|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Mais irrevogável do que beijo no asfalto
MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) é aquele homem público que parece sempre querer
destacar em suas atitudes e falas uma aura de (quase) juventude e modernidade. É o tipo do
político que prestou muita
atenção no sucesso da campanha de Barack Obama na eleição norte-americana do ano
passado, e no uso que os encarregados da comunicação obamista fizeram das chamadas redes sociais.
(No caso de Obama, aliás, caberia prestar atenção nos números das pesquisas pré-eleitorais: é fato que os democratas
deram um banho nos republicanos no uso da web, principalmente nos quesitos arrecadação e mobilização em campanha, mas também é fato que ele
foi eleito por causa da crise,
principalmente. A rede ajudou,
mas uma rede sozinha faz pouco -a Presidência dos EUA usa
as ferramentas de web 2.0 para
divulgar as teses de governo,
mas agora o sucesso não é tão
notável, se é que existe.)
Mercadante tem site, página
no Facebook, no Twitter e no
Orkut, álbum de fotos no Flickr
e de vídeos no YouTube e deve
ter mais páginas em outros
portais e redes sociais que não
conheço. Ele "está em rede".
Há nisso uma busca constante
pela aproximação com o público, o jovem em particular. Um
político moderno e "progressista" falando aos jovens.
O problema é que essas ferramentas "em rede" são de uma
crueldade abissal, definitiva.
Uma coisa é "falar", outra muito diferente é "escrever". E o
Twitter é uma mídia onde se
costuma escrever com a "leviandade", digamos, do discurso oral. É assim que funciona.
"Verba volant", diziam os antigos, mas "scripta manent". No
Twitter elas voam como passarinho e vão pousar em tudo
quanto é galho. E lá ficam.
Quantas vezes Mercadante
disse que renunciaria ao cargo
de líder do seu partido e depois
desdisse o que havia dito? Pelo
que leio, três vezes. E daí? Daí,
nada, que na cena política essa
questão de pedirem para esquecer (e esquecerem) é bastante comum. Só que agora ficou registrado na pedra: "Eu
subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia da liderança do PT em caráter irrevogável", escreveu o senador. Irrevogável. E transmissível, como um vírus, de tela a tela.
Texto Anterior: "Irrevogável" vira piada no Twitter Próximo Texto: Líderes discutem "cassar" poder do Conselho de Ética Índice
|