São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

Tucano histórico vê perda de compostura em Alckmin

Para ministro da Casa Civil de FHC, atacar Kassab, e não Marta, é "enganar o povo"

Secretário de Governo da prefeitura, Clóvis Carvalho afirma que candidato do PSDB não tem projeto nem moral para fazer críticas


Moacyr Lopes Jr. - 15.set.08/Folha Imagem
Secretário Clóvis Carvalho (esq.), fundador do PSDB, ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM)

RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL

Expoente dos chamados "tucanos da prefeitura", sob ataque de Geraldo Alckmin por apoiarem o prefeito Gilberto Kassab (DEM), Clóvis Carvalho devolve: "Foi ele quem procurou a desunião. É ele quem tem de ser cobrado pelo oportunismo e pela perda de compostura. Não tem moral para se colocar como juiz supremo".
Ex-ministro da Casa Civil e do Desenvolvimento de FHC e hoje secretário municipal de Governo, Carvalho reclama da tentativa de caracterizar como "golpe" a entrada de Gilberto Kassab na chapa de José Serra em 2004 e da oposição, estabelecida por Alckmin, entre "fundadores" e "afundadores" do PSDB -estes, os kassabistas.
"Sou fundador do PSDB. Minha ficha é a de número 007", diz. "Afundador é quem viola os valores do partido." Para Carvalho, 70, "é inaceitável" que Alckmin escolha Kassab como alvo preferencial.
"Ele até elogiou a Marta e disse que "o Lula tudo bem". Isso é enganar o povo. Nosso adversário é o PT." Procurada, a campanha do tucano disse ontem que não iria comentar a entrevista.

 

FOLHA - O PSDB tem um candidato a prefeito e, ao mesmo tempo, comanda a prefeitura em aliança com um candidato de outro partido. A situação é de guerra campal. Havia como evitá-la?
CLÓVIS CARVALHO
- O PSDB tem a obrigação moral de defender esta administração, que é sua. Secretaria de Governo, Planejamento, Saúde, Educação, Participação, Segurança, Esporte, Assistência Social... todas nas mãos de tucanos que estão fazendo um governo essencialmente tucano.
De repente, chega alguém do partido, que foi governador em aliança com o DEM, candidato a presidente com vice do DEM, que participou da negociação para constituir a chapa Serra-Kassab, que defendeu o Kassab.
De repente, esse alguém diz "eu quero ser candidato porque... eu quero ser candidato". Só posso entender como uma postura personalista do Geraldo.

FOLHA - Alckmin argumentou que seria absurdo o PSDB não ter candidato próprio em São Paulo.
CARVALHO
- O interesse público deve prevalecer sobre o partidário. Nós estamos no poder. Não faz sentido a candidatura do Geraldo exclusivamente porque o partido quer. Nem reconheço que o partido queira. É um pedaço do partido que quer.
O Geraldo ficou apenas com a ambição pessoal. Não tem motivo para ser candidato.
Nós lutamos no partido para que isso não acontecesse. Mas não considero que foi um processo totalmente aberto. Nosso grupo, que acreditava na aliança, acabou retirando a chapa.

FOLHA - Foi um erro?
CARVALHO
- Sim. Teria sido a oportunidade democrática de marcar diferenças de posição.

FOLHA - Vocês venceriam?
CARVALHO
- Acredito que sim. E, mesmo que não, o processo democrático teria se dado.

FOLHA - Há algo a fazer agora?
CARVALHO
- Há dois candidatos. O PSDB tem o seu, e o DEM tem o seu, apoiado por tucanos. Mas não era necessário desqualificar os aliados e uma administração feita por gente do partido dele e aprovada pela população. Foi ele quem procurou a desunião. É ele quem tem de ser cobrado pelo oportunismo e pela perda de compostura. Não tem moral para se colocar como juiz supremo.

FOLHA - A campanha de Alckmin considera que, se não apontar os problemas da cidade, nada terá a dizer ao eleitor.
CARVALHO
- Sabe por quê? Porque eles não têm projeto. Se fossem coerentes com as idéias do PSDB, estariam falando as mesmas coisas que nós. Nenhuma outra administração fez tanto pela saúde na cidade de São Paulo quanto esta. Ninguém pôs 20% das receitas líquidas do Orçamento na saúde.

FOLHA - Há controvérsia sobre vagas nas escolas e creches.
CARVALHO
- Nós criamos, em quatro anos, 43 mil vagas em creches. Antes de nós, foram 60 mil desde o padre Anchieta. Quando o Geraldo diz "vou criar 150 mil vagas", faz-me rir. É ingenuidade ou oportunismo. Ou ele quer enganar ou está enganado.

FOLHA - O sr. colocou em seu carro o adesivo "Sou tucano, voto Kassab", material que o TRE mandou recolher a partir de ação da campanha de Alckmin.
CARVALHO
- Isso é obscurantismo. Coisa da ditadura. Mandar apreender material que não ofende nem distorce a verdade, mas explicita uma tomada de posição.

FOLHA - Está preparado para enfrentar o Conselho de Ética?
CARVALHO
- Essa ameaça não vai se concretizar. Não é o PSDB. Você olha para trás e vê que já houve até presidente do partido que apoiou, em eleição presidencial, candidato de outro partido.

FOLHA - O sr. se refere ao apoio de Tasso Jereissati a Ciro Gomes em 2002?
CARVALHO
- Não estou dizendo que perdemos a oportunidade de levar o Tasso ao Conselho de Ética, embora ache que aquilo foi inadequado. Não havia motivo além da relação pessoal.
No caso atual, o PSDB está na prefeitura junto com o DEM, dando continuidade a uma aliança histórica. Que elegeu Fernando Henrique. Que elegeu o próprio Geraldo. O vice é sempre indicado pelo aliado. Você não impõe.

FOLHA - O sr. diz isso porque Alckmin declarou que Kassab foi imposto a Serra como vice.
CARVALHO
- Ok, Serra não conhecia Kassab. Era um deputado indicado pelo partido aliado. O Geraldo defendeu o Kassab. E agora deturpa os fatos. Mesmo que tivesse acontecido como ele diz, tem algum vice mais leal ao projeto do PSDB, ao Serra? Não. Não vale dizer agora na propaganda que o Serra foi muito bem, mas que o Kassab se afastou do caminho. Quem pode testemunhar a mentira dessa conversa somos nós que estamos lá.
Quando tenta desqualificar a gestão Kassab, o Geraldo está atacando a nós, tucanos que tocamos a prefeitura. No início, ele admitia e elogiava os acertos do Kassab. Depois, bateu o desespero. Falar do Pitta...

FOLHA - Mas Kassab de fato foi secretário de Celso Pitta.
CARVALHO
- Se o problema é aliança, o Pitta está agora no PTB, que apóia o Geraldo. E daí? Vamos fazer escarcéu por causa disso? O Quércia está conosco. E daí? Quantas vezes ele foi procurado pelo Geraldo pessoalmente? Isso desqualifica o Geraldo?

FOLHA - Alckmistas chamam vocês de "turma do holerite".
CARVALHO
- Talvez essa turma não tenha tido, no governo do Serra, as oportunidades que teve no governo do Geraldo. E então considera que precisa ocupar a prefeitura. A única forma de entender esse comentário é como ato falho.

FOLHA - Alckmin estabeleceu uma diferença entre "fundadores" e "afundadores" do PSDB.
CARVALHO
- Sou fundador do PSDB. Mais do que muita gente que está com ele. Minha ficha de inscrição é a de número 007.
Afundador é quem viola os valores do partido, desrespeitando alianças e desqualificando colegas que estão na prefeitura cumprindo um programa com ampla aprovação do eleitorado.
Com essa postura ele se desqualifica diante da sociedade. Fica menor do que a conta em que o tínhamos.

FOLHA - Depois de tanto tiroteio, será possível recompor as forças no segundo turno?
CARVALHO
- É inaceitável que o Geraldo escolha como adversário o Kassab. Ele até elogiou a Marta e disse que "o Lula tudo bem". Isso é enganar o povo.
Nosso adversário é o PT. Hoje, Kassab carrega sozinho a obrigação de combater a Marta, porque o Geraldo está ocupado em combater o Kassab. O desgaste das relações pode dificultar a retomada do caminho, no segundo turno, contra o verdadeiro rival político, que é o PT.

FOLHA - O sr. acredita que Kassab venha a subir no palanque de Alckmin, ou vice-versa?
CARVALHO
- Todo o movimento indica que Kassab irá ao segundo turno. O nível de aprovação à administração é significativo o bastante para se converter em apoio eleitoral, em voto. Em 2006, o Geraldo perdeu a eleição para presidente porque renegou a administração do Fernando Henrique. Agora vai perder a de prefeito por renegar a administração da cidade, que é tucana.


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