São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA

Empréstimos representam quase 10% do que deve o setor agropecuário no BB; senador deve R$ 130 mi

Cem maiores dívidas somam R$ 2,7 bi

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

As cem maiores dívidas do setor agropecuário com o Banco do Brasil somam R$ 2,7 bilhões -quase 10% do total. A aprovação do projeto de lei, em tramitação na Câmara, que perdoa até 60% de algumas dívidas (40%, no caso de grandes devedores) resultaria em abatimento de R$ 1 bilhão só para esse grupo.
Relação das cem maiores dívidas obtida nos computadores do Banco do Brasil mostra que, até abril deste ano, os dez maiores tomadores de empréstimos devem R$ 910 milhões. O maior devedor é a Taquaruçu Agropecuária Ltda., de São Paulo, com um total de R$ 239,6 milhões.
A Companhia Açucareira Vale do Ceará Mirim, que tem como sócio o vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB-RN), ex-governador do Rio Grande do Norte, tem dívidas no valor de R$ 130 milhões.
O total das dívidas do Estado de São Paulo nesse grupo chega a R$ 796 milhões. Esse valor supera a soma de todos os Estados do Nordeste, que fica em R$ 764 milhões. A dívida dos alagoanos é de R$ 300 milhões.
A lista tem devedores que renegociaram seus financiamentos, assim como inadimplentes. O Banco do Brasil não quis se manifestar sobre a relação, em que propriedades de políticos e usinas de álcool têm grande peso.

Perfil da dívida
A lista exemplifica bem o perfil de altos débitos concentrados nas mãos de poucos. Um grupo formado por 2,1% dos produtores rurais que recorreram ao BB em busca de empréstimos responde atualmente por mais da metade dos créditos agrícolas concedidos pela instituição. Algo como R$ 13,755 bilhões.
O grupo restante, que reúne 687 mil produtores ou 97,9% daqueles que pegaram no banco créditos inferiores a R$ 200 mil, contabiliza um total de R$ 10,254 bilhões em empréstimos.
Detalhados, os números mostram a concentração do crédito concedido pela instituição nas mãos de grandes produtores rurais. Mais: os valores médios da dívida tendem a aumentar conforme diminui a quantidade de favorecidos e vice-versa.
Pelos dados do BB, divulgados pelo Ministério da Agricultura, 73,21% dos produtores rurais (513,6 mil agricultores) têm dívidas que não superam a R$ 10 mil com a instituição.
Na outra ponta estão 2.178 produtores (0,31% do total dos endividados) com dívidas superiores a R$ 1 milhão. Somente esse grupo deve R$ 8,892 bilhões ao BB. Individualmente, o valor médio da dívida é de R$ 4,082 milhões.
"É óbvio que existe concentração", afirmou à Folha Edilson Guimarães, diretor de Economia Agrícola do Ministério da Agricultura. "Mas a prioridade aos financiamentos menores, com recursos do Pronaf (Programa Nacional para o Fortalecimento da Agricultura Familiar), fica evidente no caso dos que devem até R$ 10 mil", ponderou.
O pagamento em dia das parcelas vencidas também conta com lógica própria: diminui conforme aumenta o valor da dívida. Segundo Guimarães, os pequenos produtores tendem a quitar os débitos no prazo. A inadimplência, acrescentou ele, é mais comum entre os grandes devedores.
Dados de 31 de julho mostram que 701,8 mil produtores rurais têm dívidas a pagar ao Banco do Brasil.
O total de empréstimos tomados chega a R$ 24,0 bilhões, mas o valor médio dos desembolsos para essa clientela é de R$ 34,2 mil.


Colaborou Denise Chrispim, da Sucursal de Brasília

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