São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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PIAUÍ
Lima, acusado de liderar o crime organizado no Estado, afirma que sabia sobre escuta
Denúncias são "levianas", diz coronel

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Teresina

O coronel reformado da PM José Viriato Correia de Lima, acusado de liderar o crime organizado no Piauí, diz que sabia que seus telefones estavam grampeados e que as acusações contra ele são "levianas".
Lima, 47, que está preso, afirma que fez ameaças de morte ao superintendente da Polícia Federal, Albert Rios, como parte da estratégia para mostrar que tinha força e que havia união entre as polícias Civil e Militar do Estado. A seguir, trechos da entrevista.

Agência Folha - Seu advogado diz que o sr. é 99% inocente e 1% culpado. Por quê?
José Viriato Correia de Lima -
Não sei dizer. Talvez minha única culpa foi ter feito brincadeiras ao telefone após ficar sabendo que havia o grampo. O superintendente da PF estava brigando com o delegado e meu amigo José Wilson. Simulamos brincadeiras e ameaças para deixar o Rios acuado, preocupado com a nossa união. Em outros momentos, nós mostrávamos falta de união.

Agência Folha - As fitas mostram também que o sr. se interessava por armas proibidas.
Lima -
Todas as armas são legais e estão registradas. Não há contrabando. Só vi AR-15 nos quartéis. Estou com pena do Aldísio (dono de uma loja de armas em Teresina, investigado em inquérito e preso ontem), que é um coitado e foi usado no nosso esquema para mostrar ao superintendente que nós estávamos preparados.

Agência Folha - Preparados para o quê?
Lima -
Era guerra psicológica apenas. Nunca feri ninguém.

Agência Folha - O sr. é acusado de usar PMs fardados para praticar extorsão e ameaças contra prefeitos que teriam de comprar notas fiscais frias...
Lima -
Não há notas frias. Tenho irmãos que possuem empresas de dedetização e de venda de material escolar. Eu tenho uma empresa de cobrança. Nunca vi nenhum desses prefeitos. Meus irmãos e outros clientes pediam para eu cobrar. Caloteiro não paga sem a gente apertar. O pessoal cobrava de forma enérgica, dura. Mas sem violência. Se houve violência, a responsabilidade é do Domingão (Francisco Domingos de Souza, gerente da empresa de cobrança, que está foragido).

Agência Folha - E o caso da prefeita de Parambu (CE), em que o sr. determinou que os policiais fossem fardados cobrar dela R$ 35 mil?
Lima -
Uma semana antes, os cobradores foram lá, ela colocou quatro capangas e não pagou. Tem o outro lado também. Os policiais são da fronteira e foram apenas para mostrar onde era a casa da prefeita.

Agência Folha - A PF acusa o sr. de ter matado um de seus funcionários dias depois de ter feito seguro de vida de R$ 600 milhões e deixado como beneficiárias sua mulher e sua filha.
Lima -
A família do rapaz queria fazer um seguro para ele, porque sabia que ele seria assassinado pelo irmão de um outro rapaz que ele matou. Não matei ele para ficar com o seguro.

Agência Folha - Se o sr. é inocente como diz, como conseguiu construir a fama de ser o homem mais temido do Piauí?
Lima -
Todas as missões que tive na PM foram as mais perigosas. Consideram-me um dos melhores homens do Piauí por isso. Estou sendo vítima de complô, de acusações levianas e de inveja. Talvez os próprios acusadores sejam os verdadeiros bandidos.

Agência Folha - O sr. é ligado ao governador Mão Santa?
Lima -
O governador é um bom governador. Tanto que foi reeleito. Sempre fui ligado ao senador Alberto Silva (PMDB). Nunca fui à casa do Mão Santa e lamento que o envolveram.

Agência Folha - O sr. teme ser assassinado?
Lima -
Quem vive nessa terra e não tem medo de morrer é mentiroso. Tenho mais medo de covardia. É uma grande covardia o que estão fazendo comigo.


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