São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Coordenador é discreto e leal a petista

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Marco Aurélio Garcia, gaúcho radicado em São Paulo, não é homem de grupos, de picuinhas na política interna do PT, nem de se meter onde não é chamado. E costumava ser chamado para discutir política externa, principalmente na América Latina.
Apesar de fundador do PT e da CUT e de sua longa convivência com o presidente Lula como assessor internacional do partido, Garcia só agora assume papel central na armação do jogo da política interna.
Excluído do "núcleo duro" do início do governo, em 2003, quando pontificavam José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken, sua importância no governo é inversamente proporcional à queda dos mentores originais. Quanto mais ministros e assessores caem, mais ele sobe.
Garcia, 64, é professor licenciado de história internacional na Unicamp, morou no Chile de 1969 a 1973 e desenvolveu sólidos laços com os movimentos de esquerda na América do Sul. Quando se critica a divisão de comando da política externa de Lula, a explicação é que Celso Amorim cuida das negociações comerciais e "do mundo", e Garcia se ocupa do continente -o grande abacaxi.
Ele foi um dos articuladores do "Grupo de Amigos da Venezuela" para evitar o isolamento do polêmico Hugo Chávez, e levou Lula a uma postura arriscada: apoiar abertamente candidaturas presidenciais em outros países. Sob a orientação de Garcia, Lula torceu pelas vitórias de Néstor Kirchner na Argentina, Tabaré Vazquez no Uruguai e Evo Morales na Bolívia. Nem sempre há gratidão -Morales é o maior exemplo.
Garcia é do "Campo Majoritário", mas na verdade é homem de Lula. Criticava tanto Dirceu, pela personalidade centralizadora, quanto Palocci, por julgar a política econômica excessivamente neoliberal.
Além da lealdade indiscutível a Lula, outros fatores pesaram na sua escolha: é vice-presidente do PT e coordenou os programas de governo em 1994, 1998 e 2006. E o principal: tem vida monástica. Espere-se de tudo de Garcia, menos escândalos: mora sozinho, passa horas lendo e veste-se modestamente.


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