São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / NA ESTRADA

PC do B racha em palco da guerrilha do Araguaia

Candidato a vereador apóia outra coligação após receber só R$ 50 de ajuda para velório

Partido que comandou a guerrilha na ditadura tem 2 candidatos em Xambioá (TO); em campos opostos, disputam vaga de vereador


HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A XAMBIOÁ (TO)

Do mesmo partido, mas em trincheiras opostas, o assentado do Incra José Edimar Alves dos Santos, o Dida do Caçador, 41, e o pedreiro Aloisio Correa Barbosa, 39, são os únicos candidatos do PC do B em Xambioá. Na cidade, estariam enterrados corpos dos desaparecidos na guerrilha do Araguaia.
Aloisio e Dida são candidatos a vereador. O partido deles comandou a guerrilha entre o final dos anos 1960 e o início dos 70. A repressão militar começou em 1972 e se prolongou por quase três anos na região.
Dida diz que fundou em 2006 o PC do B de Xambioá e se candidatou para defender os trabalhadores rurais. Ele critica a atitude de seu companheiro de partido. É que Aloisio rompeu com as legendas coligadas ao PC do B, pois a candidata a prefeita pelo PDT, Dagma Sousa Lopes Pires, 45, não pagou despesas para ele ir ao velório de um parente em Marabá (PA). "Ela só quis dar R$ 50." Em represália, Aloisio passou a pedir votos para Ione Leite (PP), 68.
Para chegar a Dida, no assentamento Caçador, é preciso percorrer 40 km de estrada precária, sem asfalto, até um ponto, cheio de pedras, onde carro não passa. O ônibus escolar só chega até as pedras. Depois, os estudantes têm de andar até três horas no meio da mata, à noite, para alcançar suas casas no assentamento, criado há dez anos. Iracema Barros Silva, 49, mulher de Dida, diz que "a guerrilha" hoje "é sobreviver no assentamento".
A reportagem encontra Dida assistindo à TV Senado. Ele vê um pronunciamento ao vivo do senador Mão Santa (PMDB-PI). "Gosto de ouvir esse homem. Ele chama o pessoal de Lula de aloprados", comenta.
Sem verba de campanha, Dida diz que visita os assentados de moto. "Sem dinheiro, não é fácil pleitear numa eleição com a corrupção que tem no país." Aloisio, o outro candidato do PC do B, recebe a reportagem entre as mesas vazias na Câmara. Diz que era soldado do Exército em Marabá, onde ouvia falar da guerrilha. Conta que, em 1992, negou-se a servir café a um general, "puxou cadeia" e saiu do Exército.
Em Xambioá, onde foi passar férias, interessou-se "pela bandeira do partido" e defende a criação de um memorial da guerrilha. Sobre Aloisio, Dagma, candidata a prefeita, diz que "o PC do B está envergonhado". "Ele queria dinheiro. Não estava defendendo a bandeira do partido. Dida está."


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