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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU
Ex-ministro contesta 24 pontos do relatório apresentado por Júlio Delgado (PSB-MG) ao Conselho de Ética, que pede sua cassação
Relator deturpou depoimentos, diz Dirceu
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Ao apresentar uma defesa com
24 pontos ontem, o deputado José
Dirceu (PT-SP) partiu para o ataque contra o relator de seu processo de cassação, Júlio Delgado
(PSB-MG), acusando-o de distorcer fatos relativos ao processo.
Defendeu também que a prática
do caixa dois seja "exterminada",
mas "sem hipocrisia".
"Não podemos fazer apologia,
temos que exterminar o caixa
dois. Mas não se pode ter hipocrisia. É preciso fazer uma reforma
política, é preciso baratear custos
de campanha", afirmou Dirceu,
durante entrevista coletiva de cerca de duas horas, uma de suas últimas cartadas para tentar evitar a
cassação. Ele apresentou um
"contra-relatório" contestando
em 24 pontos o parecer de Delgado apresentado no Conselho de
Ética e que será votado na próxima semana.
Para o ex-ministro, o relator do
processo "deturpou" uma série de
depoimentos para mostrar que
ele sabia dos empréstimos tomados pelo PT junto ao publicitário
Marcos Valério de Souza. Segundo Dirceu, Delgado "omitiu" e
"editou" depoimentos e "falseou
contradições".
Sorridente e falando pausadamente, Dirceu procurou desfazer
a imagem de arrogância que se
consolidou durante sua passagem
pelo governo -e que pode pesar
muito na votação em plenário.
Prometeu "mudar" ao término
do processo, qualquer que seja a
decisão da Câmara. "Senão, seria
insensível." Afirmou ainda que se
"penitencia" por ter defendido,
em 1994, a cassação do deputado
Ricardo Fiúza (PP-PE) por envolvimento no escândalo dos anões
do Orçamento, mesmo sem provas, porque seria "público e notório" que ele seria corrupto.
Quando questionado a respeito
da prática de financiamento irregular na campanha presidencial
de 2002, que ele coordenou, Dirceu respondeu com uma afirmação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. "O Delúbio deixou claro que,
na campanha em que eu fui coordenador, e ele tesoureiro, não
houve caixa dois." Instado a dizer
se corroborava essa versão, esquivou-se: "É o que o Delúbio Soares
declarou".
"Eu prefiro, como sou réu e estou respondendo a um processo
no Conselho de Ética, reiterar o
que eu falei. Vamos fazer reforma
política, assumir prestação de
contas diárias, reduzir os custos
de campanha", declarou.
Em seguida, lançou artilharia
pesada contra os tucanos -para
o ex-ministro, estes sim, culpados
de caixa dois. "No depoimento do
Claudio Mourão [ex-tesoureiro
tucano em 1998] ele fala que foi
pago para o [publicitário] Duda
Mendonça em Minas Gerais com
caixa dois. Temos a famosa planilha do [ex-ministro Luiz Carlos]
Bresser em 98, o ex-presidente do
Bamerindus [José Andrade Vieira] dizendo que caixa dois era
normal na campanha de Fernando Henrique Cardoso", afirmou.
Mas só o caixa 2 petista é investigado, de acordo com Dirceu.
"Fica todo mundo à beira de um
ataque de nervos quando se fala
em investigar o PSDB. Só tem que
investigar o PT?"
Dirceu voltou a negar que soubesse dos empréstimos contraídos por Delúbio, embora tenha
admitido que, em diversas ocasiões, conversou com o ex-tesoureiro na Casa Civil, inclusive sobre
assuntos do PT. "Não vejo problema nenhum em receber membros da Executiva do meu partido. Conversávamos sobre questões de governo, da bancada do
PT, do partido. Mas eu nunca
soube dos empréstimos", disse.
Ataque ao relator
Em diversos momentos o relator do processo foi alvo do ex-ministro. Ao dizer que é tratado injustamente pela mídia, rebateu
com uma acusação velada. Citou
reportagem do "Correio Braziliense" que diz que Delgado teria
comprado um carro à vista em dinheiro vivo. "Notícia é prova? Se
é, o deputado Júlio Delgado pode
se considerar vítima da opinião
publicada." Aproveitou para criticar a imprensa, dizendo que ela
"faz política o tempo todo".
Depois, ao fazer outra analogia,
afirmou que, se ele deveria saber
dos empréstimos ao PT pela posição que ocupava, então Delgado,
que era líder do PPS na Câmara,
também deveria ter conhecimento do que disse o deputado federal
Miro Teixeira (então no partido),
que denunciou o "mensalão" ao
"Jornal do Brasil" em setembro de
2004. "Por essa lógica, seria impossível ele [Delgado] não saber."
Numa terceira ocasião, ao negar
que o "mensalão" tenha sido pago
a deputados para mudar de partido, disse que o troca-troca sempre foi prática corrente na Câmara. "O próprio relator foi eleito pelo PMDB e passou por PPS e agora PSB."
Dirceu afirmou que se arrepende de ter deixado a direção do PT,
porque muitos dos problemas
poderiam não ter acontecido. Depois se corrigiu: "Eu apenas não,
seria muita pretensão, mas um
grupo de pessoas. Isso criou uma
sobrecarga para os dirigentes que
ficaram. Deveríamos ter agido diferente", disse.
O ex-ministro colocou-se como
vítima de um processo político da
oposição. "A quem interessa me
tirar do Parlamento, me jogar na
ilegalidade? O que o país ganha
com isso?" Ele disse que tem
apoio no PT, mas mostrou-se
compreensivo com a falta de
apoio explícito do Palácio do Planalto. "Imagina se o presidente
Lula toma partido? Seria uma interferência indevida do Executivo
no Legislativo. Por que só me defender e não os outros deputados?
O presidente Lula está na função
correta, ele tem que governar o
Brasil. Eu me defendo sozinho."
(FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO E ADRIANO CEOLIN)
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