São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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ANÁLISE

Discurso não traz resultados

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O destaque obtido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos dois dias de reuniões e discursos na sede da ONU em Nova York, não se traduz em nada de prático no curto e médio prazos.
A ambição da diplomacia brasileira de recolocar a questão social no centro das discussões internacionais esbarra, neste momento, numa posição refratária dos EUA ao assunto. Mesmo o discurso vigoroso de Lula ontem na ONU em defesa de uma nova ordem mundial mais solidária foi esvaziado pelas posições monolíticas de seu colega George W. Bush, orientadas para outras preocupações (segurança e terrorismo).
Apesar da grande expectativa em relação ao encontro na ONU, a visibilidade de Lula ficou restrita ao público brasileiro e aos países que se aliaram ao presidente no relançamento de sua campanha internacional contra a fome. Representados no encontro de anteontem por seus chefes de Estado, França e Espanha deram visibilidade à questão da fome em seus principais jornais ontem.
Os principais diários dos EUA e do Reino Unido, que enviaram apenas ministros ao encontro com Lula, ignoraram a iniciativa.
Além de França e Espanha, entre os países desenvolvidos, somente Portugal, Suíça, Suécia e Finlândia enviaram seus chefes de Estado à reunião capitaneada pelo Brasil. Na segunda-feira, a secretária da Agricultura dos EUA, Ann Veneman, chegou a bombardear o cerne das propostas para levantar fundos adicionais para combater a fome e a miséria.
A retórica da diplomacia brasileira insiste que o apoio demonstrado por 110 países na reunião de segunda-feira forçará organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional a discutir as propostas. O FMI, cujo maior sócio são os EUA, prega medidas "ortodoxas" como o melhor remédio para o crescimento sustentável e a erradicação da miséria e da fome. Mesmo sem resultados práticos, porém, Lula conseguiu de alguma maneira aprofundar um pouco mais a cunha que vem manejando para se apresentar como uma liderança entre os emergentes. (FCz)


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