São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Foco

Crítico da transgenia, MST planta soja com alteração genética em assentamento

Jean Pimentel/Agência RBS
Blitz policial próxima ao assentamento onde MST faz seu encontro nacional, em Sarandi

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SARANDI (RS)

No assentamento gaúcho Novo Sarandi, considerado simbólico para o MST e escolhido como palco da comemoração de 25 anos da organização, reina a soja transgênica Roundup Ready -fabricada pela Monsanto-, plantada em milhares de hectares.
"Não é um assentamento modelo por causa dessa contradição da soja transgênica", afirma Cedenir Oliveira, dirigente nacional do MST. O movimento é uma das vozes mais duras contra os alimentos geneticamente modificados e já realizou protestos contra a Monsanto no país.
No Novo Sarandi -considerado especial pelo MST por ser um assentamento criado na primeira área invadida pelo movimento, em 1984-, a soja reproduz o modelo de agronegócio que o discurso dos sem-terra sempre combateu: manipulação genética, uso intensivo de defensivos agrícolas e royalties para a multinacional.
A maior parte das 130 mil sacas colhidas anualmente tem a marca Monsanto. A dificuldade de encontrar sementes convencionais competitivas na região foi apontada como causa da expansão da transgenia no assentamento, segundo agricultores relataram à Folha.
No assentamento, o capitalismo convive com a utopia socialista. Das 450 famílias que vivem no local, 13 têm um modelo próprio. A produção é inteiramente coletiva e os moradores vivem numa agrovila sustentada por um modelo de diversificação da produção e divisão do lucro segundo as horas de trabalho dedicadas por cada morador.
Na Cooptar, a cooperativa dos 13, há um pequeno frigorífico e, além de culturas de subsistência, são produzidos carne, leite, milho e soja convencional (as sementes vêm do PR). Descontadas as despesas, sobra cerca de R$ 500 por mês para cada morador.
Os agricultores que usam a semente transgênica dizem que, por não serem de uma cooperativa, não têm condições de, sozinhos, comprar a semente do Paraná.

Itaipu
Sem permitir que jornalistas assistam às plenárias do encontro nacional do MST em Sarandi, um dos membros da direção nacional chamou ontem o Tratado de Itaipu de "roubo vergonhoso". "Os acordos foram feitos por ditaduras corruptas. Foi um roubo em relação ao Paraguai dos mais vergonhosos, é um roubo institucionalizado, porque o preço é injusto e não permite que eles negociem a energia", disse Egídio Brunetto.
Firmado em 1973, o tratado estabelece que os paraguaios vendam ao Brasil o excedente da energia produzida na usina como meio de pagar metade da dívida global pela construção, de US$ 19,6 bi.


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