São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU

Deputado diz que relator recomendou sua cassação por suposto aval a empréstimos a Valério e agora nega existência desses empréstimos

Dirceu vê "fracasso" e contradição em CPI

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu acusou ontem a CPI dos Correios de ter "fracassado" em suas investigações. Ameaçado de cassação, o deputado petista respondeu irritado ao relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que adiantou que pedirá seu indiciamento no relatório final.
"O relator da CPMI dos Correios tirou conclusões precipitadas, não conseguiu sustentar as acusações e agora quer encobrir o fracasso das investigações levantando novas suposições infundadas", disse Dirceu, por meio de nota da sua assessoria.
Segundo o ex-ministro, Serraglio está promovendo "perseguição política" e baseia sua conclusão em uma contradição. "De forma precipitada, sem considerar as provas em contrário, ele [Serraglio] propôs que eu fosse submetido a processo disciplinar porque teriam me apontado como avalista dos empréstimos feitos pelo senhor Marcos Valério. Agora, ele afirma que os empréstimos não existem", afirmou.
O ex-presidente nacional do PT José Genoino também se manifestou ontem a propósito da declaração de Serraglio à Folha. Ele foi citado como um dos nomes na lista dos indiciados ao fim da CPI.
"Quero dizer, primeiro, que não há decisão da CPI [sobre indiciamento]. Quero também dizer que os empréstimos tomados pelo PT foram legais. Estão registrados na nossa contabilidade, declarada à Justiça Eleitoral", disse Genoino.
Indagado pelos empréstimos não-contabilizados, citados pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, ele respondeu: "Isso não é comigo. Eu nunca tratei disso".
Serraglio não foi localizado para responder às declarações.

Semana decisiva
Dirceu enfrenta uma semana decisiva para salvar seu mandato. Hoje, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deve aprovar relatório que acata em parte recurso do petista, reconhecendo que existe efeito suspensivo sobre o processo enquanto houver recursos. Isso significará que o Conselho de Ética deverá novamente enviar o processo à Mesa Diretora da Câmara. Como o intervalo regimental é de duas sessões entre o envio e a votação em plenário, o destino de Dirceu pode ser decidido apenas na quarta-feira da semana que vem.
Integrantes do Conselho de Ética vão apresentar requerimento em plenário para cancelar o intervalo, mas as chances de aprovação são remotas.
O ex-ministro intensificou ontem sua campanha para escapar da cassação. Ele acredita que lentamente vêm melhorando seus prospectos juntos aos deputados, embora a afirmação seja de difícil verificação.
Hoje, deve começar a ser distribuído aos 513 parlamentares um panfleto de quatro páginas feito por sua assessoria com o título "13 Manipulações no Processo contra José Dirceu". Foram impressos 3.000 exemplares com um resumo da versão do ex-ministro para cada uma das acusações que sofre. Ele reconhece que existiu um "sistema ilegal de financiamento de campanhas eleitorais do PT e de partidos aliados", mas novamente rechaça que tenha tido participação nisso.
O folheto será distribuído também em um ato de apoio a Dirceu marcado para hoje à noite em Brasília, organizado pelo diretório regional do PT, a exemplo de outros que já ocorreram em São Paulo, Rio e Minas Gerais.
Ao mesmo tempo, dois modelos de outdoors estão sendo veiculados por simpatizantes de Dirceu. Um deles, assinado apenas por "Militantes do PT", foi colocado ontem próximo ao aeroporto de Brasília.
Outro modelo deve estrear amanhã em São Paulo, Rio e Brasília. É uma iniciativa do escritor Fernando Morais, que diz ter obtido os espaços gratuitamente de um empresário do ramo de outdoors que é seu amigo.


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