São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2000


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ADMINISTRAÇÃO
Após queda de nomeado por Paulo Maluf e automação do estacionamento, receita sobe até 107%
Sem malufista, Anhembi arrecada mais

KENNEDY ALENCAR
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local


A arrecadação do estacionamento da Anhembi em São Paulo aumentou cerca de duas vezes após a saída de Ricardo Lopes Castello Branco, nomeado por Paulo Maluf para presidir a empresa.
No primeiro bimestre de 99, quando Castello Branco dirigia a Anhembi, o estacionamento recebeu 48.490 veículos e gerou uma receita de R$ 472 mil.
No primeiro bimestre deste ano, com um novo sistema de cobrança (automação), o estacionamento recebeu 80.809 veículos e arrecadou R$ 844 mil, mostram documentos obtidos pela Folha.
O acréscimo de veículos foi de 67%. O de receita, 56%. Essa é a comparação mais favorável à gestão de Castello Branco em relação à atual, de Américo Calandriello. Como a automação só aconteceu em junho de 99, os únicos dados que podem ser cruzados são os do primeiro bimestre.
"Adotamos transparência e os dados estão disponíveis na Junta Comercial", declarou AméricoCalandriello, em referência a parte da documentação.

Duplicação
A rentabilidade do estacionamento, no entanto, mais do que duplicou se forem incluídos no balanço do primeiro bimestre os números do Carnaval, que neste ano aconteceu em março. No ano passado, o Carnaval, evento que eleva a ocupação do estacionamento, ocorreu em fevereiro.
Com o Carnaval, o número de veículos do primeiro bimestre de 2000 subiria de 80.809 para 93.701 (93% a mais em comparação com os 48.490 do primeiro bimestre de 99). A receita saltaria para R$ 978 mil -acréscimo de 107% em relação ao primeiro bimestre de 99, quando se arrecadou R$ 472 mil.
De acordo com a empresa, o valor do estacionamento em 99 e neste ano se manteve igual: R$ 10 por carro.
A taxa de ocupação da Anhembi para eventos, porém, vem diminuindo, o que torna o aumento de veículos e de arrecadação ainda mais significativo em termos proporcionais.
Segundo a direção da Anhembi, a previsão de taxa de ocupação para feiras e eventos neste ano é de 66%. A empresa tem perdido clientes para o Center Norte e o Via Funchal. Nos anos anteriores, o índice de ocupação variava de 80% a 90%.
Apesar disso, a própria empresa está prevendo um recorde de arrecadação no estacionamento para 2000, estimando que o número de veículos superará a casa de um milhão no ano. Em 99, o total de veículos foi de 725 mil.

Nicéa Pitta
Os dados levantados podem reforçar as acusações que Nicéa Pitta fez ao apontar um suposto esquema de corrupção na administração paulistana envolvendo seu ex-marido, o prefeito Celso Pitta, o ex-prefeito Paulo Maluf e outras figuras do malufismo, como Flávio Maluf e Castello Branco, que deixou o Anhembi em abril do ano passado.
Castello Branco foi demitido por Pitta. A Prefeitura de São Paulo detém 90% das ações da Anhembi, uma empresa de economia mista.
Segundo Nicéa, Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, e Castello Branco tiveram conversas com Pitta a respeito da automação do estacionamento, sempre se recusando a fazê-la, apesar de o expediente propiciar uma melhor controle da arrecadação.
A documentação levantada pela Folha revela ainda que o Conselho de Administração da Anhembi vinha cobrando a automação do estacionamento, pelo menos, desde 1996, ano em que Maluf era prefeito. Atas de reuniões do conselho deixam claro que havia uma batalha para que o estacionamento fosse automatizado.
Em maio de 97, o conselho pediu esclarecimento sobre o sistema de controle e de coleta de dinheiro, que ocorria por meio de boletos.
Em agosto do mesmo ano, os conselheiros perguntaram que destino receberam catracas que foram adquiridas, mas nunca instaladas. Durante todo o ano de 98, a automação do estacionamento esteve prioritariamente na pauta de todas as reuniões do conselho. As reuniões aconteciam, em média, a cada 60 dias.
Em março de 98, Castello Branco respondeu que estava ""estudando duas opções" de automação. Em setembro, o conselho acusou morosidade no processo.
Em março de 99, diante da insistência do conselho, Castello Branco disse ""tentava uma parceria para realização do projeto".

Sindicância
Em maio do ano passado, logo após a queda de Castello Branco, o conselho pediu uma sindicância para apurar responsabilidade por eventuais danos que a Anhembi podia ter tido devido à paralisação da automação.
Em fevereiro deste ano, o conselho indagou a direção da Anhembi sobre o desempenho do estacionamento.
Recebeu a informação de que em janeiro o movimento dobrara em relação ao mesmo período do ano passado.
O Ministério Público desconfia que existia na Anhembi um esquema que permitia a maquiagem para diminuir o número de veículos e, por consequência, a receita do estacionamento.
A promotoria trabalha com denúncias de uso de tíquetes duplicados, para supostamente camuflar a arrecadação.
""Esses dados aumentam a suspeita a respeito do esquema montado na Anhembi. A diferença demonstra que algo de errado acontecia e que isso precisa ser apurado", disse o promotor José Carlos Blat, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).


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