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JULGAMENTO DO MENSALÃO
STF define regras para evitar "incidentes" em julgamento
Em reunião com 8 dos 10 ministros, relator fez resumo do caso, sem antecipar voto
A partir de hoje, às 10h, Supremo decide se acolhe a denúncia e abre ação penal contra 40 envolvidos no pior escândalo do governo Lula
SILVANA DE FREITAS
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ministros do STF (Supremo
Tribunal Federal) fizeram ontem uma reunião de última hora para se preparar para o julgamento histórico do mensalão -
que começa hoje - e resolver
"probleminhas" que poderão
surgir nas sessões plenárias, segundo o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa.
O STF fará pelo menos três
sessões para definir se abre ou
não ação penal contra os 40
acusados pela Procuradoria
Geral da República de montar
uma quadrilha para a compra
de apoio congressual ao governo Lula. A denúncia foi enviada
ao Supremo pelo procurador-geral da República, Antonio
Fernando de Souza, no dia 30
de março de 2006. Em entrevista à Folha em junho de
2005, o ex-deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ) revelou a
existência do esquema.
Entre os 40 denunciados estão o ex-deputado e ex-ministro petista José Dirceu, o ex-presidente do PT e deputado
José Genoino, o ex-tesoureiro
do partido Delúbio Soares e o
ex-secretário-geral Silvio Pereira. Eles são acusados de formação de quadrilha, corrupção
ativa e peculato.
A reunião de ontem, segundo
os ministros, foi um encontro
"informal", a portas fechadas,
no gabinete da presidente do
tribunal, ministra Ellen Gracie
Northfleet. Eles discutiram os
riscos de incidentes no julgamento, que deverá durar pelo
menos até sexta-feira. Estavam
presentes oito dos dez atuais
ministros. Marco Aurélio Mello e Cármen Lúcia Antunes
Rocha estavam ausentes. Sepúlveda Pertence aposentou-se na semana passada.
Terminada a reunião, um
dos integrantes do Supremo
avaliou, com base nas conversas, que o placar da decisão a
respeito da denúncia será de 6
a 4 a favor da abertura da ação
penal contra todos os 40 acusados de integrar o esquema.
Há possibilidade de que acusados respondam a menos crimes. Por exemplo: delitos de
natureza eleitoral poderiam
ser remetidos para a TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Relator X governo
Barbosa contestou ontem
eventuais expectativas do governo em relação a seu voto, comentando reportagem da Folha publicada no domingo.
"O governo não funciona
dentro do meu gabinete." A Folha revelou que a cúpula do governo avalia que, se Dirceu escapar, será por margem estreita. O ministro também sinalizou que dará pouca margem
aos questionamentos dos advogados dos denunciados: "É praxe dos advogados usar todas as
manobras possíveis".
Na reunião de ontem, Barbosa adiantou aos colegas o conteúdo do que lerá na sessão hoje, mas sem adiantar o voto. Fez
apenas uma espécie de resumo
da acusação e da defesa.
Entre os "probleminhas" citados por Barbosa estão o pedido de adiamento do julgamento, feito pelo advogado de um
dos 40 denunciados, cujo nome
ele não revelou, a definição do
tempo que cada advogado terá
e a ordem da defesa.
Indagado sobre a natureza da
reunião, o relator disse: "É pouco usual um processo como esse. Por isso, devemos ter certas
precauções."
Antes de o encontro ocorrer,
o relator negou que o objetivo
fosse antecipar o seu voto e
identificar possíveis divergências para evitar os bate-bocas
públicos, já que as sessões serão
transmitidas pela TV Justiça.
Hoje, às 10h, na primeira das
três sessões, Ellen Gracie
anunciará o formato do julgamento. Está previsto que 27 advogados falem, sendo que nove
deles farão a defesa de dois denunciados cada.
"O nosso objetivo é que o julgamento, embora complexo,
transcorra com absoluta tranqüilidade, com todo mundo sabendo exatamente o que vai
acontecer." Ela acredita ser
possível o término na sexta-feira, mas disse que, se necessário,
haverá sessão na segunda.
Único que atuou no processo
contra o ex-presidente Fernando Collor, o ministro Celso de
Mello disse: "A reunião serviu
para definirmos o formato [do
julgamento], considerando o
precedente do caso Collor". O
processo de Collor foi aberto
em abril de 1993 e encerrado
em dezembro de 1994, com sua
absolvição por falta de provas.
Ellen Gracie convocou o encontro anteontem, por meio de
um cartão enviado a cada ministro. O compromisso não
constava da agenda oficial. Até
cerca de uma hora antes, a sua
assessoria negava o encontro.
Colaborou KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília
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