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DIPLOMACIA?
Matilde Ribeiro relativiza frase de Gomes dos Santos sobre "cucarachos"
Ministra vê "deslize" de embaixador
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Encarregada pelo governo brasileiro de combater o preconceito,
a ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) classificou como ontem como um "deslize" a declaração do embaixador brasileiro Júlio César Gomes dos Santos, que
classificou descendentes latinos
de "cucarachos". A repercussão
das frases do diplomata suscita
uma "reflexão", segundo ela.
"Creio que todos nós que somos
figuras públicas, poderemos cometer deslizes em discursos, mas
também poderemos ser parte de
uma reflexão que contribua para
uma maior visibilidade dos grupos e de sua presença na vida dos
países de maneira positiva."
A ministra lançou ontem a relatoria de afro-descendentes na
OEA (Organização dos Estados
Americanos), cujos trabalhos serão parcialmente custeados pelo
governo brasileiro. Depois de um
breve encontro com o presidente
da organização, José Miguel Insulza, ela anunciou a criação de
um grupo de trabalho que vai elaborar o texto da Convenção Interamericana contra a Intolerância.
O embaixador usou a expressão
"cucarachos" durante uma confraternização com líderes brasileiros em Nova York para comemorar sua despedida do posto, de
onde parte para assumir a Embaixada do Brasil na Colômbia, em
dezembro. "A maioria dos nossos
são ilegais -não para nós, ilegais
para eles [americanos]. Se houver
uma retaliação, é pior para nós.
Deixa os cucarachos lá", disse o
embaixador, que desculpou-se
publicamente em nota.
As declarações de Santos causaram indignação na Colômbia.
Perguntada sobre isso, a ministra
Matilde Ribeiro procurou ilustrar
um lado bom da história. "Os
protestos são sempre bem-vindos
porque podem nos levar a uma
mudança de posicionamento."
Procurando não se comprometer com declarações fortes, a ministra evitou condenar a nomeação de Santos para a embaixada
na Colômbia. Ao responder sobre
o assunto, a ministra chegou a relativizar as frases do embaixador,
que pertenceriam a um "contexto". "Não teria aqui um posicionamento se é adequado ou não
[manter a nomeação], porque
não tenho muitas informações
dos contextos em que estas questões aconteceram. O que posso
aqui afirmar é que o tema gera debate e merece um diálogo mais
transparente, mais franco."
A ministra permanece até hoje
em Washington, depois de rápida
passagem por Nova York no início da semana. Na pauta, encontros com entidades empresarias e
organizações civis ligadas ao movimento negro.
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