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Ministro do STJ diz que Arruda o procurou
Fernando Gonçalves afirma que, após receber processo da Caixa de Pandora, chefe da Casa Civil de Aécio também tentou contatá-lo
"Fiz a contragosto, não por prazer. Apesar de a imprensa gostar da decisão de prender, eu nunca fui de mandar prender", afirma ministro
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Avesso a jornalistas e agora
famoso pela prisão preventiva
do governador José Roberto
Arruda (DF), o ministro Fernando Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça),
disse que foi procurado por Arruda pessoalmente e pelo governo de Minas Gerais, por telefone, depois de receber o processo da Operação Caixa de
Pandora, que estava em segredo de Justiça.
"O processo era sigiloso, não
sei como vazou", disse. "Devia
ter mais coisa no ar do que
avião", acrescentou à Folha
ontem, citando o chefe da Casa
Civil de Minas, Danilo de Castro, como autor do telefonema.
Ouvido pela Folha, Castro
disse que não se lembrava da ligação. Os advogados de Arruda
não foram localizados.
Gonçalves, que irá se aposentar em abril, quando completa
70 anos, vota em Brasília, afirma que magistrado não decide
por clamor da opinião pública e
que a prisão de Arruda não foi
fácil: "Fiz a contragosto, não foi
por prazer".
FOLHA - No despacho para prender
Arruda, o sr. afirma que a prisão preventiva era "imprescindível". Por
quê?
FERNANDO GONÇALVES - Não fiz da
minha cabeça, da minha vontade, foi um pedido do procurador-geral da República. Houve
apreensão de dinheiro, confissão de quem levava dinheiro,
pessoas ligadas ao governador
que teriam feito a negociação. A
prisão foi para que não se frustasse a instrução criminal.
FOLHA - O sr. foi implacável?
GONÇALVES - Fiz a contragosto,
não por prazer. Apesar de a imprensa gostar da decisão de
prender, nunca fui de mandar
prender.
FOLHA - E quanto aos vídeos com
políticos e empresários recebendo
dinheiro?
GONÇALVES - Não vi, só na televisão. Tenho a degravação dos
áudios, que são de 2006, e isso é
suficiente.
FOLHA - Em sendo da época da
campanha, pode ser caixa dois, prática generalizada no país?
GONÇALVES - Não diria que só
são de campanha, não, porque
presume-se que há coisas posteriores. Mas, para mim há uma
única expectativa: no dia 20 de
abril eu saio.
FOLHA - E sai com uma vitória de
12 a 2 no plenário do STJ. Isso foi fator condicionante para a decisão do
ministro Marco Aurélio Mello (STF)
contra o habeas corpus de soltura de
Arruda?
GONÇALVES - A dúvida foi se era
possível fazer a prisão sem a autorização da Câmara Legislativa [do Distrito Federal]. Quatro
ministros foram vencidos, houve a votação do mérito e, depois, o ministro Marco Aurélio
esclareceu que um dispositivo
da Lei Orgânica foi considerado
inconstitucional pelo Supremo. Ou seja: não precisa ouvir a
Câmara.
FOLHA - O que o sr. pensou ao receber o pedido de prisão?
GONÇALVES - Estou muito calejado, como esses motoristas
que dirigem à noite daqui até
Belo Horizonte. Não quero dizer que sou uma pessoa fria, e é
lógico que você não vai receber
um pedido desses prazerosamente, mas cada um tem que
cumprir seu dever. Quando tomo uma decisão, me coloco naquele lugar do vencido, não do
vencedor. Preferiria que não tivesse caído para mim. Não gosto de ficar exposto.
FOLHA - O sr. sofreu pressão dos
seus conterrâneos? Arruda e Paulo
Octávio são mineiros.
GONÇALVES - O Arruda veio aqui
e pediu para falar comigo, dizia
que havia um processo contra
ele. Foi logo no início, antes de
toda e qualquer providência.
Eu o conheço. Ele veio, ficou
sentado aí [apontando o sofá].
O processo era sigiloso, não sei
como vazou.
FOLHA - O que o sr. lhe disse?
GONÇALVES - Que tinha sido distribuído para mim, que estava
tramitando sigilosamente, que
não tinha conhecimento dos fatos e que não poderia adiantar
nada. O processo tinha sido distribuído, mas não tinha chegado. Não sei se a operação vazou.
Devia ter alguma coisa no ar
além de avião.
FOLHA - O Durval Barbosa, delator
do mensalão, disse que Arruda iria
falar com Aécio para pedir ao sr. que
o recebesse. Aécio falou algo?
GONÇALVES - A Socorro [secretária do ministro] disse que o
chefe da Casa Civil, Danilo de
Castro, havia ligado para mim.
Mas isso é muito normal. Sou
muito amigo dele e do Aecinho,
mas nem falei com ele. Quando
ele ligou, Arruda já tinha vindo.
FOLHA - A prisão preventiva de um
governador aproxima o Judiciário
da opinião pública?
GONÇALVES - Não pensei nisso,
só fiz o meu papel. Eu não posso deixar a opinião pública me
induzir contra a minha consciência. Não à prisão por clamor popular!
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