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AMAZÔNIA
Desmatamentos em Mato Grosso aumentaram 51,9% de 2001 a 2004
Para ONG, soja provoca devastação
ANA PAULA BONI
DA REDAÇÃO
A grande expansão, desde 2001,
do cultivo da soja na região amazônica tornou-se a principal
preocupação de organizações
ambientalistas com o desmatamento da floresta e do cerrado.
Em estudo realizado com a
ONG Amigos da Terra, o ISA
(Instituto Socioambiental) sobrevoou e fotografou, em novembro
de 2004, 31 pontos de desmatamentos de 2003, no Mato Grosso,
verificando que as áreas estavam,
em 2004, ocupadas com soja.
Os locais foram escolhidos a
partir de uma lista dos 65 maiores
desmatamentos de MT, repassada pela Fema (Fundação Estadual
do Meio Ambiente) ao Ministério
Público estadual. Segundo dados
da Fema, cada área escolhida possui cerca de 1.300 hectares. Na década de 90, a taxa de desmatamento da Amazônia foi de quase
dois milhões de hectares por ano
-quase o tamanho de Sergipe,
que é de 2,2 milhões de hectares.
Segundo André Lima, advogado do ISA e um dos autores do estudo, 70% dos locais estão ocupados com agricultura, sendo 55%
com soja e 35% com arroz.
Em pesquisa do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgada na semana passada, o cultivo da soja teve explosão
de crescimento por área plantada
nos anos agrícolas de 2001-2002,
2002-2003 e 2003-2004: no Sul e
Sudeste foi de 39,8%; apenas no
Centro-Oeste, 66,1%.
Neste período, houve aumento
de 51,9% de desmatamentos em
MT. Segundo a Fema, em 2000-2001, 1,22 milhão de hectares foram desmatados no Estado (destes, 40 mil eram legais); em 2002-2003, 1,85 milhão (800 mil legais).
O presidente da Fema, Moacir
Pires, assessor especial do Meio
Ambiente de MT, faz relação entre o aumento de desmatamentos
e a expansão da soja, citando que
a explosão nos últimos três anos
se deu quando a soja estava com
alta cotação. "Soja é igual a garimpo. Conforme sobe o preço do ouro, o pessoal vai pro garimpo."
A pesquisa do Ipea mostra que,
após a mudança cambial de 1999,
com o alto preço do grão e a defasagem que beneficiou a exportação, a soja teve expansão anual
média de 13,8% nos últimos três
anos agrícolas. Nos dez anos anteriores a média foi de 3,6%.
Pesquisadores do Ipea, no entanto, não fazem relação entre
desmatamento e expansão da soja. O argumento é que, para ter
havido uma expansão tão rápida
em um prazo curto, "isso nunca
poderia ter se baseado em abertura de área virgem". O mais provável é que tenha se dado na ocupação de pastagens degradadas.
"Após derrubar a vegetação,
não se consegue produzir nada.
Pode-se levar até dois anos para o
cerrado se tornar produtivo. Imagina só com a floresta amazônica", diz o pesquisador do Ipea
Gervásio Castro de Rezende, professor de economia da Uerj (Universidade Estadual do RJ).
André Lima, do ISA, retruca:
"Sobrevoamos áreas que foram
desmatadas em 2003 e, em 2004,
já havia soja plantada. Agrônomos, não economistas, sobrevoaram e identificaram a mudança".
O professor Edgar Beauclair, da
área de produção vegetal da Esalq
(Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz), da USP, diz que
não é impossível o cultivo de soja
em menos de dois anos em área
desmatada de floresta. No entanto, é difícil e requer investimento.
Beauclair diz que o trabalho é
demorado, pois, quando se desmata, as plantas deixam sementes
que germinam novamente.
"Há possibilidade de retorno,
sim, em dois anos, mas é difícil
conhecer um ambiente novo nesse período", diz Beauclair.
O pesquisador Paulo Galerani,
da Embrapa, acrescenta que o natural é primeiro a ocupação com
pastagem e depois o cultivo de
grão, mas diz que há tecnologia
para ir do desmatamento ao cultivo de soja em menos de dois anos.
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