São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Na TV, partidos violam regras, dizem surdos

DA AGÊNCIA FOLHA

A "tradução para surdos" na propaganda eleitoral de TV não tem cumprido o seu papel, segundo pessoas com deficiência auditiva entrevistadas pela Folha. Resolução de junho do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) estabeleceu que, na propaganda da TV, os partidos utilizem a Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) ou legendas.
Para Anahi Guedes de Mello, 31, presidente do Centro de Vida Independente de Florianópolis, o tamanho das imagens, a velocidade dos sinais, a falta de contraste com o fundo e até mesmo a pouca prática de alguns dos intérpretes fazem boa parte das propagandas continuarem incompreensíveis para esses eleitores. "Os primeiros passos foram dados, mas falta bastante para uma eleição realmente acessível."
Segundo Neivaldo Augusto Zovico, 40, diretor da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, a parte menos compreensível é aquela em que o intérprete tenta informar o nome e o número dos candidatos. Ao contrário de conceitos gerais, para os quais há sinais próprios feitos com a ajuda de braços e da expressão, os nomes precisam ser "soletrados" manualmente.
Substituir a Libras pela legenda escrita não é considerada uma solução. "O ideal é ter os dois, pois temos de respeitar todos", afirmou Zovico, também entrevistado por e-mail. Para ele, os diretores dos programas resistem ao oferecimento simultâneo por avaliarem que poluiria a tela.
"É uma realidade que muitos surdos não lêem bem, ainda mais na velocidade em que aparecem as legendas no horário eleitoral", disse Ana Maria Barbosa, coordenadora da Rede Saci (Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação).
A maioria tem dificuldades para fazer leitura labial na TV. "Os partidos não tentam passar conteúdo, tentam só cumprir burocraticamente a norma", queixa-se Barbosa. Para o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, a norma vem sendo respeitada e "o aperfeiçoamento é constante". Segundo o IBGE, 5,7 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva, aponta o senso de 2000. Com base nesse dado, estima-se que 166.400 têm surdez total -segundo Mello, 30% deles são usuários da Libras. (FRANCISCO FIGUEIREDO)

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