São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Carvalho diz que comitê da campanha o avisou do caso

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, disse ontem que foi um funcionário do comitê de campanha da reeleição de Lula quem o informou da prisão de petistas, em São Paulo, com dinheiro para comprar o dossiê contra tucanos. A mesma pessoa, segundo ele, é que teria sugerido que entrasse em contato com Jorge Lorenzetti para obter mais informações. Naquele dia, 15 de setembro, ainda não era público o envolvimento de Lorenzetti no episódio, o que ocorreu apenas três dias depois.
Gilberto Carvalho não quis revelar o nome do funcionário. "Não é um dirigente partidário, é apenas um funcionário do comitê de campanha. Não vou expô-lo", justificou o assessor. O nome de Gilberto Carvalho foi envolvido no episódio do dossiegate a partir da quebra de sigilo telefônico de Jorge Lorenzetti. Ex-analista de risco e mídia da campanha de Lula, Lorenzetti é apontado pela Polícia Federal como o "articulador nacional" da compra do dossiê.
Na análise da quebra do sigilo, a PF descobriu duas conversas telefônicas entre Carvalho e Lorenzetti no dia 15 de setembro, quando foram presos Gedimar Passos e Valdebran Padilha com R$ 1,7 milhão.
A primeira foi pouco depois das 10h da manhã daquela sexta-feira. Quem ligou foi o secretário de Lula. Os dois voltariam a se falar pouco antes das 19h do mesmo dia. Desta vez, é Lorenzetti quem faz a ligação.
Carvalho repudia os ataques da oposição de que ligou para Lorenzetti naquele dia por ter conhecimento das negociações do dossiê. "Eu não sabia do envolvimento do Lorenzetti. Liguei para ele porque o funcionário me sugeriu, já que ele era o responsável pela área de análise de informações", disse.
O secretário de Lula disse estar tranqüilo e seguro quanto a sua atuação no caso. "Eu cumpri meu dever de chefe-de-gabinete, estou tranqüilo. Recebi informações e precisava checá-las antes de repassá-las ao presidente, foi o que fiz."
Segundo Carvalho, o funcionário do comitê da reeleição entrou em contato na manhã daquela sexta-feira. "Ele ligou logo cedo, por volta das 9h30, não sei a hora exata, para dizer "tem uma história de que foram presas duas pessoas que seriam ligadas ao PT, com dinheiro", afirmou, acrescentando que em seguida ele sugeriu que Jorge Lorenzetti poderia ter mais dados sobre o caso.
O chefe-de-gabinete disse não ter estranhado a sugestão de procurar Lorenzetti porque sabia que ele era o responsável pelo setor de análise de informações que poderiam prejudicar a campanha de Lula.
Carvalho estava com Lula na produtora do jornalista João Santana, responsável pelo marketing da campanha reeleitoral, quando recebeu a informação. O presidente gravava programas para a propaganda eleitoral televisiva.
Em seguida, diz ter seguido para o Palácio do Planalto, de onde ligou para Lorezentti. Nessa conversa, o secretário do presidente declarou ter questionado o ex-analista de risco da campanha sobre o que estava acontecendo.
Carvalho diz ter informado Lula do que estava ocorrendo quando ele retornou das gravações. "Disse a ele que tinha uma coisa chata para relatar." A reação do presidente teria sido a seguinte. "Não acredito que isso possa estar acontecendo nesse momento da campanha".
No final da tarde, Lorenzetti ligou para Gilberto Carvalho e passou mais informações sobre a prisão de Gedimar e Valdebran. Segundo Carvalho, depois disso ele não falou mais com Lorenzetti, por prudência e por considerar que já havia cumprido seu papel.


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