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QUESTÃO AGRÁRIA
Empréstimos representam quase 10% do que deve o setor agropecuário no BB; senador deve R$ 130 mi
Cem maiores dívidas somam R$ 2,7 bi
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
As cem maiores dívidas do setor
agropecuário com o Banco do
Brasil somam R$ 2,7 bilhões
-quase 10% do total. A aprovação do projeto de lei, em tramitação na Câmara, que perdoa até
60% de algumas dívidas (40%, no
caso de grandes devedores) resultaria em abatimento de R$ 1 bilhão só para esse grupo.
Relação das cem maiores dívidas obtida nos computadores do
Banco do Brasil mostra que, até
abril deste ano, os dez maiores tomadores de empréstimos devem
R$ 910 milhões. O maior devedor
é a Taquaruçu Agropecuária
Ltda., de São Paulo, com um total
de R$ 239,6 milhões.
A Companhia Açucareira Vale
do Ceará Mirim, que tem como
sócio o vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB-RN), ex-governador do Rio Grande do
Norte, tem dívidas no valor de R$
130 milhões.
O total das dívidas do Estado de
São Paulo nesse grupo chega a R$
796 milhões. Esse valor supera a
soma de todos os Estados do Nordeste, que fica em R$ 764 milhões.
A dívida dos alagoanos é de R$
300 milhões.
A lista tem devedores que renegociaram seus financiamentos,
assim como inadimplentes. O
Banco do Brasil não quis se manifestar sobre a relação, em que propriedades de políticos e usinas de
álcool têm grande peso.
Perfil da dívida
A lista exemplifica bem o perfil
de altos débitos concentrados nas
mãos de poucos. Um grupo formado por 2,1% dos produtores
rurais que recorreram ao BB em
busca de empréstimos responde
atualmente por mais da metade
dos créditos agrícolas concedidos
pela instituição. Algo como R$
13,755 bilhões.
O grupo restante, que reúne 687
mil produtores ou 97,9% daqueles que pegaram no banco créditos inferiores a R$ 200 mil, contabiliza um total de R$ 10,254 bilhões em empréstimos.
Detalhados, os números mostram a concentração do crédito
concedido pela instituição nas
mãos de grandes produtores rurais. Mais: os valores médios da
dívida tendem a aumentar conforme diminui a quantidade de
favorecidos e vice-versa.
Pelos dados do BB, divulgados
pelo Ministério da Agricultura,
73,21% dos produtores rurais
(513,6 mil agricultores) têm dívidas que não superam a R$ 10 mil
com a instituição.
Na outra ponta estão 2.178 produtores (0,31% do total dos endividados) com dívidas superiores a
R$ 1 milhão. Somente esse grupo
deve R$ 8,892 bilhões ao BB. Individualmente, o valor médio da dívida é de R$ 4,082 milhões.
"É óbvio que existe concentração", afirmou à Folha Edilson
Guimarães, diretor de Economia
Agrícola do Ministério da Agricultura. "Mas a prioridade aos financiamentos menores, com recursos do Pronaf (Programa Nacional para o Fortalecimento da
Agricultura Familiar), fica evidente no caso dos que devem até
R$ 10 mil", ponderou.
O pagamento em dia das parcelas vencidas também conta com
lógica própria: diminui conforme
aumenta o valor da dívida. Segundo Guimarães, os pequenos produtores tendem a quitar os débitos no prazo. A inadimplência,
acrescentou ele, é mais comum
entre os grandes devedores.
Dados de 31 de julho mostram
que 701,8 mil produtores rurais
têm dívidas a pagar ao Banco do
Brasil.
O total de empréstimos tomados chega a R$ 24,0 bilhões, mas o
valor médio dos desembolsos para essa clientela é de R$ 34,2 mil.
Colaborou Denise Chrispim,
da Sucursal de Brasília
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