São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Guerra, paz e fome

Do Jornal da Band, em manchete, ontem:
- Guerra e paz. Bush defende invasão. Lula pede justiça.
Antes, à tarde, na manchete da Globo On Line:
- Bush e Lula: guerra e paz na ONU.
Mas não foi bem assim. A manchete do site do "Financial Times", mais precisa:
- Annan e Bush se enfrentam nas Nações Unidas.
Por mais repercussão que ele tenha alcançado, Lula em Nova York não foi um dos pólos do conflito de ontem.
É a própria ONU, na figura do secretário-geral, Kofi Annan, que enfrenta o belicismo dos Estados Unidos.
Annan surgiu com palavras carregadas contra a invasão, George W. Bush veio em seguida com um pronunciamento róseo e eleitoral.
Mas Lula, certamente, está ao lado de Annan, do francês Jacques Chirac, do espanhol Zapatero. Ele integra a oposição aos EUA de Bush.
 
Em textos nos jornais americanos, que afinal mencionaram sua existência, o brasileiro surge como parte do esforço de Annan para tirar a ONU do domínio americano.
Segundo uma reportagem na versão impressa do "Washington Post", ontem, a conferência contra a fome foi "um esforço para mudar o debate das prioridades" na entidade -dos "temas de segurança importantes para os EUA" para "temas que afetam os pobres".
Bush, sublinhou o "WP", "declinou de participar". Na mesma linha, o site do "New York Times" noticiou o fato de que ele "se recusou a apoiar a declaração sobre pobreza".
Mas não faltou registro para a frase conciliatória de Lula, de que os EUA "deram passo importante" ao enviar a secretária de Agricultura. A qual, diga-se, detonou a idéia.
 
A cobertura mais positiva para o brasileiro veio do espanhol "El País", que na versão impressa deu manchete com foto, duas longas reportagens e editorial. Em resumo, comprou o Fome Zero mundial.
Na reportagem de avaliação do Fome Zero brasileiro, foram ouvidos Frei Betto, para os "elogios", e o sociólogo Francisco de Oliveira, para as "críticas". No meio, também Zilda Arns, da Pastoral da Criança, para um juízo mais equilibrado:
- A grande conquista do Fome Zero foi chamar a atenção para os níveis de pobreza, com uma mobilização social gigantesca. No início houve muitas promessas de campanha que deviam ser cumpridas, mas faltou estratégia. As coisas estão mais assentadas, mas para funcionar em todos os aspectos faltam três, quatro anos.
 
Quanto aos editoriais, o do "El País" ("Matar a fome") foi abertamente favorável, com louvores a Zapatero.
Já para o britânico "Financial Times", que adiantou pequeno editorial intitulado "Boas intenções", antes de mais nada é preciso saber que "o programa contra a fome do próprio Lula, "Zero Hunger", está longe de perfeito". Mencionou a falta de controle, por exemplo, da exigência de manter na escola os filhos das famílias beneficiadas.

ONDA

Globo/Reprodução


Pelas manchetes em série nos telejornais nacionais, mas principalmente pela cobertura regional, de São Paulo, o quadro é de uma onda de greves às vésperas da eleição. No SPTV:
- As greves voltam a tumultuar.
A novidade era a paralisação dos funcionários da Vasp, que formou filas no aeroporto, como se viu. Mas havia outra, no destaque da Jovem Pan:
- Os metalúrgicos ocuparam duas faixas da Paulista, o que prejudicou o trânsito.
E havia, é claro, a dos bancários. Na manchete do UOL:
- Greve cresce e já atinge 24 capitais.
Mas o foco segue em São Paulo. Foi um destaque nos telejornais da Globo, por fim, a quarta das greves, a pior -e com a ameaça de intervenção federal.

Alerta
O corte do sinal da Record no Rio, tirando do ar o programa sobre um projeto que também é mostrado na propaganda de Marcelo Crivella, vem no bojo de outras ações da emissora. O Cidade Alerta carioca, com Wagner Montes, não faz coisa diferente ao "cobrir" Crivella -e seus adversários.

Arbitrariedade
Mas não é o caso de afirmar, como fez a Globo, que "a Record não se pronunciou". Já o fez na madrugada, falando em "atitude arbitrária e nociva ao estado de direito democrático".
Pode-se, é claro, discordar.

É bom
O SPTV não vem fazendo muito diferente da Record, pelo governador Geraldo Alckmin. Ontem, destacou elogiosamente a nova "redução de impostos", que "deve tornar mais baratos" vários produtos, "estimular a modernização" etc.
Alckmin, no SPTV:
- Traz empresas para São Paulo e gera emprego.
É guerra
Em contraste, logo depois o JN nada mencionou de empregos ou de queda nos preços, em sua reportagem. Tratou as medidas pelo devido nome:
- É a guerra fiscal.


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