São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI NA MIRA

PSDB e PFL vão questionar ministro sobre suspeitas de corrupção no governo, mas deixarão sua gestão em Ribeirão Preto para a CPI

Oposição vai mudar tática contra Palocci

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A oposição vai adotar hoje nos dois depoimentos de Antonio Palocci (Fazenda) à Câmara dos Deputados tática diferente da usada na fala do ministro no Senado, na semana passada. Hoje, PSDB e PFL abordarão as acusações de corrupção no governo, mas dizem que deixarão de fora tudo o que se refere ao seu período como prefeito de Ribeirão Preto (SP).
O objetivo é não esvaziar a CPI dos Bingos, que pretende aprovar hoje a convocação de Palocci. No Senado, a oposição evitou tocar no tema corrupção também com o mesmo objetivo. Já o PT mudou o discurso e diz agora não estar mais disposto a aceitar a convocação de Palocci para depor na CPI. O partido quer transformar hoje a possível convocação em convite.
O ministro depõe hoje pela manhã na Comissão de Finanças, em que certamente será inquirido duramente pela oposição a respeito das acusações. Para a tarde, está previsto um depoimento mais técnico, à comissão especial que analisa a proposta de emenda constitucional que cria o Fundeb, quando ele também poderá ouvir perguntas constrangedoras.
"Tudo o que se refere ao período de Palocci como ministro da Fazenda será objeto de nossas perguntas. Seja economia, seja assuntos relacionados à crise ética", declarou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Isso poderá incluir pagamentos da Visanet ao publicitário Marcos Valério de Souza. O dinheiro, segundo a CPI dos Correios, irrigou os cofres do PT. "Não vamos nos ater somente à política macroeconômica", declarou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).
Ficará de fora somente o que estiver ligado às gestões de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto. Pela estratégia dos tucanos e pefelistas, não haverá menção, por exemplo, à suspeita de que dinheiro cubano abasteceu a campanha de Lula em 2002. Segundo Goldman, a oposição não quer correr o risco de esvaziar o depoimento de Palocci à CPI dos Bingos. "A ação de Palocci antes de 2003 vamos deixar para a CPI".
O governo vê como inevitável que se trate do tema corrupção, mas prepara-se para tentar proteger como pode o ministro. "Os ministros do governo Lula nunca se furtaram a responder nada, mas é importante que as comissões não percam seu foco principal", disse o deputado e presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que está tranqüilo, porque o ministro é "muito preparado". "Mas estamos prontos para o embate político com a oposição." Para tentar evitar ataques ferozes na Câmara, Palocci procurou atender nos últimos dias pedido de verbas de peemedebistas como Rosinha Matheus, governadora do Rio, e Geddel Vieira Lima (BA), presidente da Comissão de Finanças e Tributação. O autor do requerimento para a ida de Palocci à comissão é Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliado de Rosinha.

PT muda discurso
Depois de aparentemente jogar a toalha na semana passada, quando percebeu que seria praticamente impossível evitar o comparecimento do ministro à CPI, o PT avalia agora que um convite geraria menos desgaste político a Palocci que uma convocação. A intenção foi expressa pelo senador Tião Viana (PT-AC), que tem servido como ponte entre Palocci e a comissão nos últimos dias.
O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PI), já avisou que não aceita essa hipótese e colocará o requerimento do senador Geraldo Mesquita (sem partido-AC) em votação hoje. O risco de o PT perder é grande. No máximo, avalia a oposição, ele conseguirá um empate de sete a sete. Mas o presidente tem o voto de minerva e Efraim votará pela convocação. "Vai ser convocação, não vai ser convite." Efraim propõe que Palocci vá à CPI até 10 de dezembro.
Tião Viana disse que estava "tentando construir um entendimento" com a oposição para que Palocci só comparecesse à CPI se houvesse "fatos novos". Ele avaliou que o ministro já esclareceu as denúncias que pesam contra ele quando participou de audiência no Senado, na semana passada. (FÁBIO ZANINI e CHICO DE GOIS)

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