|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para sociólogo, miséria ajudou país a crescer
DA REPORTAGEM LOCAL
"Como é que me caiu a ficha?
Trabalhava em Santos, tinha sido criada uma Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo e os
arquitetos faziam uma pesquisa sobre habitação popular.
Encontraram um resultado
enigmático: a maior parte da
população pobre pesquisada
era proprietária de suas casas.
As casas eram feitas em mutirão. Eu disse: aqui está a explicação! São proprietários porque usam, além de suas horas
de trabalho, seus feriados, seus
domingos, nessa coisa que é
tradicional: você faz uma feijoada, chama os amigos, toma
cerveja e levanta a parede."
E assim foi concebida a "Crítica à Razão Dualista", obra
reeditada este mês pela Boitempo Editorial, pelo sociólogo
Francisco de Oliveira, 69.
Por meio da agricultura não
capitalista, dos serviços "informais" urbanos e do trabalho
não monetarizado, os trabalhadores teriam o seu "custo de vida" reduzido, permitindo que
o salário mínimo para sua reprodução física fosse rebaixado
e a acumulação capitalista e os
investimentos acontecessem.
A tese era contrária à idéia da
Cepal (Comissão Econômica
para a América Latina) de oposição entre dois setores na economia brasileira, um "dinâmico" e outro "atrasado". Segundo Oliveira, ao contrário, a informalidade e a miséria seriam
condições indispensáveis para
o avanço capitalista no Brasil.
O "Ornitorrinco" representa
a estagnação desse processo
após a revolução tecnológica. A
tecnologia necessária para os
grandes investimentos, de conhecimento universal até então, tranca-se nas patentes e
nas pesquisas científicas de
ponta. O país não tem condição
de bancar o investimento.
A economia brasileira continua associando "exclusão" com
acumulação de capital -como
o uso de camelôs na distribuição "just in time" de cerveja
nos estádios-, sem ser todavia
capaz de crescer com o vigor da
maior parte do século 20.
Texto Anterior: Entrevista da 2ª - Francisco de Oliveira: Nova classe social comanda governo Lula, diz sociólogo Próximo Texto: Frases Índice
|