São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Visita de Tarso é irrelevante, diz procuradora

Autoridade que cuida do caso em Mônaco afirma que viagem do ministro não irá mudar nada no processo da extradição de Cacciola

Ministério da Justiça diz que viagem ao principado é uma demonstração da relevância do caso do ex-banqueiro para o governo brasileiro

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A MÔNACO

A visita do ministro da Justiça, Tarso Genro, a Mônaco não ajuda em nada no processo de extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, segundo a procuradora-geral do principado, Annie Brunet-Fuster. Tarso chega segunda-feira a Mônaco.
"É uma visita de ordem diplomática, que demonstra a importância do caso. Ele decidiu vir e deve assumir a responsabilidade. Não posso impedi-lo de vir. Ele será recebido de forma cortês, mas no plano judiciário o que preciso é dos documentos", disse ela.
Brunet-Fuster precisa dos documentos para fazer uma espécie de dossiê que será enviado à Corte de Apelações de Mônaco, tribunal colegiado que decidirá o destino de Cacciola.
O Brasil tem prazo de até 40 dias, que já começou a correr, para apresentar os documentos necessários para a extradição. Se a decisão da Corte for contrária ao banqueiro, chega à mesa do príncipe Albert 2º, que tem o direito de ratificar ou não a decisão. Ele jamais contrariou uma decisão da Corte, segundo o advogado monegasco de Cacciola, Franck Michel.
Brunet-Fuster afirma que, do ponto de vista jurídico, a única forma de a visita de Tarso ter relevância é se o ministro trouxer os documentos de extradição. "A visita de um ministro mostra a importância dada ao processo pelo governo brasileiro, mas não pode mudar em nada a aplicação da lei. O processo vai seguir as disposições legais. Logo, que o ministro venha ou não, para o processo, não muda nada."
Mas, se não ajuda, a visita de Tarso também não atrapalha, na visão da procuradora-geral. Ela diz que o que importa para a extradição é a decisão da Justiça brasileira, que condenou Cacciola em 2005. "Se temos um dossiê da Justiça que diz que alguém foi condenado por tal crime, o resto é bravata."
Brunet-Fuster também reafirmou que não é necessário um acordo de extradição com o Brasil para que o ex-banqueiro seja enviado ao país. "A lei de Mônaco permite a extradição, mesmo que não tenhamos uma lei específica", disse. "Não há nenhuma razão para que não o extraditemos", completou.
O Ministério da Justiça informou, via assessoria de imprensa, que a viagem não é destinada à apresentação do pedido de extradição, mas uma demonstração da importância do caso para o governo brasileiro. A intenção, informou, é garantir a manutenção da prisão de Cacciola até que o pedido de extradição esteja pronto, provavelmente na semana que vem.
Ainda segundo a assessoria, Tarso Genro teria percebido interesse das autoridades de Mônaco por mais informações sobre o caso. Ele levará uma cópia do processo em português e um sumário em francês. O pedido de extradição será apresentado após concluída a tradução das 552 páginas do processo, que está em andamento.
Cacciola era dono do banco Marka e foi condenado a 13 anos de prisão, em 2005, pela prática dos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira no mercado brasileiro e peculato (usar o cargo para apropriação ilegal de dinheiro).
O governo brasileiro teve um prejuízo de R$ 1,6 bilhão no episódio, quando injetou dinheiro no Marka e no banco FonteCindam sob a justificativa de evitar uma crise de todo o sistema bancário. Cacciola estava foragido desde 2000.


Colaborou a Reportagem Local

Texto Anterior: Governo pára ações contra trabalho escravo
Próximo Texto: Procuradora diz que caso será emblemático
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.