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ELIO GASPARI
Depois da bala perdida,
a bala petista
Reforma tributária é coisa
a respeito da qual todos
têm opinião e estão dispostos a
fazer tudo para defender seus
interesses, menos ler sobre ela.
Pena, porque quanto menos o
sujeito lê, maior é a tunga que
toma. A ekipekonômica de Lula
se prepara para mais uma reforma tributária no melhor estilo
de Pindorama. Toma mais de
quem não tem para tomar menos de quem tem. Temia-se o
populismo, mas se preservou o
nababismo.
O cidadão tem R$ 1 milhão no
banco e gosta de mover seu dinheiro, indo de fundos de renda
fixa para aplicações cambiais ou
carteiras de ações. Esse pobre
miserável muitas vezes não consegue fazer três refeições por dia
(por falta de tempo). Ele é obrigado a pagar a CPMF a cada
movimento que faz com seu dinheiro. Uma verdadeira injustiça. O mercado é pai e manteve o
doutor Joaquim Levy na ekipekonômica. Ele é o atual secretário do Tesouro e sustenta a necessidade de isentar esses pobres
investidores do pagamento da
CPMF. Nas suas palavras: "A
idéia é o investidor entrar num
ambiente no qual pode se movimentar sem pagar CPMF". Uma
espécie de carro blindado para
proteger o andar de cima do fisco.
O doutor Levy é um sábio.
Quer criar um "ambiente" especial para os investidores. (As
aplicações na Bolsa não pagam
CPMF. As aplicações de injeção
pagam.)
Que tal um "ambiente" para
os desempregados? Ou para os
cheques com os quais os desempregados pagam o colégio de
seus filhos? Ou a saúde dos familiares? Sempre é bom lembrar
que em São Paulo há dois doutores desempregados para cada
analfabeto desocupado.
Dirá o pessoal da ekipekonômica que esse tipo de proposta é
demagógica. Falando francamente, é, porque seria muito difícil fazê-la funcionar. Se fosse
fácil, seria adotada.
Seria fácil fazer funcionar a
proposta do senador Jorge Bornhausen, do PFL, pela qual o
que se venha a pagar de CPMF
possa ser deduzido do que se deva ao Imposto de Renda. Ou a
do senador Tasso Jereissati, do
PSDB, pela qual sempre que a
arrecadação for maior do que a
inflação a alíquota da CPMF cai
0,01%. Diz o doutor Antonio Palocci que essas propostas são
ruins porque reduzem a arrecadação. Poderia informar se o
CPMF-Zero para aplicações financeiras aumenta arrecadação?
A questão está na outra ponta,
na plutofilia. Assim como o demagogo quer arrastar consigo a
patuléia, o plutófilo adora cuidar do alpiste do andar de cima.
O CPMF-Zero é coisa de plutófilo. Surge no momento em que
o PT-Federal perfilha a universalização das taxas de iluminação e de lixo. Elas permitirão aos
municípios que cobrem taxa de
iluminação pública, com base
no consumo residencial, mesmo
em bairros onde iluminação pública não há.
À primeira vista, a plutofilia
de Lula faz parte do pesadelo do
ajuste fiscal. Talvez não. Um sábio que entende de números e de
políticas públicas resume seu
medo: "Você pode muito bem
ter um país com o 1% mais rico
feliz com os rendimentos do capital e os 40% mais pobres encantados com os plásticos do
Bolsa-Escola". Quem estiver no
meio tomará bala petista.
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