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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Ministro da Fazenda deve marcar hoje data de sua ida à comissão que investiga os bingos
Sob ameaça de convocação, Palocci decide falar na CPI
CONRADO CORSALETTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Ameaçado de ter a convocação
aprovada para depor na CPI dos
Bingos, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) decidiu
comparecer à comissão. O ministro conversou no sábado com o
senador Tião Viana (PT-AC), integrante da CPI, e disse estar disposto a depor nos próximos dias.
Palocci deverá enfrentar seu
mais duro teste público desde que
assumiu o ministério. Ele usou de
vários artifícios protelatórios e
chegou até a ameaçar que deixaria
o cargo caso tivesse que depor em
uma comissão parlamentar.
As acusações de corrupção foram responsáveis pelo enfraquecimento de Palocci na disputa interna do governo sobre os rumos
da política econômica. A agenda
negativa tira força do ministro para se contrapor a colegas de governo e do PT que vêem excesso
de conservadorismo da pasta.
A oposição, que domina a CPI
dos Bingos, pretende questionar o
ministro sobre questões embaraçosas: o suposto recebimento de
propina da empreiteira Leão Leão
quando ele era prefeito de Ribeirão Preto, o tráfico de influência
de seus assessores no Ministério
da Fazenda e o caso do suposto
transporte de caixas contendo dólares de Cuba para a campanha
presidencial do PT de 2002, ao
qual seus assessores e ex-assessores também estariam ligados.
O presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), deve marcar hoje com o ministro a
data do depoimento. Nas últimas
semanas, Efraim não descartava
convocar Palocci caso ele não
aceitasse o convite.
Segundo o relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN), o fato de Palocci
comparecer espontaneamente
deve "quebrar a tensão" do depoimento. "Cria-se um clima mais
amistoso. Se ele [Palocci] tivesse
se recusado terminantemente a
vir, acredito que o clima seria bem
diferente", disse ele.
Ainda no ano passado, o ministro falou à Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado e à Comissão de Finanças da Câmara.
Apesar de ter falado sobre as denúncias à época, muitos deputados e senadores se recusaram a fazer perguntas sobre as acusações.
Garibaldi disse ainda que pretende saber do envolvimento do
ministro com uma casa em Brasília, montada em 2003, a qual um
de seus ex-assessores admitiu
usá-la para "fazer negócios". Palocci tem negado sistematicamente estar ligado às acusações.
"Amanhã [hoje] devo conversar
com o senador Tião e o próprio
ministro para marcarmos a data,
que deve ser ainda nessa semana", afirmou o presidente da CPI.
Segundo o relator da comissão,
"não há muitas perguntas a fazer"
ao ministro sobre o caso GTech,
no qual a empresa é acusada de irregularidades e pagamento de
propina para a prorrogação de
seu contrato de R$ 650 milhões
com a Caixa Econômica Federal.
"Ele [Palocci] não teve participação direta", afirmou Garibaldi Alves. A CPI deve votar, também
nesta semana, o relatório parcial
do caso, que envolve ex-assessores do ministro.
República de Ribeirão
A oposição pretende explorar,
no depoimento, qual o conhecimento de Palocci sobre a atuação
dos assessores e ex-assessores que
o acompanham desde que ele foi
prefeito de Ribeirão Preto. Palocci
comandou a cidade por duas vezes, de 1993 a 1996 e de 2001 a
2002, quando deixou o cargo para
assumir o Ministério da Fazenda.
Entre os nomes sobre os quais
pesam acusações estão Rogério
Buratti, secretário de Governo na
primeira gestão de Palocci em Ribeirão. Acusado de tentar extorquir dinheiro da GTech para facilitar a renovação do contrato com
a Caixa, Buratti disse em depoimento ao Ministério Público, para que pudesse ser beneficiado pela delação premiada, que Palocci e
seu sucessor, Gilberto Maggioni,
recebiam R$ 50 mil mensais da
Leão Leão, empresa de coleta de
lixo, e repassavam o dinheiro para
o PT usá-lo em campanhas.
Ex-secretário da Fazenda de Palocci em sua segunda gestão em
Ribeirão, Ralf Barquete, morto
em 2004, seria o operador desse
esquema. Buratti afirmou ainda
que foi Barquete quem lhe contou
sobre o suposto recebimento de
dinheiro cubano para o PT.
Outro nome que deve ser explorado no depoimento é o de Ademirson Ariovaldo da Silva, ex-chefe-de-gabinete de Palocci na
prefeitura e, hoje, seu assessor especial. A CPI identificou 1.434 telefonemas entre ele e Vladimir
Poleto, outro ex-secretário de Palocci em sua segunda gestão.
Poleto é suspeito de transportar
caixas contendo os supostos dólares de Cuba, o que ele nega. Ambos dizem que trocaram telefonemas por serem amigos.
O telefone de Ademirson está
registrado em nome do Ministério da Fazenda. Palocci o utiliza
eventualmente. "Precisamos esclarecer os lobbys desses assessores, já no momento do atual governo", disse o relator da CPI.
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