São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

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Fala de ministro divide empresários

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A resposta do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, às acusações de que recebia mensalão enquanto era prefeito de Ribeirão Preto dada ontem à imprensa dividiu empresários e sindicalistas.
Para alguns, Palocci foi convincente. Para outros, gastou muito tempo para falar bem da economia, sem se aprofundar no ponto principal: a Prefeitura de Ribeirão Preto recebeu ou não dinheiro de empresa de lixo (enquanto ele era prefeito da cidade) para o PT?
Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que Palocci "deu uma versão consistente. Ele negou as acusações. Só o fato de se expor e responder todas as perguntas dos jornalistas foi muito importante. Mas isso não quer dizer que a apuração das denúncias deva acabar", afirma.
O que também causou boa impressão na fala de Palocci, na análise da Vaz, foi o fato de ele afirmar várias vezes que a condução da economia não mudaria com sua saída. "Uma pessoa com princípios diferentes dos de Palocci, aproveitaria o momento para se valorizar e se colocar como indispensável para o governo."
Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, o pronunciamento de Palocci foi "necessário e satisfatório". "Houve a denúncia, essa denúncia veio sem provas e houve o esclarecimento dos pontos pelo ministro", diz. Na sua avaliação, Palocci, como qualquer cidadão brasileiro, merece ser respeitado até que se prove algo contra ele.
"Temos de ter muita serenidade e responsabilidade. As denúncias devem ser apuradas no campo da legalidade e do respeito à Constituição. O julgamento deve ser feito pelas autoridades competentes e com base em provas."
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, diz que a entrevista de Palocci foi "palocciana", ou seja, "serena, convincente e elegante". Na sua análise, a palavra de Palocci foi tranqüilizadora.
Para Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação dos fabricantes de brinquedos, o ministro Palocci não convenceu a sociedade de que as acusações feitas por Rogério Buratti, seu ex-assessor, não são verdadeiras.
"Não estou convencido de que ele [o ministro Palocci] é inocente. Estou convencido, sim, de que a explicação dele não foi boa. O fato de ele repetir diversas vezes que seu cargo está à disposição e que o presidente Lula quer que ele fique no comando do Ministério da Fazenda foi uma forma de escapar das explicações que interessam. Ele passou 90% do tempo falando bem da economia brasileira."
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical, considera que as acusações contra Palocci já são suficientes para a saída do ministro da Fazenda. "As acusações de arrecadação de dinheiro de fornecedores e de prestadores de serviços pelas prefeituras do PT são graves e merecem uma apuração rigorosa. O episódio envolvendo uma figura importante da República [Palocci] aprofunda a crise política", diz.
Para ele, o "presidente Lula tem uma ótima oportunidade de afastar o atual ministro, até que as denúncias sejam elucidadas, e mudar os rumos da política econômica, que tanto tem privilegiado especuladores em detrimento do setor produtivo, da renda e do emprego", afirma Paulinho.
Na análise do presidente da Força, "a permanência do ministro trará com certeza mais vulnerabilidade ao país e as dificuldades de governar vão aumentar. É preciso quebrar o sigilo fiscal e telefônico [do ministro] e dar respostas."


Colaboraram SANDRA BALBI, da Reportagem Local, e GUILHERME BARROS, colunista da Folha

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