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76% de mata de campeã em desmate vai para pecuária
Ulianópolis (PA) é o município que mais perdeu floresta amazônica para o gado
Ibama estima haver mais de 500 mil bois ilegais nas 36 cidades mais desmatadoras; São Félix do Xingu, no Pará, perdeu a maior área nativa
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mapeamento por radar dos
36 municípios que mais desmatam a Amazônia aponta Ulianópolis (PA) como o que já perdeu a maior parte de sua floresta -76%- para dar espaço à
pecuária. O levantamento feito
pelo Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), a que a Folha teve acesso, desfaz dúvidas
levantadas no início do ano pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em relação às taxas oficiais de desmatamento.
As imagens de radar, ainda
mais precisas que as dos satélites do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), já ajudam o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis)
a localizar criadores de gado em
áreas desmatadas ilegalmente
e que sofreram embargo da atividade econômica.
A estimativa é que haja mais
de 500 mil cabeças de gado em
áreas desmatadas ilegalmente
e que desrespeitaram o bloqueio de produção, disse Flávio
Montiel, diretor de proteção
ambiental do instituto. Segundo ele, entre 20% e 25% das
propriedades autuadas desrespeitaram o embargo. Bois "piratas" podem ser apreendidos.
Tendências do desmatamento na Amazônia foram debatidas na semana passada em seminário em Brasília. O Estado
do Maranhão passou a integrar
o grupo de Estados que mais
abatem a floresta. Lá, o desmatamento está mais associado à
produção de carvão vegetal. Na
fronteira agrícola, o problema
decorre sobretudo do avanço
da pecuária. Pará e Mato Grosso ainda lideram o ranking dos
Estados mais devastadores.
Outra tendência verificada é
de desmatamento em áreas
menores, que fogem do alcance
dos satélites do Inpe, feito supostamente de forma a tentar
burlar a fiscalização. O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) avalia que o cumprimento
das metas de desmatamento, fixadas no Plano Nacional de
Mudanças Climáticas, exigirá
grande esforço. Entre agosto de
2007 e julho de 2008, a Amazônia perdeu quase 12 mil quilômetros quadrados de mata.
"A expansão do desmatamento segue um padrão incontrolável", disse o diretor-geral
do Sipam, Marcelo de Carvalho
Lopes. Os radares do Sipam
rastrearam um território de
cerca de 780 mil quilômetros
quadrados -correspondente à
área dos 36 municípios que registram ritmo mais acelerado
de desmatamento-, entre os
meses de março e outubro. Foram cerca de 350 horas de vôo.
As imagens de radar já foram
repassadas ao Ibama e ficarão
disponíveis para a fiscalização
em Estados e municípios.
Entre os 36 municípios, 7 já
perderam mais da metade de
suas florestas, embora a lei fixe
o limite de desmatamento no
bioma amazônia em 20% das
propriedades. Da lista, São Félix do Xingu (PA) foi o que perdeu a maior extensão de floresta: 13,5 mil quilômetros quadrados, o que corresponde a
16% do território do município,
um dos maiores do Brasil. Esse
número ainda pode aumentar
porque a análise das imagens
ainda não foi concluída. Falta
analisar cerca de 3% do total.
Mais da metade das cidades
da lista (19) é de Mato Grosso. O
governador do Estado, Blairo
Maggi (PR), foi quem mais contestou os dados do Inpe quando
o instituto apontou o aumento
no ritmo do desmatamento na
Amazônia.
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