São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

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DIPLOMACIA?

Matilde Ribeiro relativiza frase de Gomes dos Santos sobre "cucarachos"

Ministra vê "deslize" de embaixador

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Encarregada pelo governo brasileiro de combater o preconceito, a ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) classificou como ontem como um "deslize" a declaração do embaixador brasileiro Júlio César Gomes dos Santos, que classificou descendentes latinos de "cucarachos". A repercussão das frases do diplomata suscita uma "reflexão", segundo ela.
"Creio que todos nós que somos figuras públicas, poderemos cometer deslizes em discursos, mas também poderemos ser parte de uma reflexão que contribua para uma maior visibilidade dos grupos e de sua presença na vida dos países de maneira positiva."
A ministra lançou ontem a relatoria de afro-descendentes na OEA (Organização dos Estados Americanos), cujos trabalhos serão parcialmente custeados pelo governo brasileiro. Depois de um breve encontro com o presidente da organização, José Miguel Insulza, ela anunciou a criação de um grupo de trabalho que vai elaborar o texto da Convenção Interamericana contra a Intolerância.
O embaixador usou a expressão "cucarachos" durante uma confraternização com líderes brasileiros em Nova York para comemorar sua despedida do posto, de onde parte para assumir a Embaixada do Brasil na Colômbia, em dezembro. "A maioria dos nossos são ilegais -não para nós, ilegais para eles [americanos]. Se houver uma retaliação, é pior para nós. Deixa os cucarachos lá", disse o embaixador, que desculpou-se publicamente em nota.
As declarações de Santos causaram indignação na Colômbia. Perguntada sobre isso, a ministra Matilde Ribeiro procurou ilustrar um lado bom da história. "Os protestos são sempre bem-vindos porque podem nos levar a uma mudança de posicionamento."
Procurando não se comprometer com declarações fortes, a ministra evitou condenar a nomeação de Santos para a embaixada na Colômbia. Ao responder sobre o assunto, a ministra chegou a relativizar as frases do embaixador, que pertenceriam a um "contexto". "Não teria aqui um posicionamento se é adequado ou não [manter a nomeação], porque não tenho muitas informações dos contextos em que estas questões aconteceram. O que posso aqui afirmar é que o tema gera debate e merece um diálogo mais transparente, mais franco."
A ministra permanece até hoje em Washington, depois de rápida passagem por Nova York no início da semana. Na pauta, encontros com entidades empresarias e organizações civis ligadas ao movimento negro.


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