São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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ANÁLISE

Mais irrevogável do que beijo no asfalto

MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) é aquele homem público que parece sempre querer destacar em suas atitudes e falas uma aura de (quase) juventude e modernidade. É o tipo do político que prestou muita atenção no sucesso da campanha de Barack Obama na eleição norte-americana do ano passado, e no uso que os encarregados da comunicação obamista fizeram das chamadas redes sociais.
(No caso de Obama, aliás, caberia prestar atenção nos números das pesquisas pré-eleitorais: é fato que os democratas deram um banho nos republicanos no uso da web, principalmente nos quesitos arrecadação e mobilização em campanha, mas também é fato que ele foi eleito por causa da crise, principalmente. A rede ajudou, mas uma rede sozinha faz pouco -a Presidência dos EUA usa as ferramentas de web 2.0 para divulgar as teses de governo, mas agora o sucesso não é tão notável, se é que existe.)
Mercadante tem site, página no Facebook, no Twitter e no Orkut, álbum de fotos no Flickr e de vídeos no YouTube e deve ter mais páginas em outros portais e redes sociais que não conheço. Ele "está em rede". Há nisso uma busca constante pela aproximação com o público, o jovem em particular. Um político moderno e "progressista" falando aos jovens.
O problema é que essas ferramentas "em rede" são de uma crueldade abissal, definitiva. Uma coisa é "falar", outra muito diferente é "escrever". E o Twitter é uma mídia onde se costuma escrever com a "leviandade", digamos, do discurso oral. É assim que funciona. "Verba volant", diziam os antigos, mas "scripta manent". No Twitter elas voam como passarinho e vão pousar em tudo quanto é galho. E lá ficam.
Quantas vezes Mercadante disse que renunciaria ao cargo de líder do seu partido e depois desdisse o que havia dito? Pelo que leio, três vezes. E daí? Daí, nada, que na cena política essa questão de pedirem para esquecer (e esquecerem) é bastante comum. Só que agora ficou registrado na pedra: "Eu subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia da liderança do PT em caráter irrevogável", escreveu o senador. Irrevogável. E transmissível, como um vírus, de tela a tela.


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