitas e eventuais fatos novos; segundo, mesmo que deixe o cargo, a política da Fazenda não será mudada, e a economia poderá resistir a turbulências.
No pronunciamento de cerca de meia hora que fez antes das perguntas dos jornalistas, Palocci relatou ter tomado a iniciativa de telefonar ao presidente Lula pela manhã para colocar seu cargo à disposição.
"O presidente Lula pediu que eu transmitisse a vocês a sua decisão: ele não deseja que eu saia do Ministério da Fazenda, ele disse que não autorizará o meu afastamento, mesmo temporário", disse o ministro. Conforme a Folha noticiou no sábado, Lula disse a assessores que "o governo acaba" se Palocci sair.
Palocci se recusou a responder se, pessoalmente, havia considerado melhor seu afastamento. De início, disse tratar-se de uma questão "subjetiva"; depois, que uma decisão dessa natureza cabia apenas ao presidente.
Sua preocupação principal foi afirmar que, em qualquer hipótese, a política econômica ortodoxa não será alterada.
Na sexta-feira, quando veio à tona a acusação de Rogério Buratti -ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto- de que o hoje ministro e então prefeito recebia propina de empresa de coleta de lixo, o mercado desabou: o dólar teve alta de 2,94%, a maior em 15 meses; o risco-país subiu 3,2% e a Bovespa caiu 0,95%.

"Não tenho apego a cargo"
Os números deixam implícito o temor de que, com o enfraquecimento de Palocci, o governo possa ceder às pressões pelo afrouxamento das políticas de controle da inflação e dos gastos públicos -ou de que um novo ministro não tenha influência suficiente sobre Lula para manter essa orientação. Foi a essa incerteza que Palocci procurou responder.
"Jamais vou utilizar a sensibilidade da área econômica para sustentar cargos. Não tenho apego a cargos. (...) Jamais vou dizer que a economia corre riscos sem mim", disse. "Essa política é garantida pelo presidente Lula desde antes de sua posse, depois de sua vitória eleitoral e a cada dia que fala da política econômica."
Ou, em resumo: "Ninguém é insubstituível, eu estou entre esses, e disse isso com clareza ao presidente Lula".
O ministro também aproveitou todas as oportunidades que teve para discorrer sobre os indicadores favoráveis da economia. Suas respostas mais longas foram as que envolveram os resultados das contas externas, da geração de empregos formais, da estabilidade monetária.
Embora tenha evitado críticas diretas ao governo FHC (1995-2002), disse que o governo petista assumiu "nas piores condições possíveis" e repetiu a tese segundo a qual a vulnerabilidade a crises externas e domésticas é muito menor do que antes.
Palocci disse que tampouco o governo pretende tornar mais dura a política econômica para tranqüilizar os mercados. Nos bastidores, o ministro vem -ou vinha- articulando a proposta de elevar a meta de superávit primário (a parcela da arrecadação destinada a abater a dívida pública), hoje de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto). O maior adversário da proposta é o próprio PT.
Em suas declarações mais explícitas sobre a crise política até aqui, o ministro rejeitou o discurso de que haveria uma orquestração contra o governo e o PT, já repetido por Lula e outros líderes petistas. Afirmou, porém, que "aproveitadores e apressadinhos" tentam se beneficiar da situação.
"O PT passa por uma situação gravíssima", disse, ao desculpar o tom "duro, mas não ofensivo" da cobrança pública, de explicações sobre as denúncias, feita pelo secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP).


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Ao contrário de Lula, ministro não fez restrições
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.