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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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RESISTÊNCIA VERDE

Ministra teve reunião no Planalto ontem e terá outra hoje

Insatisfeita, Marina tenta deixar isolamento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do PT, tentou ontem e deve tentar novamente hoje, em reuniões no Palácio do Planalto, sair da posição de isolamento no governo e reconquistar espaço para seu ministério. Apesar de insatisfeita, ela negou que pense em pedir demissão.
Conforme a Folha apurou, Marina considera que já acumulou bons motivos para sair, mas não pode fazer isso por questão de lealdade ao partido e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela sabe que a sua saída teria uma repercussão muito negativa dentro do país e no exterior -que acompanha com bastante interesse a política do Brasil na questão do meio ambiente. A ministra decidiu ficar, mas brigando por suas posições. A ministra vem sendo poupada pelas críticas e manifestações que as ONGs ligadas ao setor fazem contra a atuação do governo Lula. Na avaliação que elas transmitem à própria Marina e à sua assessoria, "ruim com ela, pior sem ela".
Ou seja, as ONGs preferem que a ministra permaneça no cargo, mantendo uma trincheira, do que abra a guarda para alguma pessoa ou algum partido que não esteja comprometido tão profundamente com a causa do meio ambiente.

Derrotas
Marina tem sofrido derrotas no governo desde a posse, em primeiro de janeiro, mas a crise mais recente -e que será debatida com Lula e com um grupo de ministros, hoje, no Palácio do Planalto- diz respeito ao poder da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), que analisa as questões relativas à biotecnologia, como os transgênicos.
A ministra não aceita a proposta do governo, atribuída sobretudo aos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), de que a comissão tenha parecer decisivo e vinculante, submetido a um conselho de ministros.
Na opinião dela e de seus assessores, isso transformaria as decisões em questões meramente políticas e daria superpoderes a Dirceu também nessa área.
Ela defende que os pareceres da CTNBio sejam submetidos às áreas afins: questões de biotecnologia de agricultura, aos ministérios de Agricultura e Meio Ambiente; de saúde, aos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, e assim por diante. Ela quer manter a palavra final, por exemplo, sobre o licenciamento ambiental.

Atropelo
Na semana passada, Marina mandou um recado para Lula, via José Dirceu: o de que não estava satisfeita e que não aceitava ser mais uma vez atropelada numa decisão que diz respeito diretamente ao seu ministério.
Foi por isso que, antes da reunião formal de hoje, Dirceu decidiu ouvir Marina mais uma vez e refletir sobre seus argumentos. Apesar de o ministério ter informado durante toda a tarde de ontem que ela se reuniria às 17h com Lula, a versão à sua saída foi de que o encontro se limitou a Dirceu e a alguns outros ministros.
Sobre a hipótese de deixar o governo, Marina declarou: "Isso não está em discussão. Estou trabalhando muito em projetos estruturais, como era a proposta. Quem foi convidada para uma posição honrosa com essa não abriria esse tipo de discussão. Poderia parecer chantagem".
(ELIANE CANTANHÊDE)


Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


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