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Poder de setores que desmatam se reflete nas eleições municipais
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O poder econômico e político
dos desmatadores esteve presente nas eleições dos 36 municípios que mais derrubam a floresta na Amazônia.
Levantamento feito pela Folha a partir de dados do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral)
mostra que 25 prefeitos eleitos
(69%) nesses municípios são
diretamente ligados ou receberam doações de campanha vindas de pessoas e empresas ligadas à agricultura, à pecuária e à
indústria madeireira.
No Pará, Estado campeão do
desmatamento entre agosto de
2007 e julho de 2008, segundo
o Inpe, com 5.180 km2 derrubados, o resultado eleitoral de 10
dentre as 12 prefeituras da lista
(83%) seguiu a regra. Em Mato
Grosso, que teve o maior número de municípios na lista
dos mais desmatados divulgada em janeiro (19), foi possível
identificar a conexão em 14
campanhas vitoriosas (73%).
Em Juína (MT), a eleição do
petista Alcir Peruzzo contou
com a ajuda financeira do madeireiro Osmar Queiróz. Um
dos 124 presos em 2005 pela
Polícia Federal na Operação
Curupira -que desmontou um
esquema de exploração ilegal
de madeira-, Queiróz doou R$
3.000 à campanha de Peruzzo.
Em Lábrea (AM), 52% dos
R$ 106.342 gastos na campanha à reeleição do prefeito
Gean Campos de Barros
(PMDB) vieram de duas doações feitas pelo empresário e
fazendeiro Frederico Scheffer.
Reserva
O fazendeiro atualmente
tenta na Justiça impedir a criação, pelo governo federal, da
Floresta Nacional do Iquiri e da
Reserva Extrativista de Ituxi.
As duas áreas propostas estão
localizadas nos 150 mil hectares que o fazendeiro possui no
município amazonense.
Oito madeireiras doaram o
equivalente a 40% dos custos
da campanha do prefeito reeleito de Paragominas (PA), Adnan Demachki (PSDB). Ao todo, foram 12 depósitos, que somaram exatos R$ 170 mil.
Demachki disse ter recebido
"com orgulho" a ajuda das madeireiras. Segundo ele, todas
têm projetos de exploração legalizados, com planos de manejo. "Eu defendo o que é legal para o município. Uma dessas
madeireiras tem selo verde [a
certificação internacional do
setor]. Outra só usa madeira reflorestada. Então, não vejo o
que contestar".
Peruzzo disse que teve doações de vários setores" em "pequenas quantidades" e que sua
campanha foi "modesta e sem
nenhum comprometimento".
Informado por telefone do
tema da reportagem, o prefeito
reeleito de Lábrea chegou a
marcar um horário para falar à
reportagem, mas depois não
atendeu às ligações.
Scheffer defendeu as doações
feitas a Barros e disse que a vitória dele não o ajuda na ação
judicial que move contra a criação das áreas de preservação. A
advogada de Queiróz não respondeu à reportagem.
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