São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 2007

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JANIO DE FREITAS

Depois do plano


Como plano de um governo que prometia mudanças fundamentais, o PAC se mostra tristemente convencional

OS PLANOS têm um inconveniente: depois deles vem a execução, e aí às vezes acontecem crateras, quando não tragédia de dimensão muito maior, como sabe Bush, o portador da democracia a bala. Além dessa incerteza comum aos de sua espécie, o plano com que Lula inicia agora o seu primeiro governo tem pelo menos mais uma, de igual importância.
Antes, porém, de chegar às duas, uma observação de outra natureza. Como plano de um governo que prometia mudanças fundamentais, o Programa de Aceleração do Crescimento se mostra tristemente convencional, a ponto de que sua única originalidade passou despercebida na populosa apresentação: o ministro do Planejamento não entrou no plano nem para ocupar uma das cadeiras na fila ridícula, posta de frente para a platéia, com as autoridades do presente e do futuro do programa -presidente e vice, ministros do Gabinete Civil e da Fazenda, presidentes do Senado e da Câmara e, naturalmente, Marisa da Silva.
A incerteza da execução fica para mais adiante, porque a outra é menos discutível, ou nem é. Os juros não figuram no plano, merecedores apenas de uma ou outra referência vaga e rapidíssima do presidente e do ministro da Fazenda. Mas com juros reais no dobro e no triplo do adotado pelo mundo afora, o investimento privado necessário ao programa, em grande proporção, fica para lá de duvidoso.
No pinga-pinga das reduções de 0,25% ou 0,50%, o governo acaba e os juros não terão chegado a níveis que interessem ao investimento produtivo privado. E a parte do governo no programa não parece suficiente para produzir crescimento econômico à altura desse nome. Muito menos em relação às carências internas e à comparação com o crescimento externo.
A outra ordem de incertezas, a da execução, em grande parte depende dos responsáveis pela tarefa. Mas o que se espera nesse sentido, por informações reiteradas de Lula ao país, é a montagem de um corpo de ministros segundo os interesses de seus partidos e bancadas no Congresso. Com espaço privilegiado para o PMDB, como já indicou a operação de compra e venda efetivada entre o próprio Lula e as lideranças das facções peemedebistas. A capacidade de coordenação reconhecida na ministra Dilma Rousseff e esperada do ministro Guido Mantega não se transfere, como seria necessário, ao papel executivo de ministros que o serão para serem políticos muito mais do que executivos. E conflitar com um deles pode ser brigar com um partido.

O sentido
Aqui citado a propósito de declaração feita na segunda-feira passada, o deputado Raul Jungmann faz saber que queria dizer mais, como sentido, do que aparentou sua promessa de "renunciar ao mandato se for encontrado um só centavo de dinheiro público" em sua conta ou seu movimento financeiro.
"Mais do que o mandato, o que eu renuncio é à vida pública", esclarece. "Quero ser investigado, porque nada se encontrará de dinheiro desviado ou coisa parecido".


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