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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Comitê de Lula mistura partido e governo
Ao menos 35 pessoas envolvidas na campanha têm dupla ou até tripla militância, acumulando funções em mais de uma esfera
Avaliação de integrantes do partido é que a origem de escândalos como o do dossiê e o do mensalão estaria
na mistura de atribuições
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise do dossiê mostra que
o PT mantém inalterado o hábito de misturar as estruturas
de partido, governos e campanhas, apesar das promessas de
acabar com a prática. Pelo menos 35 pessoas envolvidas na
campanha têm dupla ou até tripla militância, acumulando
funções em mais de uma esfera.
A política de misturar funções
estaria, segundo setores do partido, na origem dos escândalos
do mensalão e o do dossiê.
As várias crises revelam que
erros cometidos na campanha
ou no partido acabam contaminando o governo. O ex-assessor
presidencial Freud Godoy, por
exemplo, foi envolvido porque
fazia "bico" no setor de inteligência: atingiu Lula em cheio.
Expedito Veloso, que colaborava com a "Abin do PT", acabou
comprometendo o Banco do
Brasil e foi afastado. Isso deixa
o governo vulnerável a acusações de uso da máquina.
Há pouco mais de três meses,
a campanha começou a ser
inundada por petistas com cargos de confiança na Presidência, em ministérios e em estatais. Assumiram a agenda de
campanha, instalaram-se no
setor de "inteligência" do comitê e passaram a dar as cartas do
programa de governo de Lula.
Alguns dos grupos setoriais
que preparam cadernos do programa são coordenados por titulares de secretarias na Esplanada dos Ministérios. Nos Estados, vários prefeitos foram
nomeados coordenadores.
Uma minoria licenciou-se ou
tirou férias. O restante se manteve nos empregos, teoricamente trabalhando para o PT
fora do horário de expediente.
Nem sempre a orientação é
seguida. O uso da estrutura de
comunicação de órgãos públicos é freqüente. Oswaldo Bargas, que migrou do Ministério
do Trabalho para a divisão de
montagem de dossiês, enviava
textos do PT a e-mails oficiais.
No comitê de Lula, encontraram-se a chamada "turma dos
DAS" -servidores com cargo
de confiança- e petistas oriundos da Executiva. Ricardo Berzoini havia prometido separação total da direção da campanha e da administração do partido. Mas ele mesmo acumulou
a coordenação com a presidência do PT. Seu sucessor, Marco
Aurélio Garcia, foi mais longe:
coordena a campanha, chefia a
assessoria especial de Lula e é
vice-presidente do PT.
A meta de Berzoini ao assumir o PT era superar o trauma
de Delúbio Soares, que acumulou os caixas de campanhas e do
partido. Agora, foi nomeada
uma pessoa só para arrecadar
recursos da candidatura, José
de Filippi. Mas a sobreposição
não acabou: o tesoureiro do PT,
Paulo Ferreira, é quem autoriza os gastos da campanha.
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