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CRÉDITO OFICIAL
Banco está operando no limite e solicita aporte de recursos por parte do Tesouro para poder atender a município
BNDES avalia que empréstimo a SP é risco
GUSTAVO PATÚ
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Prefeitura de São Paulo, cujo
endividamento já supera os limites fixados pelo programa de ajuste fiscal, correrá riscos futuros se
conseguir do Senado a autorização para tomar um empréstimo
de R$ 494 milhões do BNDES.
A avaliação foi feita pelo próprio presidente do banco, Carlos
Lessa, em exposição aos senadores -que, mais uma vez, adiaram
a decisão sobre o tema.
"Se nós tomássemos um horizonte para a frente de estagnação
da economia e estagnação, por
conseguinte, das receitas da Prefeitura de São Paulo, eu diria que a
carga de juros adicionais que decorre dessa operação vai apertar
muito a existência da prefeitura",
disse Lessa, em audiência na CAE
(Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
Lessa disse ser favorável à operação, destinada à implantação do
sistema integrado paulistano de
transporte de passageiros. Mas
não é só: segundo ele, mesmo que
o empréstimo seja aprovado, o
BNDES não tem condições de liberar o dinheiro agora, pois já está
em seu limite máximo de operações com o setor público -de
45% de seu patrimônio líquido.
A revelação acabou trazendo à
tona um conflito interno do governo federal. Lessa relatou estar
cobrando do Tesouro Nacional
um aporte de recursos para elevar
o patrimônio do BNDES e permitir empréstimos como o pleiteado
pela prefeita Marta Suplicy (PT).
A seu lado, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, explicitou sua
resistência à proposta.
Lessa usou o significado da sigla
da instituição que preside -Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social- para justificar os empecilhos que apresentou à liberação do dinheiro: "O
mais importante, para mim, é o
NDES, mas não posso esquecer
que também sou B".
Levy aproveitou a frase para
praticamente descartar o socorro
ao banco. "O discurso do presidente [Lessa] para o B também
vale para o T. Sou Nacional, graças a Deus, mas também sou Tesouro", disse, referindo-se ao órgão, que, por natureza, zela pela
solidez das contas federais.
Ao final do encontro, a jornalistas, Levy foi mais claro quanto ao
pedido de Lessa: "Isso não está
sendo considerado no momento". Em resumo, trata-se de uma
prefeitura sem condições de contrair novas dívidas pedindo dinheiro a um banco sem condições
de emprestar mais. Mas não foi
exatamente por esse motivo que
os senadores decidiram adiar a
decisão sobre a operação.
A oposição e as bancadas de outras regiões reclamam do que
consideram um tratamento privilegiado ao município de São Paulo -onde a reeleição de Marta
Suplicy é prioridade do governo
em 2004. "Não temos nada contra
São Paulo, mas não podemos
aceitar a política de dois pesos e
duas medidas que o governo está
praticando porque há uma prefeita que o governo quer reeleger",
disse César Borges (PFL-BA).
"Toda vez que há uma questão
do Nordeste, há má vontade."
Para Tasso Jereissati (PSDB-SP), o Senado, se aprovar o empréstimo, estará criando um "precedente perigoso": "Este Senado
não terá mais condições de negar
excepcionalidades", argumentou,
em referência à regra excepcional
que permitirá o aumento da dívida paulistana.
A dívida da prefeitura equivale a
242% de sua receita anual. Pelos
parâmetros do Senado, o limite
para essa proporção é de 120%, e
o ajuste deve ser feito, gradualmente, até 2016. Outros municípios e Estados aproveitaram para
cobrar seus pleitos.
No final da sessão, Almeida Lima (PDT-SE) pediu vista do projeto, o que vai atrasar a votação
em pelo menos uma semana.
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