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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
Tucano histórico vê perda de compostura em Alckmin
Para ministro da Casa Civil de FHC, atacar Kassab, e não Marta, é "enganar o povo"
Secretário de Governo da prefeitura, Clóvis Carvalho afirma que candidato do PSDB não tem projeto nem moral para fazer críticas
Moacyr Lopes Jr. - 15.set.08/Folha Imagem
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Secretário Clóvis Carvalho (esq.), fundador do PSDB, ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM)
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Expoente dos chamados "tucanos da prefeitura", sob ataque de Geraldo Alckmin por
apoiarem o prefeito Gilberto
Kassab (DEM), Clóvis Carvalho devolve: "Foi ele quem procurou a desunião. É ele quem
tem de ser cobrado pelo oportunismo e pela perda de compostura. Não tem moral para se
colocar como juiz supremo".
Ex-ministro da Casa Civil e
do Desenvolvimento de FHC e
hoje secretário municipal de
Governo, Carvalho reclama da
tentativa de caracterizar como
"golpe" a entrada de Gilberto
Kassab na chapa de José Serra
em 2004 e da oposição, estabelecida por Alckmin, entre "fundadores" e "afundadores" do
PSDB -estes, os kassabistas.
"Sou fundador do PSDB. Minha
ficha é a de número 007", diz.
"Afundador é quem viola os valores do partido."
Para Carvalho, 70, "é inaceitável" que Alckmin escolha
Kassab como alvo preferencial.
"Ele até elogiou a Marta e disse
que "o Lula tudo bem". Isso é enganar o povo. Nosso adversário
é o PT." Procurada, a campanha
do tucano disse ontem que não
iria comentar a entrevista.
FOLHA - O PSDB tem um candidato
a prefeito e, ao mesmo tempo, comanda a prefeitura em aliança com
um candidato de outro partido. A situação é de guerra campal. Havia
como evitá-la?
CLÓVIS CARVALHO - O PSDB tem
a obrigação moral de defender
esta administração, que é sua.
Secretaria de Governo, Planejamento, Saúde, Educação,
Participação, Segurança, Esporte, Assistência Social... todas nas mãos de tucanos que
estão fazendo um governo essencialmente tucano.
De repente, chega alguém do
partido, que foi governador em
aliança com o DEM, candidato
a presidente com vice do DEM,
que participou da negociação
para constituir a chapa Serra-Kassab, que defendeu o Kassab.
De repente, esse alguém diz "eu
quero ser candidato porque...
eu quero ser candidato". Só posso entender como uma postura
personalista do Geraldo.
FOLHA - Alckmin argumentou que
seria absurdo o PSDB não ter candidato próprio em São Paulo.
CARVALHO - O interesse público
deve prevalecer sobre o partidário. Nós estamos no poder.
Não faz sentido a candidatura
do Geraldo exclusivamente
porque o partido quer. Nem reconheço que o partido queira. É
um pedaço do partido que quer.
O Geraldo ficou apenas com a
ambição pessoal. Não tem motivo para ser candidato.
Nós lutamos no partido para
que isso não acontecesse. Mas
não considero que foi um processo totalmente aberto. Nosso
grupo, que acreditava na aliança, acabou retirando a chapa.
FOLHA - Foi um erro?
CARVALHO - Sim. Teria sido a
oportunidade democrática de
marcar diferenças de posição.
FOLHA - Vocês venceriam?
CARVALHO - Acredito que sim.
E, mesmo que não, o processo
democrático teria se dado.
FOLHA - Há algo a fazer agora?
CARVALHO - Há dois candidatos.
O PSDB tem o seu, e o DEM
tem o seu, apoiado por tucanos.
Mas não era necessário desqualificar os aliados e uma administração feita por gente do
partido dele e aprovada pela
população. Foi ele quem procurou a desunião. É ele quem tem
de ser cobrado pelo oportunismo e pela perda de compostura.
Não tem moral para se colocar
como juiz supremo.
FOLHA - A campanha de Alckmin
considera que, se não apontar os
problemas da cidade, nada terá a dizer ao eleitor.
CARVALHO - Sabe por quê? Porque eles não têm projeto. Se
fossem coerentes com as idéias
do PSDB, estariam falando as
mesmas coisas que nós. Nenhuma outra administração fez
tanto pela saúde na cidade de
São Paulo quanto esta. Ninguém pôs 20% das receitas líquidas do Orçamento na saúde.
FOLHA - Há controvérsia sobre vagas nas escolas e creches.
CARVALHO - Nós criamos, em
quatro anos, 43 mil vagas em
creches. Antes de nós, foram 60
mil desde o padre Anchieta.
Quando o Geraldo diz "vou criar
150 mil vagas", faz-me rir. É ingenuidade ou oportunismo. Ou
ele quer enganar ou está enganado.
FOLHA - O sr. colocou em seu carro
o adesivo "Sou tucano, voto Kassab",
material que o TRE mandou recolher
a partir de ação da campanha de
Alckmin.
CARVALHO - Isso é obscurantismo. Coisa da ditadura. Mandar
apreender material que não
ofende nem distorce a verdade,
mas explicita uma tomada de
posição.
FOLHA - Está preparado para enfrentar o Conselho de Ética?
CARVALHO - Essa ameaça não
vai se concretizar. Não é o
PSDB. Você olha para trás e vê
que já houve até presidente do
partido que apoiou, em eleição
presidencial, candidato de outro partido.
FOLHA - O sr. se refere ao apoio de
Tasso Jereissati a Ciro Gomes em
2002?
CARVALHO - Não estou dizendo
que perdemos a oportunidade
de levar o Tasso ao Conselho de
Ética, embora ache que aquilo
foi inadequado. Não havia motivo além da relação pessoal.
No caso atual, o PSDB está na
prefeitura junto com o DEM,
dando continuidade a uma
aliança histórica. Que elegeu
Fernando Henrique. Que elegeu o próprio Geraldo. O vice é
sempre indicado pelo aliado.
Você não impõe.
FOLHA - O sr. diz isso porque Alckmin declarou que Kassab foi imposto a Serra como vice.
CARVALHO - Ok, Serra não conhecia Kassab. Era um deputado indicado pelo partido aliado.
O Geraldo defendeu o Kassab.
E agora deturpa os fatos. Mesmo que tivesse acontecido como ele diz, tem algum vice mais
leal ao projeto do PSDB, ao Serra? Não. Não vale dizer agora
na propaganda que o Serra foi
muito bem, mas que o Kassab
se afastou do caminho. Quem
pode testemunhar a mentira
dessa conversa somos nós que
estamos lá.
Quando tenta desqualificar a
gestão Kassab, o Geraldo está
atacando a nós, tucanos que tocamos a prefeitura. No início,
ele admitia e elogiava os acertos do Kassab. Depois, bateu o
desespero. Falar do Pitta...
FOLHA - Mas Kassab de fato foi secretário de Celso Pitta.
CARVALHO - Se o problema é
aliança, o Pitta está agora no
PTB, que apóia o Geraldo. E
daí? Vamos fazer escarcéu por
causa disso? O Quércia está conosco. E daí? Quantas vezes ele
foi procurado pelo Geraldo pessoalmente? Isso desqualifica o
Geraldo?
FOLHA - Alckmistas chamam vocês
de "turma do holerite".
CARVALHO - Talvez essa turma
não tenha tido, no governo do
Serra, as oportunidades que teve no governo do Geraldo. E então considera que precisa ocupar a prefeitura. A única forma
de entender esse comentário é
como ato falho.
FOLHA - Alckmin estabeleceu uma
diferença entre "fundadores" e
"afundadores" do PSDB.
CARVALHO - Sou fundador do
PSDB. Mais do que muita gente
que está com ele. Minha ficha
de inscrição é a de número 007.
Afundador é quem viola os valores do partido, desrespeitando alianças e desqualificando
colegas que estão na prefeitura
cumprindo um programa com
ampla aprovação do eleitorado.
Com essa postura ele se desqualifica diante da sociedade.
Fica menor do que a conta em
que o tínhamos.
FOLHA - Depois de tanto tiroteio,
será possível recompor as forças no
segundo turno?
CARVALHO - É inaceitável que o
Geraldo escolha como adversário o Kassab. Ele até elogiou a
Marta e disse que "o Lula tudo
bem". Isso é enganar o povo.
Nosso adversário é o PT. Hoje,
Kassab carrega sozinho a obrigação de combater a Marta,
porque o Geraldo está ocupado
em combater o Kassab. O desgaste das relações pode dificultar a retomada do caminho, no
segundo turno, contra o verdadeiro rival político, que é o PT.
FOLHA - O sr. acredita que Kassab
venha a subir no palanque de Alckmin, ou vice-versa?
CARVALHO - Todo o movimento
indica que Kassab irá ao segundo turno. O nível de aprovação
à administração é significativo
o bastante para se converter
em apoio eleitoral, em voto. Em
2006, o Geraldo perdeu a eleição para presidente porque renegou a administração do Fernando Henrique. Agora vai perder a de prefeito por renegar a
administração da cidade, que é
tucana.
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