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A Chávez, governo prevê aprovação neste ano
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
O governo brasileiro comunicou ao colega Hugo Chávez
que o Senado brasileiro deve
aprovar a entrada da Venezuela
no Mercosul até o final deste
ano, apesar da oposição das
bancadas do PSDB e do DEM.
"Eu até fui muito claro, nessa
parte fui eu quem falei [ao presidente Chávez]: não é uma nota promissória, mas há uma expectativa de que nós possamos
terminar lá para novembro. Se
não for novembro, será dezembro", disse o chanceler Celso
Amorim a jornalistas anteontem à noite, após a reunião entre os dois presidentes realizada, num hotel de Manaus.
Amorim disse ainda que existe a possibilidade de a entrada
no Mercosul ser aprovada na
Comissão de Relações Exteriores na semana que vem.
O Congresso paraguaio também tem de aprovar a entrada
da Venezuela no Mercosul, o
que já foi feito pelos Legislativos da Argentina e do Uruguai.
Pouco antes de a reunião
com Lula, Chávez voltou a criticar o atraso no processo de entrada no Mercosul.
"São nove meses para a gestação de uma criança. Se passam nove meses, perde-se a
criança. Isso [aprovação pelo
Senado brasileiro] já está passado", disse anteontem à tarde.
O presidente venezuelano
disse estar seguro de que "a
mão do império, a mão norte-americana" é a responsável pela demora mas, diferentemente
de declarações anteriores, evitou fixar prazos para esperar
pela aprovação. "Não impomos
tempo a ninguém, mas tampouco vamos no arrastar."
Horas depois, em breve discurso ao lado de lado de Lula,
Chávez foi mais diplomático:
"A Venezuela ratifica plenamente sua vontade de entrar no
Mercosul. Nunca tivemos dúvida nenhuma da vontade do governo do Brasil sobre esse passo importante para a integração de toda a América do Sul."
A reunião bilateral terminou
sem um esperado acordo para a
parceria na refinaria de Pernambuco e sem a divulgação de
comunicado conjunto. Um texto com cerca de 30 artigos chegou a ser preparado, mas o formato do encontro -uma reunião com apenas quatro participantes de cada lado- e duas
divergências suspenderam a divulgação do documento.
Entre as discordâncias estava a recusa venezuelana de
apoiar a missão de paz da ONU
no Haiti, liderada pelo Brasil.
A controvérsia em torno da
aprovação pelo Senado teve início em 31 de maio, quando Chávez chamou o Congresso brasileiro de "papagaio do império"
e o acusou de estar "subordinado ao Congresso de Washington". O ataque ocorreu em resposta a uma moção aprovada
pelo Senado brasileiro pedindo
que o governo venezuelano revisse o fim da concessão da popular emissora oposicionista
RCTV, que hoje só transmite
via TV paga.
As declarações provocaram
um movimento de reação dos
partidos oposicionistas no Senado, que prometeram votar
contra a Venezuela. Na época,
Amorim sugeriu que Chávez fizesse um "gesto positivo" em
relação ao Congresso para diminuir a tensão.
Em vez de seguir a sugestão
do chanceler brasileiro, Chávez
radicalizou: em 3 de julho, chamou a declaração de Amorim
de "impertinente" e disse que
retiraria a candidatura da Venezuela em setembro caso não
houvesse a aprovação dos Congressos brasileiro e paraguaio.
Um mês depois, no início de
agosto, Chávez retirou esse
prazo final e disse que esperaria "um pouco mais", posição
que mantém até agora.
Apesar de falar grosso, a Venezuela ficará numa situação
de isolamento caso não entre
no Mercosul, pois é hoje o único país da América do Sul com
(a exceção das Guianas) que
não participa plenamente de
nenhum grande bloco regional.
No ano passado, Chávez anunciou o desligamento da CAN
(Comunidade Andina de Nações) por discordar das negociações do Peru e da Colômbia
para acordos comerciais bilaterais com os EUA.
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