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JANIO DE FREITAS
Depois do plano
Como plano de um governo que prometia mudanças fundamentais, o PAC se mostra tristemente convencional
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OS PLANOS têm um inconveniente: depois deles vem a
execução, e aí às vezes acontecem crateras, quando não tragédia
de dimensão muito maior, como sabe Bush, o portador da democracia a
bala. Além dessa incerteza comum
aos de sua espécie, o plano com que
Lula inicia agora o seu primeiro governo tem pelo menos mais uma, de
igual importância.
Antes, porém, de chegar às duas,
uma observação de outra natureza.
Como plano de um governo que prometia mudanças fundamentais, o
Programa de Aceleração do Crescimento se mostra tristemente convencional, a ponto de que sua única
originalidade passou despercebida
na populosa apresentação: o ministro do Planejamento não entrou no
plano nem para ocupar uma das cadeiras na fila ridícula, posta de frente para a platéia, com as autoridades
do presente e do futuro do programa
-presidente e vice, ministros do Gabinete Civil e da Fazenda, presidentes do Senado e da Câmara e, naturalmente, Marisa da Silva.
A incerteza da execução fica para
mais adiante, porque a outra é menos discutível, ou nem é. Os juros
não figuram no plano, merecedores
apenas de uma ou outra referência
vaga e rapidíssima do presidente e
do ministro da Fazenda. Mas com
juros reais no dobro e no triplo do
adotado pelo mundo afora, o investimento privado necessário ao programa, em grande proporção, fica
para lá de duvidoso.
No pinga-pinga das reduções de
0,25% ou 0,50%, o governo acaba e
os juros não terão chegado a níveis
que interessem ao investimento
produtivo privado. E a parte do governo no programa não parece suficiente para produzir crescimento
econômico à altura desse nome.
Muito menos em relação às carências internas e à comparação com o
crescimento externo.
A outra ordem de incertezas, a da
execução, em grande parte depende
dos responsáveis pela tarefa. Mas o
que se espera nesse sentido, por informações reiteradas de Lula ao
país, é a montagem de um corpo de
ministros segundo os interesses de
seus partidos e bancadas no Congresso. Com espaço privilegiado para o PMDB, como já indicou a operação de compra e venda efetivada entre o próprio Lula e as lideranças das
facções peemedebistas. A capacidade de coordenação reconhecida na
ministra Dilma Rousseff e esperada
do ministro Guido Mantega não se
transfere, como seria necessário, ao
papel executivo de ministros que o
serão para serem políticos muito
mais do que executivos. E conflitar
com um deles pode ser brigar com
um partido.
O sentido
Aqui citado a propósito de declaração feita na segunda-feira passada, o deputado Raul Jungmann faz
saber que queria dizer mais, como
sentido, do que aparentou sua promessa de "renunciar ao mandato se
for encontrado um só centavo de
dinheiro público" em sua conta ou
seu movimento financeiro.
"Mais do que o mandato, o que eu
renuncio é à vida pública", esclarece. "Quero ser investigado, porque
nada se encontrará de dinheiro
desviado ou coisa parecido".
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