São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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SOCIAL

Para Ricardo Paes de Barros, falta focalização nos gastos com os mais pobres

Economista vê falha em ação federal

DA SUCURSAL DO RIO

O economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ricardo Paes de Barros afirmou ontem que, se o governo não mudar sua atual política social, o quadro de desigualdade permanecerá estável até o fim do governo Lula.
Segundo ele, nos últimos 20 anos, praticamente não houve alteração nesse quadro, com o 1% da população mais rica se apropriando da mesma parcela da renda nacional que todos os brasileiros que estão na parcela dos 50% mais pobres.
Para Paes de Barros, o governo Lula ainda não foi capaz de tornar a política social eficaz porque falta avaliação dos programas sociais e mais focalização nos gastos para os efetivamente mais pobres. Um exemplo de melhoria apontado pelo economista é a ampliação e integração dos programas sociais voltados para os mais pobres.
Ontem, durante sessão plenária do 14º encontro da Abep (Associação Brasileira de Estudos Populacionais), que acontece em Caxambu (MG), o economista apresentou um estudo que conclui que é a diferença de salários pagos para ricos e pobres no mercado de trabalho, e não o desemprego elevado, a principal causa da desigualdade brasileira.
O estudo do economista mostra que, para reduzir a extrema pobreza no país, é mais eficiente diminuir a desigualdade do que gerar apenas crescimento econômico, e que a maior parte das diferenças existentes no mercado de trabalho são apenas reveladas a partir da desigualdade educacional, e não geradas por ele.
"O principal problema da população mais pobre não é falta de emprego, mas excesso de trabalho mal remunerado", afirmou.
O economista fez análise dos fatores que mais explicam a desigualdade brasileira, medida pela renda familiar per capita. O fator que mais contribui diretamente para a desigualdade, segundo o estudo, é a remuneração do trabalho, que explica 61% da desigualdade. O desemprego, segundo o economista, é responsável por apenas 5% dessa desigualdade.
Para chegar a essas conclusões, ele calculou como seria a renda per capita familiar caso não houvesse diferença, por exemplo, na porcentagem de adultos que trabalhavam em cada família. Com isso, foi possível verificar em quanto seria alterado, nesse caso, o quadro de desigualdade no país caso não houvesse nenhuma diferença no acesso ao emprego entre ricos e pobres. O mesmo exercício foi feito para os outros fatores.


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