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Militares argentinos usaram Brasil de base
Antes da chamada Operação México, eles passaram no Rio; grupo tinha contato no Ministério da Agricultura
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Um grupo de militares e
guerrilheiros argentinos que tinha a missão de se infiltrar em
uma célula "montonera" no
México esteve no Rio de Janeiro em janeiro de 1978 e tinha
um contato dentro do Ministério da Agricultura para evitar
problemas com a polícia, segundo documentos liberados
pelo Arquivo de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
A informação foi dada por
Tulio Valenzuela, integrante do
Exército Montonero (maior organização guerrilheira da Argentina) à imprensa mexicana
em janeiro de 1978.
Segundo documento dos
EUA, Horacio Campiglia também era um montonero. Campiglia é um dos desaparecidos
que motivaram a Justiça italiana a expedir 139 mandados de
prisão contra pessoas ligadas a
outra operação, a Condor
(aliança dos militares do Cone
Sul para combater opositores).
Na chamada Operação México, um acordo possibilitou que
Valenzuela e militares passassem pelo Brasil sem temer a polícia. Valenzuela cita um contato, Ricardo Bastos Huerta, que
estaria lotado no Ministério de
Agricultura brasileiro. Não foi
preciso ativar Huerta. Um dia
depois de chegarem ao Rio, seguiram à Guatemala, última escala antes do México.
Militares
À imprensa mexicana Valenzuela denunciou a presença de
quatro agentes argentinos, que
tentariam se infiltrar e destruir
a célula montonera no México,
a maior fora da Argentina.
A denúncia permitiu que a
polícia mexicana localizasse os
três militares e um montonero
colaborador, que acabaram deportados. Valenzuela foi morto
naquele mesmo ano ao regressar à Argentina para participar
de atentados montoneros durante a Copa do Mundo.
A transcrição da denúncia de
Valenzuela à imprensa detalha
como ele foi cooptado pelo
Exército argentino para colaborar na Operação México. Ele
foi preso em Mar del Plata com
a mulher grávida e o filho de um
ano, que ficaram de reféns para
que aceitasse colaborar.
O próprio general Leopoldo
Galtieri, que comandava o 2º
Corpo do Exército e em 1981 assumiria a Presidência argentina, conversou com Valenzuela
sobre a operação, segundo o
montonero. Mas a Operação
México falhou. Uma vez no
país, Valenzuela, apesar de ter a
família refém, foi à imprensa. A
polícia conseguiu prender o tenente Daniel Amelong e o montonero Carlos Laluf, que colaborava com a operação.
Os dois outros participantes
da operação, Ruben Farias e
Jorge Cabrera, se refugiaram
na embaixada da Argentina.
Mas, com base em depoimentos de Amelong e Laluf, admitindo ser correta a denúncia de
Valenzuela, a Direção Federal
de Segurança do México determinou em 21 de janeiro de 1978
a expulsão dos quatro.
Ao contrário de governos sul-americanos da época, o México
era uma democracia e não participava da Operação Condor.
"Esses grupos operativos [do
Exército argentino], a mim o
manifestou o próprio general
Galtieri, ocorrem à margem do
governo mexicano, enquanto
no Brasil, Uruguai, Paraguai e
Bolívia têm pleno acordo das
Forças Armadas desses países",
disse Valenzuela.
A Operação México está sendo investigada na Argentina
dentro da chamada causa
"Quinta de Funes", centro de
detenção ilegal onde Valenzuela e a família foram presos.
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