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SOCIAL
Segundo Ipea, remuneração é fator que contribui em 61% da divergência social
Salário é principal causa da desigualdade, diz estudo
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
É a diferença de salários pagos
para ricos e pobres no mercado de
trabalho, e não o desemprego elevado, a principal causa da desigualdade brasileira. A conclusão é
de um estudo do economista do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ricardo Paes
de Barros que foi apresentado ontem em sessão plenária do 14º encontro da Abep (Associação Brasileira de Estudos Populacionais),
que acontece em Caxambu (MG).
O estudo mostra também que,
para reduzir a extrema pobreza
no país, é mais eficiente diminuir
a desigualdade do que gerar apenas crescimento econômico, e
que a maior parte das diferenças
existentes no mercado de trabalho são apenas reveladas a partir
da desigualdade educacional, e
não geradas por ele.
"O principal problema da população mais pobre não é falta de
emprego, mas excesso de trabalho mal-remunerado. Atacar o
problema do desemprego é muito
mais importante para São Paulo
do que para o interior do Maranhão", afirmou Paes de Barros.
O economista fez análise dos fatores que mais explicam a desigualdade brasileira, medida pela
renda familiar per capita. O fator
que mais contribui diretamente
para a desigualdade, segundo o
estudo, é a remuneração do trabalho, que explica 61% da desigualdade. O desemprego, segundo o
economista, é responsável por
apenas 5% dessa desigualdade.
Para chegar a essas conclusões,
Paes de Barros calculou como seria a renda per capita familiar caso
não houvesse diferença, por
exemplo, na porcentagem de
adultos que trabalhavam em cada
família. Com isso, foi possível verificar em quanto seria alterado,
nesse caso, o quadro de desigualdade no país caso não houvesse
nenhuma diferença no acesso ao
emprego entre ricos e pobres. O
mesmo exercício foi feito para os
outros fatores.
Além de detectar as causas da
desigualdade, o estudo analisou
também como elas apareciam no
mercado de trabalho. A diferença
nos salários pagos para ricos e pobres pode ser um efeito da discriminação (apesar da mesma qualificação e capacidade, duas pessoas recebem salários diferentes)
ou explicada pela diferença na escolaridade (uma pessoa com nível
superior recebe um salário maior
do que um analfabeto).
O estudo chegou à conclusão de
que 45% da desigualdade de remuneração é explicado por fatores que são apenas revelados pelo
mercado de trabalho, ou seja, o
empregador apenas paga melhor
a um empregado porque ele tem
escolaridade melhor do que outro
que recebe menos. Em 25% dos
casos, o que determina a diferença no rendimento são fatores gerados pelo mercado de trabalho,
ou seja, podem ser fruto do preconceito já que não são explicados pela diferença na capacidade.
Em 30% dos casos, não foi possível detectar as causas.
"A desigualdade de renda no
Brasil é muito mais revelada pelo
mercado de trabalho do que propriamente gerada por ele", diz.
Segundo o economista, apesar
de a discriminação, racial ou de
gênero, ser um fator que existe e
que deve ser combatido, tem pouca influência no cálculo da desigualdade brasileira. "A discriminação é mais um problema qualitativo do que quantitativo."
No estudo, Paes de Barros fez simulações para avaliar estratégias
para diminuir em cinco pontos
percentuais o número de brasileiros na linha de extrema pobreza.
Se o nível de desigualdade não for
alterado, o estudo mostra que será necessário crescimento da renda per capita de 3% ao ano nos
próximos dez anos. Essa mesma
redução, diz o estudo, poderia ser
alcançada caso o nível de desigualdade (medido pelo Índice de
Gini, fórmula internacional utilizada para comparar a desigualdade entre os países) caísse 4,5%.
"Embora qualquer redução no
grau de pobreza possa sempre ser
alcançada exclusivamente com
base no crescimento, pequenas
reduções no grau de desigualdade
podem encurtar muito o tempo
necessário", diz.
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