São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

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Militares argentinos usaram Brasil de base

Antes da chamada Operação México, eles passaram no Rio; grupo tinha contato no Ministério da Agricultura

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Um grupo de militares e guerrilheiros argentinos que tinha a missão de se infiltrar em uma célula "montonera" no México esteve no Rio de Janeiro em janeiro de 1978 e tinha um contato dentro do Ministério da Agricultura para evitar problemas com a polícia, segundo documentos liberados pelo Arquivo de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
A informação foi dada por Tulio Valenzuela, integrante do Exército Montonero (maior organização guerrilheira da Argentina) à imprensa mexicana em janeiro de 1978.
Segundo documento dos EUA, Horacio Campiglia também era um montonero. Campiglia é um dos desaparecidos que motivaram a Justiça italiana a expedir 139 mandados de prisão contra pessoas ligadas a outra operação, a Condor (aliança dos militares do Cone Sul para combater opositores).
Na chamada Operação México, um acordo possibilitou que Valenzuela e militares passassem pelo Brasil sem temer a polícia. Valenzuela cita um contato, Ricardo Bastos Huerta, que estaria lotado no Ministério de Agricultura brasileiro. Não foi preciso ativar Huerta. Um dia depois de chegarem ao Rio, seguiram à Guatemala, última escala antes do México.

Militares
À imprensa mexicana Valenzuela denunciou a presença de quatro agentes argentinos, que tentariam se infiltrar e destruir a célula montonera no México, a maior fora da Argentina.
A denúncia permitiu que a polícia mexicana localizasse os três militares e um montonero colaborador, que acabaram deportados. Valenzuela foi morto naquele mesmo ano ao regressar à Argentina para participar de atentados montoneros durante a Copa do Mundo.
A transcrição da denúncia de Valenzuela à imprensa detalha como ele foi cooptado pelo Exército argentino para colaborar na Operação México. Ele foi preso em Mar del Plata com a mulher grávida e o filho de um ano, que ficaram de reféns para que aceitasse colaborar.
O próprio general Leopoldo Galtieri, que comandava o 2º Corpo do Exército e em 1981 assumiria a Presidência argentina, conversou com Valenzuela sobre a operação, segundo o montonero. Mas a Operação México falhou. Uma vez no país, Valenzuela, apesar de ter a família refém, foi à imprensa. A polícia conseguiu prender o tenente Daniel Amelong e o montonero Carlos Laluf, que colaborava com a operação.
Os dois outros participantes da operação, Ruben Farias e Jorge Cabrera, se refugiaram na embaixada da Argentina. Mas, com base em depoimentos de Amelong e Laluf, admitindo ser correta a denúncia de Valenzuela, a Direção Federal de Segurança do México determinou em 21 de janeiro de 1978 a expulsão dos quatro.
Ao contrário de governos sul-americanos da época, o México era uma democracia e não participava da Operação Condor. "Esses grupos operativos [do Exército argentino], a mim o manifestou o próprio general Galtieri, ocorrem à margem do governo mexicano, enquanto no Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia têm pleno acordo das Forças Armadas desses países", disse Valenzuela.
A Operação México está sendo investigada na Argentina dentro da chamada causa "Quinta de Funes", centro de detenção ilegal onde Valenzuela e a família foram presos.


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