|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acusações do Ministério Público e de corregedorias incluem 11 juízes da Bahia, do Maranhão, do Pará e do Piauí
Magistrados são investigados por fraude
ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA
Juízes de pelo menos quatro Estados (Bahia, Maranhão, Pará e
Piauí) são acusados de participar
de um tipo de fraude pouco conhecida: a concessão de liminares
de substituição de garantias bancárias por títulos podres do governo federal ou pedras preciosas
supostamente falsas.
Há pelo menos 11 juízes investigados pelo Ministério Público ou
pelas corregedorias dos Tribunais
de Justiça. Está sendo apurado se
tiveram vantagem econômica.
Eles negam as acusações.
O esquema funcionaria assim:
pessoas físicas e jurídicas com dívidas de financiamento de carros,
imóveis e empréstimos em bancos entravam com ações de substituição de garantias na Justiça. Às
vezes, nenhuma das partes (requerente ou credor) tinha relação
com a cidade da comarca.
Os juízes então concediam a liminar, substituindo as garantias
bancárias por títulos públicos
sem valor ou pedras preciosas supostamente falsas, muitas vezes
sem nem ouvir o credor, e determinavam que os bens fossem desalienados e que o nome do requerente fosse retirado de cadastros de inadimplentes. Depois,
quando a instituição financeira
ou bancária entrava com recurso,
já era tarde: o bem já havia sido
vendido para terceiros.
No município de Picos, no
Piauí, o juiz Francisco Gomes da
Costa Neto, da 2ª Vara, é acusado
de conceder 44 liminares de substituição de garantias bancárias
por pedras preciosas supostamente falsas em 2001 e 2002. O valor total das ações foi de cerca de
R$ 5 milhões, segundo o Ministério Público.
Nenhum dos requerentes tem
domicílio em Picos nem relação
entre si. Porém, segundo o Ministério Público, oferecem o mesmo
lote de esmeraldas em garantia.
Na maioria dos casos, o juiz
Costa Neto dava a liminar no
mesmo dia ou no dia seguinte.
Em setembro de 2002, a Procuradoria de Justiça entrou com representação contra ele por indícios de formação de quadrilha,
corrupção passiva e ativa e crime
organizado. O TJ abriu uma sindicância. Costa Neto afirma que cabe à parte que se sentir prejudicada entrar com recurso.
De acordo com o Ministério Público do Piauí, o juiz utilizava nas
suas sentenças os mesmos termos
(cópia) de decisões do juiz Luiz
Eduardo de Sousa Neto, das comarcas de Araripina e Exu, em
Pernambuco. O juiz, nascido no
Piauí, nega que tenha havido irregularidades nas suas decisões.
Juízes afastados
No Maranhão, o juiz Sérgio Antônio Barros Batista, da 4ª Vara do
município de Bacabal, também é
acusado pelo Ministério Público
de ter concedido liminares de
substituição da garantia de veículos comprados em outros Estados
por esmeraldas. Seriam cerca de
15 liminares.
Em setembro, ele foi afastado
do cargo e responde a processo
administrativo e judicial. Ele nega
as acusações.
Na Bahia, pelo menos três juízes
foram afastados no ano passado.
No Pará, foram seis.
"Isso não reflete a imagem de
todo o Judiciário do Brasil, mas
sim um momento em que a sociedade está exigindo mais transparência", afirmou o presidente da
seccional Pará da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Ophir
Cavalcante Júnior.
"O Judiciário tem que melhorar
cada vez mais, e, cortando na própria carne, esses exemplos só vão
melhorar sua própria imagem",
completou.
Texto Anterior: Outro lado: Desembargador diz que não teme ser processado Próximo Texto: Outro lado: Acusados negam irregularidades Índice
|