São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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"Papel da imprensa não é fiscalizar o poder, é informar"

Presidente afirma que, "para ser fiscal, tem o TCU, tem a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas"

Lula diz que derrubada de helicóptero não muda sua frase de que o Brasil ganhou "cidadania internacional" com a conquista de Rio-2016

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula disse que o papel da imprensa é "informar", e não "fiscalizar" o poder. "Para ser fiscal, tem o TCU, um monte de coisas." Ele falou de política externa e da violência no Rio. (KENNEDY ALENCAR)

 

FOLHA - Quando o Rio foi escolhido para sediar a Olimpíada de 2016, o sr. disse que simbolizava a entrada do Brasil no Primeiro Mundo. A derrubada de um helicóptero não mostra que seu discurso é irrealista?
LULA -
Disse que o Brasil tinha conquistado sua cidadania internacional. E reafirmo. Foi um momento glorioso ter a maior votação na história das Olimpíadas. Não foram escondidos os problemas sociais do Rio.

FOLHA - O sr. assistiu ao filme "Lula, o Filho do Brasil"?
LULA -
Não. Quero sentar com a minha família e ver.

FOLHA - Com financiamento de grandes empresários e ajuda das centrais sindicais na distribuição, não vira propaganda personalista?
LULA -
Se prevalecer, não sei o que fazer. Vou entrar numa redoma de vidro, mandar cobrir e não apareço mais em lugar nenhum. Tem um livro público sobre a minha vida. O cidadão resolve fazer um filme. A única condição que impus foi não ter dinheiro público, e eu não quero que fale do governo. Do governo, só quando acabar.

FOLHA - Nos quase sete anos de governo, a segurança não melhorou. O secretário da Segurança do Rio diz que "o Rio precisa que o governo federal assuma a responsabilidade legal pelo combate à droga".
LULA -
O secretário é figura muito respeitada da Polícia Federal. Em momentos de medo, de insegurança, as pessoas falam qualquer coisa. Converse com o governador [Sérgio Cabral Filho] para ver a parceria que estamos construindo.

FOLHA - O sr. não teme a repercussão negativa entre os judeus do encontro com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?
LULA -
Não estou preocupado com judeus nem com árabes. Estou preocupado com a relação do Estado brasileiro com o Estado iraniano. A gente não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede.

FOLHA - Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, completou um mês na embaixada brasileira fazendo política. Foi longe demais?
LULA -
Só tem um exagero em Honduras. É o golpista.

FOLHA - O sr. diz que a imprensa internacional elogia o Brasil e a nacional puxa para baixo. Nos EUA, Obama apanha da imprensa, e é elogiado na imprensa internacional. Isso não acontece porque a imprensa nacional conhece o país melhor?
LULA -
[Risos] Quisera Deus que fosse verdade. A nacional conhece melhor o país, até porque tem obrigação. Mas, às vezes, vejo comportamento de um setor da imprensa muito ideologizado. Sou amante da democracia e da liberdade de imprensa. A maior alegria que tenho é que leitores, ouvintes e telespectadores são os únicos censuradores que admito nos meios de comunicação. Cada um paga pelo que faz.

FOLHA - A imprensa fiscaliza o poder. O sr. não está incomodado com a imprensa cumprindo o seu papel?
LULA -
Não incomoda.

FOLHA - O sr. disse que tem azia quando lê jornais.
LULA -
Como presidente, nunca fico incomodado. Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar.

FOLHA - A imprensa não tem de ser fiscal do poder?
LULA -
Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais.


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