São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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A Chávez, governo prevê aprovação neste ano

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

O governo brasileiro comunicou ao colega Hugo Chávez que o Senado brasileiro deve aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul até o final deste ano, apesar da oposição das bancadas do PSDB e do DEM.
"Eu até fui muito claro, nessa parte fui eu quem falei [ao presidente Chávez]: não é uma nota promissória, mas há uma expectativa de que nós possamos terminar lá para novembro. Se não for novembro, será dezembro", disse o chanceler Celso Amorim a jornalistas anteontem à noite, após a reunião entre os dois presidentes realizada, num hotel de Manaus.
Amorim disse ainda que existe a possibilidade de a entrada no Mercosul ser aprovada na Comissão de Relações Exteriores na semana que vem.
O Congresso paraguaio também tem de aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul, o que já foi feito pelos Legislativos da Argentina e do Uruguai.
Pouco antes de a reunião com Lula, Chávez voltou a criticar o atraso no processo de entrada no Mercosul.
"São nove meses para a gestação de uma criança. Se passam nove meses, perde-se a criança. Isso [aprovação pelo Senado brasileiro] já está passado", disse anteontem à tarde.
O presidente venezuelano disse estar seguro de que "a mão do império, a mão norte-americana" é a responsável pela demora mas, diferentemente de declarações anteriores, evitou fixar prazos para esperar pela aprovação. "Não impomos tempo a ninguém, mas tampouco vamos no arrastar."
Horas depois, em breve discurso ao lado de lado de Lula, Chávez foi mais diplomático: "A Venezuela ratifica plenamente sua vontade de entrar no Mercosul. Nunca tivemos dúvida nenhuma da vontade do governo do Brasil sobre esse passo importante para a integração de toda a América do Sul."
A reunião bilateral terminou sem um esperado acordo para a parceria na refinaria de Pernambuco e sem a divulgação de comunicado conjunto. Um texto com cerca de 30 artigos chegou a ser preparado, mas o formato do encontro -uma reunião com apenas quatro participantes de cada lado- e duas divergências suspenderam a divulgação do documento.
Entre as discordâncias estava a recusa venezuelana de apoiar a missão de paz da ONU no Haiti, liderada pelo Brasil.
A controvérsia em torno da aprovação pelo Senado teve início em 31 de maio, quando Chávez chamou o Congresso brasileiro de "papagaio do império" e o acusou de estar "subordinado ao Congresso de Washington". O ataque ocorreu em resposta a uma moção aprovada pelo Senado brasileiro pedindo que o governo venezuelano revisse o fim da concessão da popular emissora oposicionista RCTV, que hoje só transmite via TV paga.
As declarações provocaram um movimento de reação dos partidos oposicionistas no Senado, que prometeram votar contra a Venezuela. Na época, Amorim sugeriu que Chávez fizesse um "gesto positivo" em relação ao Congresso para diminuir a tensão.
Em vez de seguir a sugestão do chanceler brasileiro, Chávez radicalizou: em 3 de julho, chamou a declaração de Amorim de "impertinente" e disse que retiraria a candidatura da Venezuela em setembro caso não houvesse a aprovação dos Congressos brasileiro e paraguaio.
Um mês depois, no início de agosto, Chávez retirou esse prazo final e disse que esperaria "um pouco mais", posição que mantém até agora.
Apesar de falar grosso, a Venezuela ficará numa situação de isolamento caso não entre no Mercosul, pois é hoje o único país da América do Sul com (a exceção das Guianas) que não participa plenamente de nenhum grande bloco regional. No ano passado, Chávez anunciou o desligamento da CAN (Comunidade Andina de Nações) por discordar das negociações do Peru e da Colômbia para acordos comerciais bilaterais com os EUA.


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