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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO
Relatório não encontra sinais de 600 mil revistas pagas para divulgar governo Lula e aponta superfaturamento de mais de 200%
Auditoria do TCU cobra R$ 4,8 mi de Duda
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O TCU (Tribunal de Contas da
União) cobra do publicitário Duda Mendonça a devolução ao erário de R$ 4,8 milhões por serviços
pagos pela Presidência à sua
agência, mas que não teriam sido
prestados ou tiveram preços acima dos praticados no mercado.
Os auditores não encontraram,
por exemplo, nenhum sinal de
metade da edição de 1,2 milhão de
revistas pagas para divulgar o balanço de dois anos do governo Lula. O relatório do TCU aponta ainda superfaturamento de mais de
200% entre as irregularidades encontradas nos contratos de publicidade da Presidência e que envolvem também a Matisse, outra
das três agências que prestavam
serviços ao Planalto. A Matisse é
cobrada a devolver R$ 4,5 milhões
aos cofres públicos, segundo recomendação dos auditores.
A Duda Mendonça & Associados teve o contrato com o Planalto suspenso há dois meses, em decorrência da crise política da qual
é personagem. O relatório da auditoria foi encaminhado à CPI dos
Correios, onde Duda é investigado como o maior beneficiário do
dinheiro do caixa dois do PT. De
acordo com dados da contabilidade paralela do partido, anotados pelo publicitário Marcos Valério de Souza, Duda teria recebido R$ 15,5 milhões. A CPI investiga os contratos de publicidade
com a União e empresas estatais
como uma das possíveis fontes de
recursos para o caixa dois do PT.
No TCU, o relatório chegou a
entrar na pauta de votações da última quarta-feira, mas a decisão
foi adiada a pedido do procurador do Ministério Público junto
ao tribunal, Lucas Furtado. Depois da votação, as agências -assim como funcionários da Secom
(Secretaria de Comunicação e
Gestão Estratégica) e quatro gráficas cobradas a responder solidariamente pelo prejuízo- ainda
terão prazo para se defender.
Pagamento indevido
Uma equipe de auditores do tribunal pesquisou quatro edições
de balanços das ações do governo
(6, 12, 18 e 24 meses) e a produção
de livretos sobre Inclusão Social
encomendados à Duda Mendonça e à Matisse entre agosto de 2003
e maio de 2005. Foram encontradas irregularidades em todos os
serviços. Os pagamentos indevidos somariam R$ 15,7 milhões, o
equivalente a 15% de tudo o que
as duas agências receberam do
início do governo Lula até ontem.
Chamou a atenção do TCU a
concentração dos serviços em
apenas quatro gráficas subcontratadas pelas duas agências. Os auditores foram ao mercado pesquisar preços de impressão "nas exatas especificações" dos serviços
prestados ao Planalto. Os preços
pagos foram de 45,3% a 203,82%
superiores aos maiores valores
cobrados no mercado.
Há casos em que os fornecedores são escolhidos previamente e
os orçamentos das gráficas servem apenas para "cumprir formalidades contratuais". De acordo com os auditores, parte da responsabilidade pelas irregularidades cabe à Secom, comandada então pelo ministro Luiz Gushiken.
A Secom teria autorizado os pagamentos sem a devida comprovação do recebimento do material.
"Tais ocorrências foram possibilitadas pela desorganização da
Secom que, no recebimento e na
distribuição dos materiais, adota
procedimentos totalmente informais", diz o relatório levado à voto pelo ministro Ubiratan Aguiar.
No caso das 600 mil revistas e
600 mil encartes do balanço de
dois anos do governo Lula que o
TCU registra como serviço não
prestado, a auditoria relata que
nota fiscal foi emitida em nome
da Secom "antes mesmo da suposta autorização da secretaria".
Não há indícios de que essas mercadorias tenham circulado.
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