São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Comitê de Lula mistura partido e governo

Ao menos 35 pessoas envolvidas na campanha têm dupla ou até tripla militância, acumulando funções em mais de uma esfera

Avaliação de integrantes do partido é que a origem de escândalos como o do dossiê e o do mensalão estaria na mistura de atribuições


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise do dossiê mostra que o PT mantém inalterado o hábito de misturar as estruturas de partido, governos e campanhas, apesar das promessas de acabar com a prática. Pelo menos 35 pessoas envolvidas na campanha têm dupla ou até tripla militância, acumulando funções em mais de uma esfera. A política de misturar funções estaria, segundo setores do partido, na origem dos escândalos do mensalão e o do dossiê.
As várias crises revelam que erros cometidos na campanha ou no partido acabam contaminando o governo. O ex-assessor presidencial Freud Godoy, por exemplo, foi envolvido porque fazia "bico" no setor de inteligência: atingiu Lula em cheio. Expedito Veloso, que colaborava com a "Abin do PT", acabou comprometendo o Banco do Brasil e foi afastado. Isso deixa o governo vulnerável a acusações de uso da máquina.
Há pouco mais de três meses, a campanha começou a ser inundada por petistas com cargos de confiança na Presidência, em ministérios e em estatais. Assumiram a agenda de campanha, instalaram-se no setor de "inteligência" do comitê e passaram a dar as cartas do programa de governo de Lula.
Alguns dos grupos setoriais que preparam cadernos do programa são coordenados por titulares de secretarias na Esplanada dos Ministérios. Nos Estados, vários prefeitos foram nomeados coordenadores. Uma minoria licenciou-se ou tirou férias. O restante se manteve nos empregos, teoricamente trabalhando para o PT fora do horário de expediente.
Nem sempre a orientação é seguida. O uso da estrutura de comunicação de órgãos públicos é freqüente. Oswaldo Bargas, que migrou do Ministério do Trabalho para a divisão de montagem de dossiês, enviava textos do PT a e-mails oficiais.
No comitê de Lula, encontraram-se a chamada "turma dos DAS" -servidores com cargo de confiança- e petistas oriundos da Executiva. Ricardo Berzoini havia prometido separação total da direção da campanha e da administração do partido. Mas ele mesmo acumulou a coordenação com a presidência do PT. Seu sucessor, Marco Aurélio Garcia, foi mais longe: coordena a campanha, chefia a assessoria especial de Lula e é vice-presidente do PT.
A meta de Berzoini ao assumir o PT era superar o trauma de Delúbio Soares, que acumulou os caixas de campanhas e do partido. Agora, foi nomeada uma pessoa só para arrecadar recursos da candidatura, José de Filippi. Mas a sobreposição não acabou: o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, é quem autoriza os gastos da campanha.


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