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PF investigará doação de laranjas ao PT
Polícia pede autorização da Justiça para apurar repasse de R$ 500 mil de empresas que atuariam em esquema de fraude da Cisco
Investigadores suspeitam que a Cisco seja real doadora do dinheiro; os supostos sócios não teriam condições de doar cada um R$ 250 mil
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal pediu autorização à Justiça federal para
abrir um inquérito específico
para investigar por que duas
empresas de laranjas doaram
R$ 500 mil para o PT.
A doação de R$ 500 mil foi
feita por duas empresas da Bahia, a Nacional Distribuidora e
a ABC Internacional, que fariam parte de uma esquema de
fraude em importações que seria controlado pela Cisco. Cada
uma das empresas aparece em
recibos com tendo doado R$
250 mil, conforme a Folha revelou no último domingo.
Os supostos sócios das empresas não teriam condições de
fazer uma doação desse porte,
segundo os policiais. A Nacional, por exemplo, seria controlada por uma pessoa cujos rendimentos em 2006 somam R$
17.493,32 (R$ 1.460 por mês).
A interpretação da PF é que a
Cisco, a maior empresa de rede
de computadores do mundo,
usou as duas empresas de laranja para dar dinheiro ao PT.
Em troca da doação, ainda de
acordo com os policiais, o PT
teria ajudado uma distribuidora da Cisco, a Damovo, a ganhar
um leilão eletrônico da Caixa
Econômica Federal de R$ 9,9
milhões. Para a polícia, a Caixa
mudou um edital para que a
Damovo ganhasse a disputa.
A Caixa diz que o edital não
sofreu mudanças. A Damovo
também nega ter sido beneficiada na disputa. O diretório
nacional do PT informou que o
partido não tem como verificar
se uma empresa que doa está
envolvida em fraudes.
A polícia tem dois tipos de
indícios de que a Cisco é a real
doadora do dinheiro. Um dos
indícios são as conversas telefônicas de dois executivos da
empresa no Brasil.
Carlos Carnevali Júnior, diretor de vendas da Cisco, e Sandra Tumelero, gerente que
atendia a Caixa, foram flagrados falando sobre a doação. Outro indício são os recibos de
doação. Eles foram apreendidos com Marcelo Ikeda, diretor
de vendas da Mude, maior distribuidora da Cisco.
O pedido da abertura do novo inquérito foi feito pela delegada Erika Tatiana Nogueira,
que preside a investigação sobre a Cisco. A investigação não
deve se restringir às doações de
R$ 500 mil. Outras 16 empresas que fizeram doações ao PT
neste ano. O motivo é o valor
elevado que o PT arrecadou
num ano sem eleições. Entre
fevereiro e setembro deste ano,
o partido recebeu R$ 6,22 milhões. O valor é o terceiro
maior da história do partido. Só
perde para 2004 e 2006, anos
eleitorais.
Os policiais trabalham com a
hipótese de que o PT teria criado um novo esquema de arrecadação depois do escândalo
do mensalão. De acordo com
essa hipótese, os doadores usariam laranjas para ficarem impunes no caso de eventuais investigações. O uso de laranjas
teria ainda a vantagem de a empresa não associar sua marca à
suspeita que ronda as doações.
O pedido de abertura de novo inquérito é, na prática, uma
formalidade. Raramente, a
Justiça nega esse tipo de solicitação. O novo inquérito é necessário porque a investigação
sobre a Cisco está focada em
fraudes nas importações. A
empresa é acusada de usar uma
rede de empresas para importar equipamentos com preços
subfaturados em até 75%, o que
teria causado um prejuízo aos
cofres públicos de mais de R$
1,5 bilhão.
O novo inquérito deve investigar os crimes de falsidade
ideológica, sonegação fiscal (as
empresas ABC e Nacional não
teriam capacidade de fazer a
doação), formação de quadrilha e uso de caixa dois.
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