|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo consegue aprovação da CCJ da Câmara à Venezuela
Aval à entrada do país no Mercosul é dado após bate-boca e pressão do PMDB por cargos
ACM Neto, do DEM, diz que ato é "cheque em branco
a um ditador emergente",
e Genoino, do PT, manda
colega se calar na comissão
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de cinco horas de discussão que envolveu até negociações de cargos com o PMDB,
o governo conseguiu ontem na
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara aprovar a constitucionalidade da
entrada da Venezuela no Mercosul. Foram 44 votos da base
aliada a favor e 17 votos contrários do DEM, PSDB e PPS.
O PMDB, para votar a favor
da entrada, pressionou por cargos, em especial na Petrobras,
com uma insistência que fez
outros deputados aliados cogitarem o adiamento da votação.
A questão foi resolvida com
um recado do Planalto: novos
cargos somente depois que
prorrogação da CPMF for
aprovada no Senado. O líder do
governo na Câmara, deputado
José Múcio (PTB-PE), foi pessoalmente à CCJ acalmar o
PMDB, que contribuiu com 13
votos na aprovação do texto e
apenas um contra, do deputado
Nelson Trad (MS).
O líder do DEM, deputado
ACM Neto (BA), acusou o governo de usar "mão forte" para
aprovar o texto na comissão.
Múcio respondeu que comparecia à sessão por sua "responsabilidade" como líder.
A sessão foi bastante conturbada e tensa em alguns momentos, com bate-boca e críticas da oposição ao venezuelano
Hugo Chávez e da base governista ao norte-americano
George W. Bush. A votação,
agora, segue para o plenário da
Câmara e depois para o Senado.
O deputado José Genoíno
(PT-SP), um dos governistas
mais exaltados, chegou a mandar ACM Neto se calar. "Calado. Eu questiono a sua questão
de ordem do jeito que eu quiser
e espero que você aceite democraticamente calado." Completou: "Vamos sair destas preliminares ideológicas vazias."
ACM Neto disse que aprovar
a entrada da Venezuela significava "dar um cheque em branco a um ditador emergente".
O paraibano Efraim Filho
(DEM) criticou o apoio à Venezuela dado por deputados que
foram perseguidos pelo regime
militar brasileiro. "Dói ver
quem sofreu na ditadura defender a agressão contra estudantes na Venezuela", disse.
O deputado Ivan Valente
(PSOL-SP) rebateu, questionando a postura do Democratas e do PSDB. "Quem está aqui
falando em ditadura na Venezuela são os apoiadores da ditadura brasileira", afirmou.
Em tese, a CCJ deveria discutir só os aspectos jurídicos da
adesão da Venezuela ao Mercosul, verificando se o protocolo
está em conflito com a Constituição. Na prática, a base aliada
e a oposição passaram horas
debatendo o mérito da proposta e o governo de Hugo Chávez.
Cada vez que a oposição criticava atos do venezuelano, como a interferência em assuntos
bolivianos, por exemplo, petistas citavam posturas semelhantes adotadas pelos EUA.
Diplomatas do Itamaraty
presentes à sessão comemoraram a aprovação do protocolo,
assinado em julho de 2006.
Apesar da pressa que o governo
imprime à tramitação do caso,
a Venezuela ainda não cumpriu
requisitos técnicos para entrar
no bloco e faltou à última reunião técnica no Itamaraty.
Os ministros Paulo Bernardo
(Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda) defenderam ontem a Venezuela. "Do ponto de
vista comercial é muito vantajoso ter um país com uma economia forte como a Venezuela
no Mercosul. Não tratamos disso como uma questão ideológica", disse Bernardo.
Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
chanceler Celso Amorim defenderam a possibilidade de
reeleição ilimitada que Chávez
quer implantar. Para Mantega,
democracia é questão de "opinião". "A Venezuela é um país
que tem um presidente eleito.
É uma questão de difícil elucidação. Cada um tem uma opinião sobre isso."
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Chávez quer que andinos respeitem o socialismo Índice
|